“Patrícia, por favor, qual é correto: ‘Pai, perdoai-o.’ ou ‘Pai, perdoai-lhe.’?
Vamos por partes:
O primeiro passo é conhecer a regência do verbo PERDOAR. Esse verbo, assim como o verbo PAGAR, é transitivo direto para complementos que denotem o que é pago ou perdoado, ou seja, a “coisa” que se paga ou que se perdoa. Então, se pago um vestido, o “vestido” (coisa pela qual eu paguei), é objeto direto; por outro lado, quando me refiro à pessoa a quem fiz o pagamento, por exemplo “Paguei ao alfaiate”, o verbo é transitivo indireto e pede essa preposição destacada aí antes o objeto indireto.
O mesmo se aplica ao verbo PERDOAR!!! Então…
a – se tem por complemento palavra que denote “coisa”: não exige preposição. Ex.: Deus perdoa os nossos pecados. (perdoa = VTD / os nossos pecados = OD)
b – se tem por complemento palavra que denote “pessoa”: exige a preposição a. Ex.: Ele perdoou ao pai. (perdoou = VTI / ao pai = OI).
Agora que já sabemos a regência do verbo em questão, vamos ao uso dos pronomes oblíquos:
Usamos O, A, OS, AS para objetos diretos.
Usamos LHE, LHES para objetos indiretos.
Veja aqui o nosso artigo explicando tuuuuudo sobre os pronomes pessoais.
Assim, minha resposta à pergunta do caro internauta que me enviou sua dúvida é:
Se o objeto do perdão é alguém, o correto é “Pai, perdoai-lhe!”; se o objeto do perdão é algo, o correto é “Pai, perdoai-o!”.
“O menino perdoou o pai“. Há algum erro na frase? É verdade que o verbo perdoar pode ser transitivo direto e indireto – pode-se perdoar alguma coisa a alguém (“perdoar-lhe as dívidas”, por exemplo); mas, em havendo um único complemento (o de pessoa), a regência pode ser tanto direta quanto indireta: é correto dizer “Perdoa-lhes, pai”, mas também é corretíssimo dizer “Perdoa-os, pai”.
Em resumo, pode-se tanto perdoar alguém quanto perdoar a alguém.
Isso é o que ensinam todas as boas gramáticas ou dicionários publicados nas últimas décadas. O Houaiss, o Aurélio e Evanildo Bechara, imortal da Academia Brasileira de Letras e autor daquela que é a melhor gramática de português atualmente, sequer perdem tempo a respeito – pôde-se perdoar alguém ou a alguém, dizem eles. Os dicionários de regência do Brasil e de Portugal são igualmente unânimes a esse respeito.
A Gramática de Celso Cunha e Lindley Cintra (1984), até hoje a mais vendida e citada tanto em Portugal quanto no Brasil, há mais de três décadas explicitava: embora, com dois objetos, o verbo “perdoar” exija a preposição “a” para pessoa, a construção “perdoar alguém”, com pessoa como objeto direto, já era normal no português arcaico, desde a Idade Média. Exemplos vão desde os jornais portugueses e brasileiros de hoje às obras do incomparável Machado de Assis, que escreveu que “o fazendeiro, mais tarde ou mais cedo, acabará perdoando a filha“. dicionarioegramatica.com
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ResponderExcluirRecebi a seguinte pergunta:
Excluir“Patrícia, por favor, qual é correto: ‘Pai, perdoai-o.’ ou ‘Pai, perdoai-lhe.’?
Vamos por partes:
O primeiro passo é conhecer a regência do verbo PERDOAR. Esse verbo, assim como o verbo PAGAR, é transitivo direto para complementos que denotem o que é pago ou perdoado, ou seja, a “coisa” que se paga ou que se perdoa. Então, se pago um vestido, o “vestido” (coisa pela qual eu paguei), é objeto direto; por outro lado, quando me refiro à pessoa a quem fiz o pagamento, por exemplo “Paguei ao alfaiate”, o verbo é transitivo indireto e pede essa preposição destacada aí antes o objeto indireto.
O mesmo se aplica ao verbo PERDOAR!!! Então…
a – se tem por complemento palavra que denote “coisa”: não exige preposição. Ex.: Deus perdoa os nossos pecados. (perdoa = VTD / os nossos pecados = OD)
b – se tem por complemento palavra que denote “pessoa”: exige a preposição a. Ex.: Ele perdoou ao pai. (perdoou = VTI / ao pai = OI).
Agora que já sabemos a regência do verbo em questão, vamos ao uso dos pronomes oblíquos:
Usamos O, A, OS, AS para objetos diretos.
Usamos LHE, LHES para objetos indiretos.
Veja aqui o nosso artigo explicando tuuuuudo sobre os pronomes pessoais.
Assim, minha resposta à pergunta do caro internauta que me enviou sua dúvida é:
Se o objeto do perdão é alguém, o correto é “Pai, perdoai-lhe!”; se o objeto do perdão é algo, o correto é “Pai, perdoai-o!”.
Por hoje é só!
Um abraço,
Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado
“O menino perdoou o pai“. Há algum erro na frase? É verdade que o verbo perdoar pode ser transitivo direto e indireto – pode-se perdoar alguma coisa a alguém (“perdoar-lhe as dívidas”, por exemplo); mas, em havendo um único complemento (o de pessoa), a regência pode ser tanto direta quanto indireta: é correto dizer “Perdoa-lhes, pai”, mas também é corretíssimo dizer “Perdoa-os, pai”.
ExcluirEm resumo, pode-se tanto perdoar alguém quanto perdoar a alguém.
Isso é o que ensinam todas as boas gramáticas ou dicionários publicados nas últimas décadas. O Houaiss, o Aurélio e Evanildo Bechara, imortal da Academia Brasileira de Letras e autor daquela que é a melhor gramática de português atualmente, sequer perdem tempo a respeito – pôde-se perdoar alguém ou a alguém, dizem eles. Os dicionários de regência do Brasil e de Portugal são igualmente unânimes a esse respeito.
A Gramática de Celso Cunha e Lindley Cintra (1984), até hoje a mais vendida e citada tanto em Portugal quanto no Brasil, há mais de três décadas explicitava: embora, com dois objetos, o verbo “perdoar” exija a preposição “a” para pessoa, a construção “perdoar alguém”, com pessoa como objeto direto, já era normal no português arcaico, desde a Idade Média. Exemplos vão desde os jornais portugueses e brasileiros de hoje às obras do incomparável Machado de Assis, que escreveu que “o fazendeiro, mais tarde ou mais cedo, acabará perdoando a filha“.
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