É só um jogo de futebol!

Os meus quase quarenta anos de Rio de Janeiro ensinaram-me a separar o esporte da nação. Foi lá que testemunhei e percebi o aproveitamento político e ideológico das vitórias da seleção brasileira de futebol. Não só no futebol…

Foi lá que percebi, sim, que muitos, mas muitos mesmo, ficavam inebriados com essas vitórias, convencidos sinceramente da superioridade do Brasil enquanto nação sobre os países representados por seleções de futebol que perdiam jogos. Muitas vezes debochando grosseiramente desses países e/ou dos seus cidadãos. (Por favor, não me venham com ‘informalidade’, ‘alegria’ e ‘descontração’! Você pode ter e passar por tudo isso com educação e delicadeza.)

Por tudo isso e mais alguma coisa que aprendi e apreendi tenho o cuidado de escrever “seleção portuguesa de futebol”.

Portanto, vejo com deslustre os esforços contrangedores do presidente e do atual primeiro-ministro, de Portugal, em “aparecer” em “todas as fotos”. Ridículo! Mas, é lá com eles e com quem os julga.

Agora, o que não é ridículo, pelo contrário, é ler panfletos como este:

“O nosso inimigo em campo não é França, nem é a Alemanha. É toda a austeridade que sofremos, é toda a humilhação por que passámos, é chamarem-nos abaixo de lixo. Domingo é dia de vivermos acima das nossas possibilidades. Temos de jogar contra o ministro das finanças alemão. Temos de jogar contra o extremismo racista de Le Pen. Temos de jogar contra a falta de solidariedade europeia.” (!?)

Não é à toa que o apelo à intolerância e ao ódio sempre vêm dos extremos (que se tocam e tem o mesmo pai): o fascismo e o marxismo-leninismo.

Vou torcer pela vitória da seleção portuguesa de futebol, com apreensão atento à alegria que surgirá.

Oxalá nos reencontremos no Marquês de Pombal, daqui a um par de horas!
Se a seleção perder, f...-se!

Foto: Alex Livesey/Getty Images

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