sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A Noite de Berkeley. Ou: por que a defesa da liberdade de expressão é a batalha mais importante para a direita?

Luciano Ayan

A Noite de Berkeley significa o dia em que a esquerda assinou e registrou em cartório um termo dizendo que é inimiga formal da liberdade de expressão. Vândalos de extrema-esquerda destruíram a Universidade de Berkeley, com o apoio da administração esquerdista, para evitar que Milo Yiannopoulos desse uma palestra por lá.



Essa “demarcação” de posição é sensacional para nós, por diversos motivos. Entendemos, finalmente, o que está em jogo. Ou deveríamos entender.

Para compreender de fato o que está acontecendo é preciso abandonar as crenças nas propagandas esquerdistas e, por consequência, também o direitismo paternal. O direitismo paternal é incapaz de visualizar o seu inimigo como ele é, mas apenas em uma visão adocicada e injustificadamente caridosa. É a consequência direta da fé cega na crença, a qual é consequência direta da crença no discurso. Como dizia Lenin, a crença no discurso, por si só, inviabiliza a real atividade política.

Quando um direitista diz que “o socialismo não funcionou”, essa afirmação traz um subtexto: “haviam boas intenções no socialismo, como o de trazer igualdade e desenvolvimento, mas isso não deu certo”. Mas a crença nas “boas intenções do socialismo” é apenas a fé cega na crença e, portanto, uma visão paternal de como a esquerda é. É quase como se o direitista fizesse o papel de um pai aconselhando o filho, quando deveria visualizar um inimigo. A oposição ao direitismo paternalista é o direitismo crítico, o qual defendo.

Observando as coisas pela ótica crítica, não temos nestes eventos de destruição e violação à liberdade de expressão uma “histeria descontrolada”, mas uma implementação direcionada ao totalitarismo e, por isso mesmo, uma ação inteligente dentro de um projeto de poder. Por isso mesmo, ao visualizarmos a inteligência por trás da ação do inimigo, podemos ambicionar aplicação de inteligência de nosso lado e, obviamente, em direção contrária àquela que nosso inimigo deseja.

Para além do paternalismo político, esquerda significa unicamente busca de poder focada na aquisição de poder no estado, o qual, quando inchado, é sempre opressor. Extrema-esquerda significa quase o mesmo que esquerda genérica, com a diferença de que o poder ambicionado/mantido é totalitário. Direita significa o distanciamento do poder centrado no estado, com uma divisão deste poder entre o estado e o mercado. Todo o resto das ideologias e questões atendem a isso, gostemos ou não de reconhecer.

Afim de obter o poder no estado, grupos esquerdistas foram historicamente se juntando em torno de uma série de pautas, mas também a partir de uma série de comportamentos, entre os quais a intimidação do oponente e a rotulagem em nível absurdo. Porém, outra estratégia parece estar dando errado: o marxismo cultural, criado para fornecer narrativas para obtenção de poder estatal em diversos níveis, principalmente porque, antes, viria a hegemonia.

Disto resultou que enquanto a esquerda lutava pela aniquilação da opinião divergente a partir da intimidação e diversas formas de cerceamento, não pareceu se preparar tanto para a onda de revolta a isso tudo surgida com a liberdade de expressão na Internet, que tem servido como forma de organização daqueles que estão zangados com este tipo de cerceamento. Vamos além: a direita hoje se tornou representante da liberdade de expressão, enquanto a esquerda se tornou adversária da liberdade de alguém dizer o que pensa. Em termos de luta, a direita hoje se tornou “revolucionária”.

O marxismo cultural gerou o fascismo cultural (conhecido como politicamente correto). É uma ferramenta poderosa, que permite a alguém destruir a vida de oponentes (vide a história de Justine Sacco), utilizar o sadismo em prol de “causas”, implementar o desengajamento moral e, em resumo, se valer um método fascista modernizado, muitas vezes ficando “bem na foto”. Ao mesmo tempo, pelo cerceamento à voz alheia, isso “destreinou” a esquerda atual para o debate. Ademais, como as diversas narrativas do marxismo cultural são contraditórias, obscurantistas e anticientíficas, eles se colocaram em uma situação que podemos definir como colapso de contradições.

Aqueles que se encontram em colapso de contradições, podem falar por alguns minutos, nos permitindo encontrar dúzias de contradições em suas narrativas. Por exemplo, Hillary luta contra o muro de Trump, mas seu marido, Bill, construiu um muro em 1995 (agora só falta terminar). Eles se declararam contra a xenofobia, mas Obama expulsou cubanos para agradar a ditadura castrista. E assim, sucessivamente, cada narrativa expressa por eles os coloca em situações propícias para que eles sejam pegos em contradição.

Como possuem batalhões enormes de narradores (que estão em contradição eterna, lembre-se), não há nada que a esquerda possa fazer para reverter esse cenário nos próximos quatro ou cinco anos, se for olhar para seu modo de agir. É um trabalho de longo prazo se quiserem sair dessa situação de colapso.  O que eles têm, diante de seu projeto de poder estatizante, é uma situação de colapso de narrativas, o que fornece farto material para a direita, que pode fazer o adversário sucumbir pelo seu próprio livro de regras. Aí está a regra de sucesso de Milo Yiannopoulos, que deveria servir como “template” (no quesito técnicas de discurso) para boa parte da direita.

A esquerda só tem uma alternativa se quiser reverter esse dano: implementar a censura, do modo mais radical possível. A narrativa da “pós-verdade” (e das fake news) é um método censório. Aliás, assim que a grande mídia criou a narrativa das “fake news”, a direita já aproveitou para mostrar os vários exemplos de “fake news” na grande mídia. Obviamente, os “fact checkers” partidários não irão barrar nenhuma “fake news” da grande mídia, apenas de seus adversários. Mas a própria narrativa das “fake news” já fornece novos exemplos de contradições da esquerda: ou seja, justamente aqueles que denunciaram “o problema das fake news”, são os que mais as criam e propagam.

A violência em Berkeley praticamente serve como se a esquerda estivesse dizendo: “Precisamos impedi-los de falar, de qualquer jeito, pois estamos vendo nossas narrativas sucumbirem a cada momento”.

Se a direita conseguir agir politicamente (e com projetos de lei, principalmente), para impedir o cerceamento da voz alheia e para garantir uma Internet livre, a esquerda vai se dar muito mal nos próximos anos. E isso significa perder muita verba estatal para gente que depende tanto disso quanto os sicários de Pablo Escobar dependiam de suas “bocas” do tráfico. A luta é só esta, e unicamente por este motivo.

Que projetos poderíamos falar sobre liberdade de expressão? Trump já deu uma ótima ideia, que já pode ser expandida: barrar financiamento estatal para universidades que violem a livre expressão. Podemos discutir a proibição legal de deleção de conteúdo de mídias sociais, a não que isso seja requisitado judicialmente. Ou seja, denúncias em massa já não poderiam resultar em exclusão de conteúdo, sob pena de pagamento de uma altíssima multa. Poderíamos falar em transparência total no novo método de censura: o uso de “fact checkers” partidários. Isso por si só já constrangeria os censores.

Só aqui já falei em três medidas, mas outras podem ser discutidas, sempre na direção de buscar garantir a liberdade de expressão, enquanto ao mesmo tempo a esquerda tomará por prioridade eliminá-la, até porque essa é sua principal alternativa de poder, em razão de estarem sob um verdadeiro colapso de contradições.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 2-2-2017

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