Na Suécia a estratégia de combate ao
coronavírus resultou numa taxa de mortalidade escassas nove vezes superior à da
vizinha Finlândia. Mas como Stefan Löfven não se chama Donald Trump...
Tiago Dores
Ora aqui está uma acusação que
jamais será proferida, ou sequer insinuada, num telejornal português. E por quê?
É simples. Porque Stefan Löfven [foto] não se chama Donald Trump. Stefan Löfven é o
primeiro-ministro sueco e está, por estes dias, a ponderar fechar escolas,
bares e restaurantes. Isto porque, na Suécia, a estratégia de combate ao
coronavírus resultou numa taxa de mortalidade escassas nove vezes superior à da
vizinha Finlândia. Ui, e recordar o banzé que foi quando Trump disse, por
exemplo, que gostava de ter a América de volta ao trabalho na Páscoa. Acaba por
ser bem feito, para lembrar ao presidente norte-americano no que dá não ser um
social-democrata nórdico, alto e louro, mas antes um fascista ianque, alto e
cor-de-laranja.
Já no nosso Portugal, tudo é paz
e harmonia. Que sossego bestial, pá. O PS a não ter de prestar contas de nada a
ninguém, mesmo tendo-nos cativos muito por culpa das cativações de Costa e
Centeno no SNS. Rui Rio a poder, enfim, fazer passar os seus achaques de
autoritarismo por profundíssimo sentido de estado. Os partidos de
extrema-esquerda a usarem máscara, não tanto por causa do coronavírus, mas mais
para conterem a salivação provocada pela perspectiva de nacionalizações em
barda. E mesmo aquela inquietação que há, em todo o lado, por não se saber como
vai ser o futuro, tem solução fácil em Portugal. Basta ir rever o que Manuela
Ferreira Leite andou a desejar em 2009. Sim porque, em 2008, a então líder do
PSD aludiu à suspensão da democracia durante seis meses e veja-se onde estamos
uma dúzia de anos volvidos.
A única nuvem neste céu
límpido, típico dos climas de salvação nacional, é a polémica em torno da
eventual libertação de presos. Eu concordo com a medida. E não é tanto porque a
sobrelotação das cadeias possa provocar um contágio em massa, como aconteceu
nos lares de idosos. É mais por ser urgente arranjar bastante espaço para
encarcerar esses bandidos que andam a furar as regras do estado de emergência
porque lhes apetece ir dar uma volta de carro, às vezes até com os vidros abertos,
imaginem, a pulverizarem vírus por essas estradas fora.
Agora, confesso que me tem
repugnado o silêncio do PAN. Numa altura em que, por todo o mundo, cientistas
testam novas vacinas contra a Covid-19, eu faço uma pequena ideia das toneladas
de ratinhos de laboratório que andam por aí a ser dizimados. É que devem ser
carradas e carradas de fofinhos roedores. E, no entanto, da parte do PAN, há um
silêncio ensurdecedor sobre este verdadeiro ratinhocídio. Creio estarmos
perante um daqueles casos a que se aplica o clássico ditado: “Quando a febre
sobe e a tosse é seca e funda, os militantes do PAN são os primeiros a
abandonar o barco.”
Mas, felizmente, a epidemia
parece mais controlada. E penso termos condições para continuar assim. Desde
que não ouçamos as recomendações da Direção Geral da Saúde quanto ao uso de
máscaras de proteção, claro. Com esta dança do “Tire a máscara”, “Afinal ponha
a máscara”, “Espere, não use a máscara”, “Coloque já a máscara”, claro que uma
pessoa acaba por tocar com os dedos, quiçá infectados, na própria cara! Mais
que não seja porque é mesmo difícil, perante a catadupa de trapalhadas, não
sentir aquela vergonha alheia que nos leva a, por instinto, tapar a face com a
mão.
Enquanto isso, o Ministério da
Educação está a preparar o arranque da telescola, método de ensino que me
levanta imensas reservas. Por um lado, é verdade que torna impossível aos
gazeteiros baldarem-se às aulas e irem fumar para trás do pavilhão de Educação
Física. Por outro, é muitíssimo provável que faltem à mesma, mas desta vez
porque farão zapping para o Sexy Hot. Mas mesmo com os alunos mais estudiosos,
é provável que a telescola não funcione bem. Está-se mesmo a ver o típico
choninhas: “Hum. Ver televisão? Vou antes ler um livro, pois considero o livro
um veículo muito mais efetivo no que à aquisição das valências fundamentais ao
desenvolvimento do meu pensamento crítico diz respeito.” Sacana do marrão. A
tua sorte é a escola estar fechada, se não já estavas a enfardar uns valentes
calduços.
Título e Texto: Tiago Dores,
Observador,
8-4-2020, 0h08
Atualização
ResponderExcluir8 de abril, 20h25
No mundo:
1 495 051 casos/87 469 mortes/ 317 640 recuperados.
Espanha: 146 690 casos/14 673
Itália: 138 422/ 17 669 mortes
França: 113 955/10 869
Brasil: 14 511/720
Portugal: 13 141/380