Primeiro, foram as imagens de um médico a
dar consulta de chapéu-de-chuva num centro de saúde no Algarve. Depois, alunos
embrulhados em mantas numa escola no Alentejo.
Agora, o Liceu Alexandre
Herculano, no Porto, que acabou por ser fechado com cinco dias debaixo de
chuva. Trezentos alunos deslocados e 600 à espera que umas obras à pressão lhes
devolvam a escola. A sua escola. O truque da cativação de verbas por um Governo
de esquerda que rosna contra o euro, mas não morde na hora de cumprir está a
rebentar pelas costuras. Mas António Costa diz que a culpa é de Passos Coelho.
Segundo o primeiro-ministro, a
Alexandre Herculano e mais 38 escolas tinham obras adjudicadas em 2011, que
"foram anuladas quando o dr. Pedro Passos Coelho chegou ao Governo".
Ora aqui estava uma excelente oportunidade para o atual Governo fazer o que
mais gosta: reverter medidas do anterior Executivo. Mas desta vez
esqueceram-se. E esqueceram-se porquê? Porque o garrote que Costa impôs às
despesas no Estado obrigou a fechar os olhos às carências brutais com que na
saúde, na educação, nas prisões e noutros serviços públicos, médicos,
enfermeiros, doentes, professores, alunos, funcionários, tiveram de se aguentar
neste primeiro ano da imaginativa geringonça.
No caso da escola que serviu
de cromo ilustrado para o inaceitável e escandaloso impacto dos cortes na
despesa pública que a esquerda agora engole em paz, a secretária adjunta da
Educação já veio desmentir o primeiro-ministro – o Governo anterior mapeou a
obra na escola do Porto "para fundos comunitários, com seis milhões de
euros". Mas António Costa não se atrapalha. A culpa é da direita, ponto
final.
Com uns euros devolvidos aos funcionários públicos, umas esmolas aos reformados com pensões mais baixas, um salto para cima no salário mínimo (justo, mas trapalhão na compensação aos patrões) e meia dúzia de reversões para satisfazer comunistas e bloquistas, o "optimista irritante" acha que tem a coisa sob controlo. Mas cuidado, dr. Costa! A imagem de salas de aulas à chuva, alunos a bater o dente e professores a fazer de assistentes sociais não é digna, não. E atirar as culpas para os malandros da direita já não pega.
O Governo é seu, as
prioridades são suas, as cativações também. E a Parque Escolar, é bom lembrar,
foi uma pérola de um governo que o senhor apoiou. Entre as megalomanias da era
Sócrates e as cativações desta sua "sui generis" legislatura há um
fio condutor. Ténue, mas com nexo. A direita foi um intervalo para gerir um
resgate. Deus nos livre!
Título e Texto: Raul Vaz, Jornal de Negócios, 31-1-2017
Título e Texto: Raul Vaz, Jornal de Negócios, 31-1-2017
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