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Foto: AD |
Gilney Tosta
Fui uma criança diferente quando o assunto era
música. A música que eu ouvia era Bossa Nova ou a MPB. Cresci ouvindo Bethânia,
Caetano, Chico, Gal, Gil, Nara… numa cidade onde esse tipo de música reinava,
Então cresci e descobri que falar mal de outros
estilos musicais, não tinha a ver com o fato de não gostar do estilo, e sim que
devemos respeitar os diversos gêneros musicais. Por isso, quando o assunto é
música, na primeira oportunidade alguém diz que odeia pagode, forró, funk,
sertanejo… Mesmo que o foco do assunto seja outro. Mesmo a música em questão
sendo outra.
Qualquer pessoa nesse imenso planeta Terra sabe
que a música “Ai se eu te pego” contaminou o mundo. Por isso, nesta
crônica vou me limitar a falar do sucesso do cantor Michel Teló que tem dado o
que falar. Afinal, vim trazer a minha parcela de participação à discussão
saudável. Sei que esse assunto é delicado, muita gente critica simplesmente por
criticar, às vezes nem sequer parou para escutar a música que está criticando.
Na verdade, depois de ler a carta que o Bruno
Medina, do Grupo “Los Hermanos”, escreveu ao Teló (leia no final desta crônica)
e navegar por vários textos na internet (todos comentando o sucesso da
música, alguns pesando a mão na agressividade), resolvi
escrever também.
É engraçado que nessa história, o brasileiro que
fala mal do cantor é o mesmo que paga fortunas para ver shows de bandas
internacionais de talento duvidoso, com músicas muito piores do que “Ai, se eu
te pego”. Por que a gente pode consumir músicas grudentas de gringos e os
gringos não podem fazer o mesmo com um produto nosso? Calma, gente… É só uma
música! Aqui no Brasil não demos tanta importância pelo fato de termos tantas
outras musiquinhas explodindo o ano todo. (mulher não deixa não)
O que as pessoas têm que ter noção – é que nenhuma
música bombou (como dizem os brasileiros), nos últimos anos em toda a mídia
como a música ‘Ai, se eu te pego’, do Michel Teló. Por sinal, uma música velha
que já vinha sendo executada há muito tempo na Bahia pela banda Cangaia de
Jegue.
Jamais compreenderei porque tanto estardalhaço por
conta do Michel Teló. Ele está fazendo sucesso com uma letra banal de refrão
grudento e ritmo dançante. E daí? Isso por acaso é novidade no Brasil? Por favor,
vamos segurar, isto é, relembrar “É o tchan”, “Cada um no seu quadrado”… Aqui
apenas digo: deixem o menino em paz! Ele tá feliz, fazendo o que gosta e,
melhor, ganhando a vida com isso. E vai fazer a sua primeira turnê
internacional! Aqui posso dizer: Viva Teló!
O nosso saudoso maestro e compositor Tom Jobim,
costumava dizer que no Brasil sucesso é ofensa pessoal. Sucesso internacional,
então nem é bom comentar. Para ser mais explícito, o cantor é magnético, tem
uma boa voz e a música se resume a um refrão-chiclete. Ponto final. Sucesso é
isso. E o bacana do sucesso é que ele não tem um porquê, não tem fórmula.
Tenho sã consciência que existem inúmeros artistas
em busca da fama, ou seja, tem mais gente talentosa na estrada. Assim como
existem músicas melhores que deveriam fazer o mesmo sucesso estrondoso? Sim,
certamente. Assim como muitas cantoras infinitamente melhores do que a Lady
Gaga também poderiam estar por aí, brilhando sem playback e enchendo o cofrinho
de dinheiro. Mas aprendi cedo que a vida não é justa. E que a sorte conta
muito, assim como a persistência.
Caetano, Chico, Roberto Carlos, Michel Jackson,
Elvis, Madonna… Todos geniais! E todos criticados em algum momento das suas
vidas. Não estou comparando Michel Teló a eles, jamais! Até mesmo porque não
posso, pois são gêneros diferentes. Estou apenas dizendo que sucesso sempre vai
gerar críticas. E que bom que a gente vive numa democracia, onde todo o mundo
que tem uma opinião formada sobre tudo pode mostrar essa opinião a quem quer
que seja, nas redes sociais e nos blogs. (link) Mas crítica é crítica,
agressividade é outra coisa. Não gosta da música? É só não ouvir, ou melhor,
não fale nada, que é bem mais elegante. Como dizem por aí, a inveja é o maior
dos elogios.
Para finalizar esta contribuição e sem desmerecer
o trabalho de Michel Teló, dos seus produtores e empresários, mas “Ai se eu te
pego” não ficou famosa apenas pelo conteúdo altamente filosófico e cultural ou
pela dancinha combinada das mocinhas, que mesmo com um micro vestido a conseguem
executar. Ficou famosa porque teve exposição excessiva… o que por sua vez gera
mais exposição e mais fama.
Título e Texto: Gilney Tosta, na “Brasileirinho”,
março de 2012
Carta Aberta a Michel Teló
Bruno Medina
Prezado Michel,
Antes de mais nada, feliz
2012! Espero que sua noite de réveillon tenha sido memorável; a minha com
certeza foi, visto que, na festa em que estive, a chegada do novo ano foi
relegada a segundo plano devido a batalha campal que se deu entre o grupo que
queria ouvir “Ai se eu te pego” em looping até o amanhecer e o outro, que não
desejava escutar a música sequer uma vez. Ao invés de comer uvas ou pular 7
ondinhas, os presentes preferiram se dedicar a calorosas discussões sobre temas
como direito de expressão, identidade cultural brasileira e tolerância, com
direito a argumentos do quilate de “é proibido proibir” e “não quer ouvir, tape
os ouvidos”.
Como se não bastasse, minha
mulher – que por razões injustificáveis ainda não conhecia o hit do verão –
deixou o local entoando os versos criados por Axé Moi (também conhecida pela
Dança do Quadrado), só que errado (ai, delícia, se te pego/ai, delícia, se te
pego), o que apenas contribuiu para que a referida música se apoderasse do meu
cérebro tal qual o exército americano fez com o território afegão em sua
cruzada anti-terrorismo. Apesar da gravidade dos fatos descritos, saiba que não
guardo rancor de você. Afinal, eu mais do que ninguém sei o que é estar a
frente de uma canção que fugiu do controle. Na época em que Anna Júlia foi
lançada, ao menos, não havia Youtube, o que certamente poupou nossos detratores
da infindável proliferação de clipes da música, protagonizados por bêbados
gregos dançando em Ibiza ou por italianos solitários cantando o refrão pegajoso
em frente a webcam.
Ao assistir ao vídeo que
registra soldados israelenses pulando feito bobos da corte ao som de “Ai se eu
te pego” no meio do deserto, tive a impressão de que o sentimento que a cena
deve despertar em você seja algo semelhante a quando conheço uma menina de 12
ou 13 anos que se chama Anna Júlia. É estranho, e ao mesmo tempo fascinante,
quando uma música nossa passa a fazer parte assim da vida das pessoas, né?
Agora imagine o que não está por vir no trilho dessa versão que você acabou de
gravar em inglês? A internacionalização do nosso hit, não sei se você lembra,
além de regravações em espanhol, italiano e inglês, rendeu nada menos do que
uma participação de George Harrison, fato que até hoje nos enche de orgulho.
Bom, independente do que
acontecer daqui pra frente – e não sei se isso serve bem de consolo – acredite
que provavelmente daqui a dez anos você ainda será amado ou odiado por causa de
“Ai se eu te pego”, portanto faço votos sinceros de que consiga construir um
legado musical consistente o bastante para evitar que todo seu trabalho seja
tomado por uma só música.
Antes de correr o risco de me
estender demais, gostaria de desejar que sua turnê internacional, que se inicia
agora em janeiro, seja a primeira de muitas. Aliás, não seria mau se você
resolvesse passar logo todo o ano de 2012 viajando pelo mundo. Nada pessoal, é
só uma precaução com o meu cérebro. Para terminar, um único pedido: da próxima
vez que gravar uma música, em prol da sanidade mental de milhões de pessoas,
por favor, considere não criar dancinhas.
Um abraço,
Bruno Medina, no seu blogue
“Instante Posterior”, 04-01-2012
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Bela crônica. Parabéns ao cronista.
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