André Azevedo Alves
O Partido Trabalhista radicalizou o
discurso anti-austeridade e as suas propostas igualitaristas. Acabou por
registar o pior resultado em 50 anos. Foi o preço da rejeição da herança de
Toni Blair.
Em 1980, Arthur Seldon, uma
das principais figuras na difusão de ideias liberais no Reino Unido no Séc. XX
através do seu trabalho no Institute of Economic Affairs, fez três previsões arriscadas: “China will go
capitalist. Soviet Russia will
not survive the century. Labour as we know it will never rule again.”. Com
a terceira previsão, Seldon pretendia vincar que o clima intelectual havia
mudado de tal forma no Reino Unido que só um novo Partido Trabalhista poderia
aspirar a voltar a governar. As décadas seguintes – e em especial a profunda
reconversão do Labour sob a liderança de Tony Blair – pareciam dar razão
a Seldon.
A avaliação da
sustentabilidade da previsão de Seldon podia no entanto ter mudado com as
eleições desta semana no Reino Unido. De facto, sob a liderança de Ed Miliband
o Partido Trabalhista atingiu patamares de radicalização que já não se viam
desde há quase meio século. O discurso frontalmente “anti-austeridade” e as propostas
igualitaristas e demagógicas de Miliband valeram-lhe inclusivamente a
designação de “Red Ed”. Ameaçando a previsão de Seldon, até ao dia 7 de Maio a
possibilidade de David Cameron ser derrotado pelo Red Ed parecia bem real,
embora o Partido Trabalhista nunca tenha descolado nas sondagens.
Neste contexto a exit poll
que apontava para a vitória dos conservadores, ainda que a alguma distância de
uma maioria, caiu como uma bomba. Muitos apressaram-se a garantir que só podia
estar errada. E a verdade, como se confirmou depois de contados os votos, é que
estava mesmo errada, mas em sentido contrário, já que o Partido Conservador não
só ganhou como garantiu uma maioria absoluta. O choque foi tão grande que
alguns dos principais jornais portugueses optaram por quase ignorar a notícia, certamente para poupar os seus
leitores.
Além de proporcionarem uma
vitória com maioria absoluta do Partido Conservador e uma derrota clara do
Partido Trabalhista, as eleições arrasaram o Partido Liberal-Democrata.
Curiosamente, apesar de ter feito parte da coligação de governo, os
liberais-democratas foram sempre cépticos e reticentes relativamente à
contenção da despesa pública, distanciando-se sempre que possível da
“austeridade” dos conservadores. O resultado não foi famoso: redução de 23%
para menos de 8% dos votos a nível nacional e perda de 49 dos 57 lugares que o
Partido Liberal-Democrata tinha no Parlamento.
Outro dos grandes derrotados
da noite foi uma das figuras mais destacadas da extrema-esquerda britânica e
europeia: George Galloway [foto], que perdeu o seu lugar em Bradford. Galloway, cuja
retórica inflamada só encontra paralelo na repugnância da sua mensagem,
manteve-se fiel ao seu estilo e, na hora de reconhecer a derrota, achou por bem
culpar os racistas e os sionistas pela sua derrota.
Por último, também o United
Kingdom Independence Party foi incapaz de atingir os objectivos traçados em
termos de representação parlamentar. Apesar de ter sido o partido que mais
subiu em apoio eleitoral a nível nacional relativamente às últimas eleições
parlamentares (de 3% para mais de 12%) o UKIP elegeu apenas um deputado sendo
inclusivamente incapaz de fazer eleger o seu líder Nigel Farage. A estratégia
do Partido Conservador para conter o seu crescimento foi assim bem-sucedida,
ainda que os quase 4 milhões de votos no UKIP não possam ser ignorados e
aumentem a pressão para que o Reino Unido adopte uma posição mais dura
relativamente à União Europeia.
A esse propósito, vale a pena
referir que Daniel Hannan [foto], eurodeputado e uma das mais influentes figuras da
actualidade no Partido Conservador, estará em Portugal em Junho para participar
no Estoril Political Forum no que será uma excelente
oportunidade para contrastar o seu discurso e argumentação com as posições
socialistas e social-democratas dominantes em Portugal.
Título e Texto: André Azevedo Alves, Professor do
Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, Observador,
9-5-2015
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-