(onde se fala dele e de Laura, a mulher por
quem espera)
Luis Osório
Estou perfeitamente à vontade.
Quem me lê habitualmente diria que sou insuspeito de ser liberal e ainda menos
de ser um liberal de direita. Mas quero escrever este texto por me parecer
importante separar as águas, o que nunca parece fácil. Vou tentar.
Conheço o ex-primeiro-ministro
há vários anos, talvez vinte. Não conversamos muito, talvez duas ou três
conversas um pouco mais longas – agora que penso nisso, conheci-o num almoço
onde esteve também António José Seguro, um blind date organizado pelo
Diário de Notícias. Depois disso praticamente nada. Voltamos a falar durante a
sua ascensão à liderança do PSD.
Depois quando foi
primeiro-ministro e eu regressei por breves anos ao jornalismo. A nossa relação
foi sempre impecável. Nunca se sentiu atingido com editoriais críticos, nunca
se sentiu traído numa relação sempre boa. Quando me encontrava era caloroso,
mesmo quando eu era feroz e o atacava, mesmo quando passei a combater o seu
governo ele nunca mudou comigo. não são muitas as pessoas de quem possa dizer o
mesmo. A maioria, mesmo defendendo a liberdade de opinião, quando são
criticados não conseguem lidar com isso. Com Passos Coelho não foi assim, nunca
foi assim.
Mas não quero falar de
política. Quero escrever acerca da sua mulher, do cancro que tem (e que é
público), quero falar do que vi e me impressionou um dia destes. Tinha ido ao
encontro da Ana (é médica) e senti um alvoroço atrás de mim. Virei-me e estavam
pessoas a sair à pressa. Enfermeiros pediam-nos para sairmos, parecia existir
um qualquer problema, uma fuga de gás ou uma ameaça de incêndio, não sei.
Foi quando, a uns dez metros
de mim, vi o Pedro. Estava mais magro, mais envelhecido, felizmente não me viu.
Uma enfermeira pediu-lhe com bons modos para que saísse, não tinha que se
preocupar porque a sua mulher estava a apressar-se e demoraria pouco tempo. O
Pedro, numa calma inquieta, disse-lhe assim: “Vai-me desculpar, mas isso é impossível.
Eu não posso sair daqui sem a minha mulher, simplesmente não posso”. Saí sem
lhe falar, não conseguiria dizer-lhe nada, não lhe disse nada, não sei de mais
nada.
Podemos não concordar com
Pedro Passos Coelho. Estar do outro lado da barricada. Mas há homens e mulheres
dignos em todas as barricadas. E a dignidade mede-se também pelos pequenos
gestos, pelos silêncios, pela forma como nos oferecemos a alguém, como amamos,
cuidamos ou desistimos.
A carreira política de Passos
Coelho não está terminada, longe disso. Não me admiraria que um dia voltasse a
ser primeiro-ministro ou Presidente da República. Da mesma maneira que ele sabe
que nunca terá o meu voto. Porém, sou capaz de o convidar mais depressa para
jantar em minha casa do que a várias pessoas que partilham das minhas
convicções ideológicas.
Título e Texto: Luis Osório,
Facebook, 16-10-2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-