terça-feira, 7 de abril de 2020

Eutanásia aprovada em Portugal: uma tragédia anunciada

José Carlos Sepúlveda da Fonseca

“Nada de péssimo se faz subitamente”, diz um velho adágio. Isto se pode afirmar da aprovação da eutanásia em Portugal. Foi um longo processo, e nele estavam comprometidos diversos atores.


De um lado, os mentores dos mal-denominados “avanços civilizacionais” (avanços da barbárie, diríamos). Houve partidos políticos, como o Partido Socialista, que na recente campanha eleitoral omitiram de seu programa o polêmico tema da eutanásia, para desse modo escondê-lo do eleitorado e poder conquistar o voto dos incautos, inclusive de muitos católicos. Outro partido ainda, que tenta aprovar medidas legais para quem abandone animais ou os sacrifique, quando estão irremediavelmente doentes, mas que ufanamente propunha a eutanásia. Também grupos de médicos que, violando os mais elementares princípios da ética profissional, se diziam favoráveis a esse “direito” de decidir matar. Vozes coniventes, pois os projetos de lei em análise no Parlamento português mencionavam a necessidade de uma avaliação final de médicos para atender à decisão do paciente de solicitar a “morte assistida”.

Por outro lado — e talvez mais terrível — houve muitos que deveriam ter sido os paladinos da oposição a essa ignominiosa lei, mas neles se encontrou a inércia, a contemporização, a omissão, o descaso, o pragmatismo, as promessas vãs, os acertos de bastidores, o respeito humano de defender princípios definidos. Durante a campanha eleitoral o tema não esteve em debate, e isso quer dizer que ninguém interpelou o então primeiro-ministro socialista sobre a questão da eutanásia, como era dever daqueles que se dizem “oposição”.

É triste dizê-lo, mas nessa oposição entreguista se encontravam muitas autoridades eclesiásticas de projeção. Renunciando à missão específica confiada por Nosso Senhor, de ensinar a todos os povos, preferiram empurrar o debate para o campo de um humanismo vago e sem fé, de uma defesa da vida sem valores transcendentes, de uma religião ecumênica e sem definições doutrinárias. Houve até quem sugerisse que a “morte assistida” (infame eufemismo para a solução final) era apenas uma questão constitucional. Houve um recém-nomeado Cardeal que desenvolveu em artigo “as dez razões civis (!) contra a eutanásia”; e à última hora, sem ardor e sem verdadeiro empenho, mas para limpar a face, introduziu o pedido mal explicado de um referendo.

Esta “oposição” parecia só ter como finalidade diluir a força da reação, lançando a anestesia entre os que deveriam reagir.

É fora de dúvida que nesse entreguismo derrotista projeta-se negativamente a figura “kerenskiana” do Presidente da República. Católico, sempre pronto ao espetáculo das selfies ou a pontificar sobre a Constituição e os valores da “democracia”, em episódios carregados de demagogia que alimentam o politicamente correto. Mas de uma omissão cúmplice quando se tratava de defender, por exemplo, esse bem inalienável que é a vida.
(...)
Título, Imagem e Texto: José Carlos Sepúlveda da Fonseca, ABIM, 7-4-2020

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