Victor Grinbaum
“Osama Bin Laden não morreu! Tudo não passou de uma armação midiática de Barack Obama para lhe garantir a reeleição.”
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Osama bin Laden. Foto: DR |
Como diria minha avó numa hora dessas: “nem bem o defunto esfriou e já começaram com a fofoca”. Na verdade, não se passaram nem 24 horas desde o anúncio oficial da morte do líder terrorista e as inevitáveis teorias da conspiração já pululam pelo mundo. A que garante que Obama escolheu a dedo a hora de matar seu quase xará é a mais light de todas. Não vou me dar ao trabalho de enumerar todas as historinhas que já li por aí, pois acredito que qualquer um que esteja na frente de um computador hoje já as viu em número suficiente.
Teóricos da conspiração são pessoas curiosas. Eles não acreditam que Elvis Presley tenha morrido em 1977 mas juram que Paul McCartney está morto há 45 anos e que esse coroa que roda o mundo por aí não passa de um sósia. E como até o momento não foi divulgada uma foto do cadáver de Osama, já se ouvem as frases de “eu não disse?” e “bem que eu desconfiava” por aí.
Entendo a sanha com que as pessoas querem ver uma foto de bin Laden morto. Mas poucas são capazes de admitir que querem isso apenas para satisfazer uma curiosidade mórbida. Veja o caso dos atropelados: quem não pára para espiar o corpo de uma vítima de acidente na rua? Aliás, há coisas que eu nunca consegui entender. Por exemplo, como é que surge com tanta rapidez o sempiterno plástico preto com que cobrem os mortos nas ruas? E quem providencia as velas que parecem brotar já acesas do asfalto? Este pio processo de velório espontâneo é automático e não há quem saiba me dizer quem providencia os apetrechos. Mas já estou me perdendo do assunto principal...
Todo detetive de filme ou de romance policial diria que “sem corpo não há crime”. É deste ponto que partem teorias que perduram há décadas. Muitos creem que nunca se soube ao certo como Hitler morreu. Na verdade, sabe-se perfeitamente como ele se matou em seu bunker e que destino seus últimos asseclas deram aos seus despojos. Mas como nunca se divulgou nenhuma foto de seu cadáver e nem mesmo uma lasquinha de osso, ainda há quem acredite que Hitler esteja escondido na Argentina, esperando para voltar ao poder e finalmente dominar o mundo. E olhe que Hitler faria 122 anos no mês passado!
Existem alguns desejos ocultos por trás das mentes dos adeptos da “parahistoriografia”. Para muitos, a História com agá maiúsculo se confunde com a história com agá minúsculo. Inclusive houve um tempo em que quiseram salientar essa diferença, criando a palavra “estória” no idioma português, tal como no inglês existe “story” e “history”. Não colou, mas muitos encaram a História como uma estória, onde finais alternativos são possíveis, bastando que surja alguém que os escreva. Cada teoria conspiratória na verdade é a revelação e a projeção do desejo oculto de um indivíduo (ou de um grupo). Assim é alguns dos fãs de Elvis Presley ainda esperam que o Rei do Rock ressurja com seus babatchubas em uma turnê. Ou que admiradores do nazismo negam o Holocausto.
Desde que Stalin inventou o Photoshop para retirar Trotski de seu álbum de fotos que as coisas andam meio estranhas. Manipulações políticas realmente são frequentes e há mesmo algum método nessa loucura coletiva. Na época das operações militares de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza foi comprovado que alguns fotógrafos manipularam imagens para aumentar a impressão de destruição nas cidades atacadas. Já os americanos evitaram ao máximo a divulgação das fotos de caixões de soldados mortos em combate no Afeganistão e no Iraque. Mas tais exemplos foram facilmente comprovados. E para um teórico da conspiração quanto mais facilmente algo é desmentido mais evidente fica o oposto. Paradoxalmente nenhuma teoria dessas prospera sem a ausência, pois quanto menos provas se obtêm, mais se “comprova” a eficiência dos “agentes ocultos”, capice?
A grande realidade é que os EUA (leia-se Obama) perderam uma grande oportunidade de atacar o terrorismo em seu ponto mais fraco. Explico: a lógica do Terror é totalmente sustentada pelo efeito midiático. Pouco importa para o terrorista se suas ações matarão muitas ou poucas pessoas. O que lhe importa é o efeito que a ação terá sobre os vivos. Despertar a paranoia e obliterar símbolos é que constitui o objetivo final do terrorista. E a mística do terrorista-suicida, um ser sem nome, sem rosto, misturado à multidão, surpreendente e traiçoeiro, é a mais eficiente de todas. Talvez Osama bin Laden jamais tenha matado uma mosca com suas próprias mãos, mas se prestava ao papel de inspirador para milhares de seguidores. Sem um corpo, bin Laden não desaparece com a morte, mas muito antes disso. E quanto mais desaparecido, mais aparecido ele estará para aqueles que verdadeiramente executam suas ideias.
Ao sentarem Saddam Hussein num banco de tribunal, os iraquianos desmontaram mais de 30 anos de um cuidadoso trabalho de construção mítica. Que efeito extraordinário era ver o mesmo ditador que se exibia com um fuzil nos palanques agora curvado na presença de um juiz. Não foi à toa que deram um jeito de contrabandear um celular com câmera para junto do patíbulo onde o iraquiano foi enforcado. Era preciso não apenas executar Saddam, mas registrar seu corpo pendente, para que todos se convencessem de que os mitos também morrem. E o que dizer do julgamento de Adolf Eichmann que Hannah Arendt já não tenha dito?
Obama garantiu a imortalidade de Osama ao dar um fim “islâmico” ao seu corpo. Nem mesmo o próprio defunto poderia planejar um fim mais adequado à sua causa que este.
Victor Grinbaum, 02-05-2011, via "Resistência Democrática"
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O chefe da Al-Qaeda, cuja morte foi confirmada por Barack Obama, não era apenas o “inimigo número um da América”, mas do islão. A maioria das suas vítimas foram muçulmanos.
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