Onde estão as notícias sobre a manifestação
em que a bandeira portuguesa foi apresentada como um símbolo do escravagismo e
do racismo? Não estão. O folclore do homem de saias cobre a realidade.
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Foto: Miguel A. Lopes/LUSA |
Helena Matos
O vídeo continua por mais
alguns minutos. Foi efetuado durante uma manifestação em frente à Assembleia da
República na passada semana. Qual manifestação? Provavelmente, e sublinho o
provavelmente porque a falta de notícias sobre o assunto é grande, durante a
manifestação de apoio à deputada Joacine Katar Moreira.
Lendo o que se escreveu sobre
a dita manifestação sabemos que esta foi levada a cabo para contrariar os “ataques
e perseguições racistas remetidos à recém-eleita deputada” que “Numa organização espontânea” do Coletivo Resistimos, na
iniciativa ouviram-se ‘slogans’ como “somos todos filhos de imigrantes.
Primeira, segunda, terceira geração” ou “racismo, fascismo, não passarão”, numa
concentração “antifascista, antirracista contra a homofobia e contra o sexismo“ e
ainda que “Além de defender Joacine Katar-Moreira e combater o racismo,o objetivo do Coletivo Resistimos, organizador do evento, foi também alertar para a entrada do Chega no Parlamento.”
Sobre os considerandos
proferidos pelos manifestantes acerca da bandeira portuguesa nem uma palavra.
“Na verdade” como repetia o orador, aquele discurso revelava uma ignorância de
antologia e um fanatismo que nos faz regredir àqueles momentos primordiais em
que o simbólico ainda não fazia parte da nossa capacidade de entender o mundo e
a nós mesmos. Mas, nem isso nem o facto de o vídeo ter ultrapassado as 150 mil
visualizações chegaram para que fosse notícia ou suscitasse o interesse dos
autores de polígrafos e fact check que por uma vez na vida podiam abandonar
aquela linha editorial de pegar na hipótese mais absurda para provar que todos
aqueles que se opõem à agenda esquerdista são, além de mentirosos compulsivos,
uns descerebrados.
Podia repetir o que já escrevi
muitas vezes: o enviesamento esquerdista das redações leva a que não se
noticie não apenas o que parece mal à esquerda, mas sobretudo o que deixa a
esquerda mal na fotografia.
Mas o caso é muito mais grave porque este mecanismo de autocensura é em grande parte responsável pela destruição da convivência, da paz e da tolerância nas sociedades democráticas. Afinal, quando estes coletivos, movimentos, blocos, comités… são apresentados como agrupamentos de vítimas e de pessoas que lutam contra crimes transversalmente condenados – como é o racismo – e depois se apaga o que estes ativismos realmente defendem e dizem, está a permitirem-lhes uma duplicidade que tem minado a sociedade livre e tolerante que já fomos: só esta semana, nas universidades francesas estes “combatentes da liberdade supervisionada por eles mesmos” forçaram a suspensão de uma conferência da filósofa Sylviane Agacinski e de uma formação sobre a prevenção e a detecção da radicalização. Esta última foi vista por algumas associações de estudantes como discriminatória para os muçulmanos. Já Sylviane Agacinski que se destacou na defesa dos direitos dos homossexuais, viu a sua integridade física ameaçada porque entende que as barrigas de aluguer são uma mercantilização do corpo das mulheres. Talvez por ser difícil culpar Bolsonaro ou Trump por estes acontecimentos aguarda-se por melhores dias para lhes dar destaque!
Mas o caso é muito mais grave porque este mecanismo de autocensura é em grande parte responsável pela destruição da convivência, da paz e da tolerância nas sociedades democráticas. Afinal, quando estes coletivos, movimentos, blocos, comités… são apresentados como agrupamentos de vítimas e de pessoas que lutam contra crimes transversalmente condenados – como é o racismo – e depois se apaga o que estes ativismos realmente defendem e dizem, está a permitirem-lhes uma duplicidade que tem minado a sociedade livre e tolerante que já fomos: só esta semana, nas universidades francesas estes “combatentes da liberdade supervisionada por eles mesmos” forçaram a suspensão de uma conferência da filósofa Sylviane Agacinski e de uma formação sobre a prevenção e a detecção da radicalização. Esta última foi vista por algumas associações de estudantes como discriminatória para os muçulmanos. Já Sylviane Agacinski que se destacou na defesa dos direitos dos homossexuais, viu a sua integridade física ameaçada porque entende que as barrigas de aluguer são uma mercantilização do corpo das mulheres. Talvez por ser difícil culpar Bolsonaro ou Trump por estes acontecimentos aguarda-se por melhores dias para lhes dar destaque!
Por cá e por agora as
declarações sobre a bandeira proferidas na manifestação em frente ao parlamento
são omitidas até que um dia se considere que a “sociedade já está suficientemente
amadurecida” (ou seja anestesiada) para que lhe seja imposta essa alteração. Só
que nesse momento, e ao contrário do que acontece agora, já ninguém
estranhará nada porque, entretanto, se terá normalizado mais este absurdo. E
não, menos importante, aqueles que se lhe opuserem serão apresentados como reacionários,
portadores de um discurso de ódio ou da maleita que na época servir para
declarar os novos pestíferos.
O que faz o homem de saias no
meio disto? Distrai. Distrai da agenda totalitária. Distrai daquilo que esses ativistas
estão dispostos a fazer para ser poder. Distrai da falta de preparação de boa
parte deles. Até nos distrai dessa espantosa circunstância de um deputado
ter um assessor. Para quê, senhores? Para quê? Para mais um assessor que entre
outras coisas tem um péssimo gosto para saias: acredite o senhor assessor que
isto de escolher uma saia não é como enfiar o primeiro par de calças a que se
deita a mão. Uma saia pode ser mini, midi ou maxi, pregueada, com machos,
traçada, folhos, lápis ou evasée. Para já sugiro que adopte o senhor assessor o
visual de pauliteiro de Miranda, homens que há séculos usam umas belas saias, cujos folhos
valorizam os movimentos e pormenor não despiciendo são complementadas com umas
meias e umas botas que o poupavam a si a esse look monástico de cabide andante.
E a nós, perante a passagem de uma esquerda que aspirava a instaurar uma ditadura enchendo
a Assembleia de operários de capacete e fato de macaco para os presentes
esquerdismos da deputada negra, da deputada gaga e do assessor de saias, só nos
resta constatar que em política as espécies nem sempre evoluem.
PS. Dada a presente fixação
no escravagismo praticado é de estranhar que o julgamento em França de Gabriel Mpozagara e da sua mulher não tenham merecido pelo menos uma referência. Antigo ministro
do Burundi, Gabriel Mpozagara, que até conta no seu curriculum com cargos na
ONU, tem sido acusado de escravizar compatriotas seus que alicia para virem
trabalhar em França. A complacência dos ativistas europeus e norte-americanos com a
corrupção, nepotismo e crueldade de muitos políticos e dirigentes africanos vão
do escandaloso ao criminoso.
Título e Texto: Helena
Matos, Observador,
27-10-2019, 7h08
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