sábado, 9 de maio de 2015

“Labour as we know it will never rule again”

André Azevedo Alves
O Partido Trabalhista radicalizou o discurso anti-austeridade e as suas propostas igualitaristas. Acabou por registar o pior resultado em 50 anos. Foi o preço da rejeição da herança de Toni Blair.



Em 1980, Arthur Seldon, uma das principais figuras na difusão de ideias liberais no Reino Unido no Séc. XX através do seu trabalho no Institute of Economic Affairs, fez três previsões arriscadas:  “China will go capitalist. Soviet Russia will not survive the century. Labour as we know it will never rule again.”. Com a terceira previsão, Seldon pretendia vincar que o clima intelectual havia mudado de tal forma no Reino Unido que só um novo Partido Trabalhista poderia aspirar a voltar a governar. As décadas seguintes – e em especial a profunda reconversão  do Labour sob a liderança de Tony Blair – pareciam dar razão a Seldon.

A avaliação da sustentabilidade da previsão de Seldon podia no entanto ter mudado com as eleições desta semana no Reino Unido. De facto, sob a liderança de Ed Miliband o Partido Trabalhista atingiu patamares de radicalização que já não se viam desde há quase meio século. O discurso frontalmente “anti-austeridade” e as propostas igualitaristas e demagógicas de Miliband valeram-lhe inclusivamente a designação de “Red Ed”. Ameaçando a previsão de Seldon, até ao dia 7 de Maio a possibilidade de David Cameron ser derrotado pelo Red Ed parecia bem real, embora o Partido Trabalhista nunca tenha descolado nas sondagens.


Neste contexto a exit poll que apontava para a vitória dos conservadores, ainda que a alguma distância de uma maioria, caiu como uma bomba. Muitos apressaram-se a garantir que só podia estar errada. E a verdade, como se confirmou depois de contados os votos, é que estava mesmo errada, mas em sentido contrário, já que o Partido Conservador não só ganhou como garantiu uma maioria absoluta. O choque foi tão grande que alguns dos  principais jornais portugueses optaram por quase ignorar a notícia, certamente para poupar os seus leitores.

Além de proporcionarem uma vitória com maioria absoluta do Partido Conservador e uma derrota clara do Partido Trabalhista, as eleições arrasaram o Partido Liberal-Democrata. Curiosamente, apesar de ter feito parte da coligação de governo, os liberais-democratas foram sempre cépticos e reticentes relativamente à contenção da despesa pública, distanciando-se sempre que possível da “austeridade” dos conservadores. O resultado não foi famoso: redução de 23% para menos de 8% dos votos a nível nacional e perda de 49 dos 57 lugares que o Partido Liberal-Democrata tinha no Parlamento.

Outro dos grandes derrotados da noite foi uma das figuras mais destacadas da extrema-esquerda britânica e europeia: George Galloway [foto], que perdeu o seu lugar em Bradford. Galloway, cuja retórica inflamada só encontra paralelo na repugnância da sua mensagem, manteve-se fiel ao seu estilo e, na hora de reconhecer a derrota, achou por bem culpar os racistas e os sionistas pela sua derrota.



Por último, também o United Kingdom Independence Party foi incapaz de atingir os objectivos traçados em termos de representação parlamentar. Apesar de ter sido o partido que mais subiu em apoio eleitoral a nível nacional relativamente às últimas eleições parlamentares (de 3% para mais de 12%) o UKIP elegeu apenas um deputado sendo inclusivamente incapaz de fazer eleger o seu líder Nigel Farage. A estratégia do Partido Conservador para conter o seu crescimento foi assim bem-sucedida, ainda que os quase 4 milhões de votos no UKIP não possam ser ignorados e aumentem a pressão para que o Reino Unido adopte uma posição mais dura relativamente à União Europeia.


A esse propósito, vale a pena referir que Daniel Hannan [foto], eurodeputado e uma das mais influentes figuras da actualidade no Partido Conservador, estará em Portugal em Junho para participar no Estoril Political Forum no que será uma excelente oportunidade para contrastar o seu discurso e argumentação com as posições socialistas e social-democratas dominantes em Portugal.
Título e Texto: André Azevedo Alves, Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, Observador, 9-5-2015

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