Cesar Maia
1. Num vídeo divulgado no último dia do ano, Maurício Macri [foto] admitiu
que 2016 foi "duro". As mudanças na agenda econômica não se
traduziram no crescimento desejado - com uma contração do PIB de 2,3%, uma
inflação a rondar os 40% e um déficit subindo de 4,1% para 4,7% - e isso acabou
por levar ao afastamento do ministro das Finanças, Alfonso Prat-Gay. Mas 2017
ameaça ser ainda mais complicado para Macri, com as eleições parlamentares de
outubro capazes de tornar mais difícil negociar num Congresso onde a oposição
(mesmo dividida) tem a maioria.
2. Quando chegou ao poder em dezembro de 2015, pondo fim a doze
anos de kirchnerismo (quatro de Néstor Kirchner e oito de Cristina Kirchner),
Macri prometeu sanear a economia e erradicar a pobreza. Mas os resultados
positivos tardam em chegar - os primeiros dados da pobreza conhecidos desde
abril de 2014, revelaram em setembro que 32% dos argentinos são pobres, e o
desemprego, subiu para 9%.
3. O governo alertara desde cedo para a gravidade da "herança"
kirchnerista - pior do que a esperada - e, dias antes de assinalar o primeiro
aniversário na presidência, o próprio Macri admitiu que se gerou durante a
campanha "uma expectativa de mudança mágica" e que era preciso pôr de
lado essa ideia. Com a saída de Prat-Gray, a pasta foi repartida em duas (Luis
Caputo nas Finanças e Nicolás Dujovne nas Finanças Públicas), mas a política
deverá manter-se a mesma face à previsão de crescimento já em 2017 - o FMI
estima que seja de 3%.
4. Apesar de estar em minoria no Congresso, Macri conseguiu aprovar
o orçamento para 2017 e o acordo com os chamados fundos "buitre"
(abutres), pagando aos credores com quem Kirchner estava em guerra e abrindo a
porta aos mercados internacionais. Para consegui-lo, aproveitou a divisão na
oposição - entre kirchneristas (peronistas históricos herdeiros de Juan Domingo
Perón) e massistas (apoiantes de Sergio Massa, o ex-chefe de gabinete de
Cristina Kirchner que se tornou no seu maior crítico e foi terceiro nas
presidenciais).
5. Mas essa lua de mel com o Congresso começou a ruir no final do
ano, quando os opositores esqueceram as diferenças para derrotar Macri. A
oposição aprovou um projeto de lei de emergência econômica (aumento de 15% no
abono familiar e no subsídio de gravidez), que o governo não queria por
implicar um maior déficit fiscal e se viu obrigado a renegociar. Depois, travou
a reforma eleitoral que o presidente negociou pessoalmente. Por último, Massa
uniu-se aos kirchneristas para baixar os impostos a um milhão de trabalhadores
- uma promessa de campanha de Macri, que teve que recuar porque isso implicava
uma quebra de 2 380 milhões de dólares nas receitas.
6. Foram jogadas da oposição já a olhar para as eleições
parlamentares - que poderão intensificar-se ao longo de 2017 para marcar a
diferença em relação à coligação no poder. As derrotas complicam politicamente
a situação do presidente, que precisa de um bom resultado em outubro (nenhum
analista espera que possa ganhar a maioria, mas precisava de mais do que os 87
deputados que tem agora) para poder encarar com confiança a segunda parte do
seu mandato. "As eleições de outubro poderão abrir a possibilidade de uma
reeleição em 2019 ou, pelo contrário, lhe obstaculizar até extremos
imprevisíveis os dois anos do mandato que lhe faltam", escreveu o
colunista do jornal La Nación, Joaquín Morales Solá.
7. Nenhum presidente não peronista chegou ao fim do mandato - dois
foram derrubados em golpes militares e outros dois caíram no meio de crises
econômicas. Os quatro eram da União Cívica Radical, um dos partidos da
coligação Cambiemos que apoia Macri - um empresário de 57 anos que ganhou fama
à frente do clube Boca Juniors e foi durante dois mandatos governador da cidade
de Buenos Aires.
8. Apesar dos problemas econômicos, a aprovação ao governo de Macri
é de 55%, segundo uma sondagem da Poliarquía Consultores para o La Nación. Mas
45% dos inquiridos dizem que o seu primeiro ano foi pior do que esperavam -
numa ocasião foi assobiado depois de um evento público e, já em dezembro, o seu
carro oficial foi apedrejado (quando não estava lá dentro). Para as eleições de
outubro, a coligação Cambiemos surge na província de Buenos Aires com 27,4% dos
votos, atrás da Frente para a Vitória, de Cristina Kirchner (31,3%). Apesar de
ter sido acusada de corrupção, a ex-presidente surge como a candidata mais
forte a senadora (candidatura ainda não é oficial).
Título e Texto: Cesar Maia, 10-1-2017
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