quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Pedro Passos Coelho é um homem que vale a pena

(onde se fala dele e de Laura, a mulher por quem espera)

Luis Osório

Estou perfeitamente à vontade. Quem me lê habitualmente diria que sou insuspeito de ser liberal e ainda menos de ser um liberal de direita. Mas quero escrever este texto por me parecer importante separar as águas, o que nunca parece fácil. Vou tentar.

Conheço o ex-primeiro-ministro há vários anos, talvez vinte. Não conversamos muito, talvez duas ou três conversas um pouco mais longas – agora que penso nisso, conheci-o num almoço onde esteve também António José Seguro, um blind date organizado pelo Diário de Notícias. Depois disso praticamente nada. Voltamos a falar durante a sua ascensão à liderança do PSD.


Depois quando foi primeiro-ministro e eu regressei por breves anos ao jornalismo. A nossa relação foi sempre impecável. Nunca se sentiu atingido com editoriais críticos, nunca se sentiu traído numa relação sempre boa. Quando me encontrava era caloroso, mesmo quando eu era feroz e o atacava, mesmo quando passei a combater o seu governo ele nunca mudou comigo. não são muitas as pessoas de quem possa dizer o mesmo. A maioria, mesmo defendendo a liberdade de opinião, quando são criticados não conseguem lidar com isso. Com Passos Coelho não foi assim, nunca foi assim.

Mas não quero falar de política. Quero escrever acerca da sua mulher, do cancro que tem (e que é público), quero falar do que vi e me impressionou um dia destes. Tinha ido ao encontro da Ana (é médica) e senti um alvoroço atrás de mim. Virei-me e estavam pessoas a sair à pressa. Enfermeiros pediam-nos para sairmos, parecia existir um qualquer problema, uma fuga de gás ou uma ameaça de incêndio, não sei.

Foi quando, a uns dez metros de mim, vi o Pedro. Estava mais magro, mais envelhecido, felizmente não me viu. Uma enfermeira pediu-lhe com bons modos para que saísse, não tinha que se preocupar porque a sua mulher estava a apressar-se e demoraria pouco tempo. O Pedro, numa calma inquieta, disse-lhe assim: “Vai-me desculpar, mas isso é impossível. Eu não posso sair daqui sem a minha mulher, simplesmente não posso”. Saí sem lhe falar, não conseguiria dizer-lhe nada, não lhe disse nada, não sei de mais nada.

Podemos não concordar com Pedro Passos Coelho. Estar do outro lado da barricada. Mas há homens e mulheres dignos em todas as barricadas. E a dignidade mede-se também pelos pequenos gestos, pelos silêncios, pela forma como nos oferecemos a alguém, como amamos, cuidamos ou desistimos.

A carreira política de Passos Coelho não está terminada, longe disso. Não me admiraria que um dia voltasse a ser primeiro-ministro ou Presidente da República. Da mesma maneira que ele sabe que nunca terá o meu voto. Porém, sou capaz de o convidar mais depressa para jantar em minha casa do que a várias pessoas que partilham das minhas convicções ideológicas.
Título e Texto: Luis Osório, Facebook, 16-10-2019

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