Luciano Ayan
A Noite de Berkeley significa
o dia em que a esquerda assinou e registrou em cartório um termo dizendo que é
inimiga formal da liberdade de expressão. Vândalos de extrema-esquerda
destruíram a Universidade de Berkeley, com o apoio da administração esquerdista,
para evitar que Milo Yiannopoulos desse uma palestra por lá.
Essa “demarcação” de posição é
sensacional para nós, por diversos motivos. Entendemos, finalmente, o que está
em jogo. Ou deveríamos entender.
Para compreender de fato o que
está acontecendo é preciso abandonar as crenças nas propagandas esquerdistas e,
por consequência, também o direitismo paternal. O direitismo paternal é incapaz
de visualizar o seu inimigo como ele é, mas apenas em uma visão adocicada e
injustificadamente caridosa. É a consequência direta da fé cega na
crença, a qual é consequência direta da crença no
discurso. Como dizia Lenin, a crença no discurso, por si só, inviabiliza a
real atividade política.
Quando um direitista diz que
“o socialismo não funcionou”, essa afirmação traz um subtexto: “haviam boas
intenções no socialismo, como o de trazer igualdade e desenvolvimento, mas isso
não deu certo”. Mas a crença nas “boas intenções do socialismo” é apenas a fé
cega na crença e, portanto, uma visão paternal de como a esquerda é. É quase
como se o direitista fizesse o papel de um pai aconselhando o filho, quando
deveria visualizar um inimigo. A oposição ao direitismo paternalista é o
direitismo crítico, o qual defendo.
Observando as coisas pela
ótica crítica, não temos nestes eventos de destruição e violação à liberdade de
expressão uma “histeria descontrolada”, mas uma implementação direcionada ao
totalitarismo e, por isso mesmo, uma ação inteligente dentro de um projeto de
poder. Por isso mesmo, ao visualizarmos a inteligência por trás da ação do
inimigo, podemos ambicionar aplicação de inteligência de nosso lado e, obviamente,
em direção contrária àquela que nosso inimigo deseja.
Para além do paternalismo
político, esquerda significa unicamente busca de poder focada na aquisição de
poder no estado, o qual, quando inchado, é sempre opressor. Extrema-esquerda
significa quase o mesmo que esquerda genérica, com a diferença de que o poder
ambicionado/mantido é totalitário. Direita significa o distanciamento do poder
centrado no estado, com uma divisão deste poder entre o estado e o
mercado. Todo o resto das ideologias e questões atendem a isso, gostemos ou não
de reconhecer.
Afim de obter o poder no
estado, grupos esquerdistas foram historicamente se juntando em torno de uma
série de pautas, mas também a partir de uma série de comportamentos, entre os
quais a intimidação do oponente e a rotulagem em nível absurdo. Porém, outra
estratégia parece estar dando errado: o marxismo cultural, criado para fornecer
narrativas para obtenção de poder estatal em diversos níveis, principalmente
porque, antes, viria a hegemonia.
Disto resultou que enquanto a
esquerda lutava pela aniquilação da opinião divergente a partir da intimidação
e diversas formas de cerceamento, não pareceu se preparar tanto para a onda de
revolta a isso tudo surgida com a liberdade de expressão na Internet, que tem
servido como forma de organização daqueles que estão zangados com este
tipo de cerceamento. Vamos além: a direita hoje se tornou representante da
liberdade de expressão, enquanto a esquerda se tornou adversária da liberdade
de alguém dizer o que pensa. Em termos de luta, a direita hoje se tornou
“revolucionária”.
O marxismo cultural gerou o
fascismo cultural (conhecido como politicamente correto). É uma ferramenta
poderosa, que permite a alguém destruir a vida de oponentes (vide a história de
Justine Sacco), utilizar o sadismo em prol de “causas”, implementar o
desengajamento moral e, em resumo, se valer um método fascista
modernizado, muitas vezes ficando “bem na foto”. Ao mesmo tempo, pelo
cerceamento à voz alheia, isso “destreinou” a esquerda atual para o debate. Ademais,
como as diversas narrativas do marxismo cultural são contraditórias,
obscurantistas e anticientíficas, eles se colocaram em uma situação que podemos
definir como colapso de contradições.
Aqueles que se encontram em
colapso de contradições, podem falar por alguns minutos, nos permitindo
encontrar dúzias de contradições em suas narrativas. Por exemplo, Hillary luta contra o muro de
Trump, mas seu marido, Bill, construiu um muro em 1995 (agora só falta
terminar). Eles se declararam contra a xenofobia, mas Obama expulsou cubanos
para agradar a ditadura castrista. E assim, sucessivamente, cada
narrativa expressa por eles os coloca em situações propícias para que eles
sejam pegos em contradição.
Como possuem batalhões enormes
de narradores (que estão em contradição eterna, lembre-se), não há nada que a
esquerda possa fazer para reverter esse cenário nos próximos quatro ou cinco
anos, se for olhar para seu modo de agir. É um trabalho de longo prazo se
quiserem sair dessa situação de colapso. O que eles têm, diante de seu
projeto de poder estatizante, é uma situação de colapso de narrativas, o que
fornece farto material para a direita, que pode fazer o adversário
sucumbir pelo seu próprio livro de regras. Aí está a regra de sucesso de Milo
Yiannopoulos, que deveria servir como “template” (no quesito técnicas de
discurso) para boa parte da direita.
A esquerda só tem uma
alternativa se quiser reverter esse dano: implementar a censura, do modo mais
radical possível. A narrativa da “pós-verdade” (e das fake news) é um método censório. Aliás, assim que a grande mídia
criou a narrativa das “fake news”, a direita já aproveitou para mostrar os
vários exemplos de “fake news” na grande mídia. Obviamente, os “fact checkers”
partidários não irão barrar nenhuma “fake news” da grande mídia, apenas de seus
adversários. Mas a própria narrativa das “fake news” já fornece novos exemplos
de contradições da esquerda: ou seja, justamente aqueles que denunciaram “o
problema das fake news”, são os que mais as criam e propagam.
A violência em Berkeley
praticamente serve como se a esquerda estivesse dizendo: “Precisamos impedi-los
de falar, de qualquer jeito, pois estamos vendo nossas narrativas sucumbirem a
cada momento”.
Se a direita conseguir agir
politicamente (e com projetos de lei, principalmente), para impedir o
cerceamento da voz alheia e para garantir uma Internet livre, a esquerda vai se
dar muito mal nos próximos anos. E isso significa perder muita verba
estatal para gente que depende tanto disso quanto os sicários de Pablo Escobar
dependiam de suas “bocas” do tráfico. A luta é só esta, e unicamente por este
motivo.
Que projetos poderíamos falar
sobre liberdade de expressão? Trump já deu uma ótima ideia, que já pode ser
expandida: barrar financiamento estatal para universidades que violem a livre
expressão. Podemos discutir a proibição legal de deleção de conteúdo de mídias
sociais, a não que isso seja requisitado judicialmente. Ou seja, denúncias em
massa já não poderiam resultar em exclusão de conteúdo, sob pena de pagamento
de uma altíssima multa. Poderíamos falar em transparência total no novo método
de censura: o uso de “fact checkers” partidários. Isso por si só já
constrangeria os censores.
Só aqui já falei em três
medidas, mas outras podem ser discutidas, sempre na direção de buscar garantir
a liberdade de expressão, enquanto ao mesmo tempo a esquerda tomará por
prioridade eliminá-la, até porque essa é sua principal alternativa de poder, em
razão de estarem sob um verdadeiro colapso de contradições.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 2-2-2017
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