Sergio de Mello
Olhando bem de longe, mas
muito de longe mesmo, até dá para entender o paraíso terrestre que toda
ideologia glorifica e todo o aparato da intelligentsia que a
orquestra: um lindo arquétipo grupal igualitário, que busca a alma humana comum
e a felicidade. De perto, com a lupa da sabedoria da história e dos valores
humanos, no entanto, ela não significa nada além de um projeto de
igualdade ou supremacia de grupo impositivo, comportamental e antidemocrático.
Falando mais precisamente
sobre ideologia de gênero, que é fazer acreditar (isso mesmo, acreditar, sendo
questão de fé e não ciência!) que ninguém nasce com sexo definido, esse
totalitarismo chegou ao Estado por meio dos livros didáticos em escolas
infantis, com base nos planos nacional, estaduais e municipais de educação,
está nas portas dos banheiros, nas salas de aula, nos teatros, nas fichas de
cadastro de alunos (“filiação 1”, filiação 2”, em vez de pai e mãe). Enfim, não
há aceitação pela maioria e, ainda assim, a mão amiga e militare do
Estado determina que se aceite de uma forma geral e indiscriminada essa, por
assim dizer, ideologia ou crença de indefinição sexual biológica.
Como diz o ditado, “cada um é
cada um”, faz da sua vida o que quiser. Porém, quando a visão de cada um chega
ao Estado aí já é o momento de pensar melhor, refletir e ficar com uma pulga
atrás da orelha mesmo. Ou melhor, é hora de repudiar quando se quer fazer dos
direitos humanos e individuais uma tábula rasa, como se ninguém tivesse mais
vontade própria e não soubesse o que é bom para si mesmo. Refiro-me,
especificamente, às imposições escolares, com a intenção de transmitir aos
filhos dos outros aquilo que acham que é o melhor para se viver. Faço
referência aos professores que no dia-a-dia passam para alunos inocentes a
ideologia de que eles não nasceram meninos ou meninas. Essa aparente
demonstração de uma tal “social democracia” nada tem de democrático, já que
defende a posição de alguns enquanto oprime e ignora uma grande maioria.
Deve-se defender todos e não apenas alguns.
Não há nada de errado em
procurar erros e acertos dentro de uma cultura que se diz preconceituosa e
desigual. Não há nada de incerto em investigar as mazelas sociais. O erro está
em querer impor de cima para baixo normas de comportamentos e de visões de vida
comum e totalitária. E não estou falando aqui em não deixar um gay ser gay, uma
lésbica ser lésbica, absolutamente não. Como se diz, cada um faz da sua vida o
que bem entender. Digo que o sentimento de proteção extrapola nível aceitável e
chega ao legislativo, impondo normas comportamentais a todos. E, pior ainda,
baseadas numa visão ideológica das coisas humanas, situação que se deve, acima
de tudo, evitar para se poder impedir, posteriormente, um mal maior
(cerceamento do pluralismo e das liberdades públicas).
Como bem deixou escrito o
professor Olavo de Carvalho, no Mídia Sem Máscara, em artigo veiculado há dois
dias, “Na esquerda brasileira já não existe, desde há muito tempo,
pensamento individual. Tudo ali se decide em grupos, reuniões, debates internos
em redes que formam o discurso ideológico destinado a criar e manter a
hegemonia, o controle do movimento sobre o curso da vida social e política.”.
Não precisa ser cristão,
religioso, conservador ou “de direita”, para se notar que tal ideologia de
gênero não passa, de fato, de uma ideologia e, como tal, isenta de qualquer
comprovação científica mais apurada de uma ordem de coisas certas e valorosas
para o gênero humano. Quem entende de forma diversa para preservar o que há de
mais sagrado para o gênero humano – a própria liberdade que a esquerda tanto
zela para ela (não para os outros) – é tido como o fanático, o alienado, o
insensível, o de “extrema-direita”.
Será que estamos caminhando
mesmo num futuro promissor e rumo à evolução e ao progresso, como querem fazer
crer os entusiastas de ideologias? Será que podemos adotar a filosofia
hegeliana de que a compreensão da humanidade e a sabedoria virão somente “ao
anoitecer”, no decorrer do curso de história, num porvir? Será que o caminhar
da humanidade é linear e não cíclico? Aliás, pensando em Hegel e nesta semana
de nossa república, há que se duvidar muito de seus prodígios, já que ele
considerou um “glorioso amanhecer” os acontecimentos antimonárquicos quando da
implantação da república no momento da Revolução Francesa.
Título, Imagem e Texto: Sergio de Mello, InstitutoLiberalide, 17-11-2017
A receita para censurar usando o “discurso de ódio” como desculpa
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