Leonardo
Desideri
O presidente Jair Bolsonaro viveu dias conturbados em sua visita
a países orientais, entre os dias 22 e 30, mas cumpriu parcialmente o objetivo
de fechar parcerias comerciais e atrair investimentos para o Brasil. Em meio às
polêmicas do vídeo do leão entre hienas e da menção do nome de Bolsonaro na
investigação do caso Marielle Franco, a comitiva do presidente firmou alguns acordos
relevantes na Ásia e no Oriente Médio.
![]() |
Jair Bolsonaro na Future
Investment Initiative (FII). O presidente fechou dezenas de acordos durante a
viagem à Ásia e Oriente Médio. Foto: AFP
|
O presidente começou a viagem no Japão, no dia 22, passou por
China, Catar e Emirados Árabes, e terminou o percurso na Arábia Saudita, nesta
quarta-feira (30).
Veja resultados concretos que Bolsonaro traz da viagem à Ásia e
ao Oriente Médio.
US$ 10 bilhões de investimentos dos sauditas
Um dos principais objetivos do governo brasileiro nesta viagem
era convencer os governos dos países árabes a aumentar o investimento no
Brasil.
Antes da viagem, o secretário de Negociações Bilaterais na Ásia,
Pacífico e Rússia do Itamaraty, Reinaldo Salgado, havia falado que um dos
grandes desafios seria convencer a Arábia Saudita a investir mais no Brasil com
uso de seus fundos soberanos, que somam mais de US$ 800 bilhões.
Os dois países fecharam parceria para um investimento de US$ 10
bilhões – isto é, cerca de R$ 40 bilhões. Segundo Bolsonaro, o valor deve ir
para setores como infraestrutura, óleo e gás, defesa e saneamento. Além disso,
o presidente brasileiro contou que o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin
Salman, “gostaria que uma parte fosse investida para a baía de Angra dos Reis”.
Pelo Twitter, o presidente afirmou que um fundo soberano dos
Emirados Árabes também aumentará os investimentos no Brasil, mas não
especificou o valor desse incremento. A intenção, de acordo com o Twitter de
Bolsonaro, “é investir em portos, estradas, mineração, imóveis e
entretenimento”.
Exportação de carne processada e ração animal para a China
O governo brasileiro assinou com a China protocolos sanitários
para a exportação de carne termoprocessada (por exemplo, carne que é congelada
ou enlatada depois de cozida) e farelo de algodão, que costuma servir como
ração para ruminantes.
Com isso, os dois produtos já podem ser exportados à China por
produtores brasileiros. Protocolos sanitários servem para diminuir o risco de
transmissão de pestes ou pragas endêmicas de um país a outro.
Em 2018, a China importou US$ 25 milhões em carne bovina. Com a
aprovação do protocolo para as carnes termoprocessadas do Brasil, o governo
brasileiro espera um aumento na exportação do produto, que gerou US$ 557
milhões para o país no ano passado.
Em relação ao farelo de algodão, o Brasil ainda tem um mercado
importador muito incipiente do produto, e a China, que no ano passado importou
US$ 4 milhões de farelo de algodão, pode ajudar a impulsionar esse mercado.
Isenção de visto para cataris e chineses
Cidadãos nascidos no Catar e na China, dois dos países visitados
por Bolsonaro, não precisarão mais de vistos para entrar no Brasil. No caso do
Catar, a liberação é recíproca. No da China, é unilateral.
Em relação aos chineses, o objetivo do governo brasileiro é
estimular o turismo e as viagens de negócios. Segundo a embaixada da China no
Brasil, em 2017, 135 milhões de chineses viajaram para o exterior, mas só 62
mil vieram ao Brasil. Das viagens ao Brasil, 69% foram de negócios.
A isenção de vistos para o Catar deve ter pouca repercussão, já
que há só pouco mais de 300 mil cidadãos cataris – o país tem quase 3 milhões
de habitantes, dos quais só cerca de 10% são nativos.
Em março, o Brasil anunciou isenção de vistos para cidadãos de
Estados Unidos, Japão, Austrália e Canadá – em todos os casos, a isenção é
unilateral. Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, já afirmou que há
perspectivas de que a Índia também receba uma isenção de vistos sem
reciprocidade.
Outros acordos que Bolsonaro firmou
Na China, além dos protocolos sanitários, Bolsonaro e o líder Xi
Jinping assinaram outros nove atos, em áreas como pesquisa científica e
energia.
Nos Emirados Árabes, Bolsonaro assinou oito acordos em áreas como
defesa, tecnologia e cooperação aduaneira. Durante a visita a Abu Dhabi,
Bolsonaro falou sobre a necessidade de equipar melhor as Forças Armadas como
uma das justificativas para o interesse do Brasil em acordos no setor de
defesa.
No Catar, o governo brasileiro assinou cinco atos além do acordo
de isenção mútua de vistos. As áreas de saúde, defesa e organização de eventos
foram contempladas. O governo do Catar quer a cooperação do Brasil na
organização da Copa do Mundo de 2022, com base na experiência brasileira como
sede de 2014.
Na Arábia Saudita, foram assinados 13 atos, entre os quais
acordos de cooperação nas áreas de defesa, pesquisa científica e comércio. Além
dos atos assinados, o governo brasileiro também procurou preparar terreno para
negociações previstas para as próximas semanas.
O líder chinês Xi Jinping virá ao Brasil para a Cúpula dos Brics,
em novembro. Alguns acordos no setor do agronegócio, por exemplo, já começaram
a ser discutidos na China, mas só devem ser fechados durante esse novo
encontro.
Também em novembro, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe,
deverá vir ao Brasil. Espera-se que os dois governos discutam o acordo
comercial entre Mercosul e Japão durante o novo encontro. Já se previa que não
haveria tempo para formalizar essas negociações durante a visita que Bolsonaro
fez a Tóquio nos dias 22 e 23.
Título e Texto: Leonardo
Desideri, Gazeta do Povo, 30-10-2019, 22h22
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não aceitamos/não publicamos comentários anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-