Fernando Gomes da Costa
Por 100 dólares (preço da
caução), e sem qualquer risco, George Clooney apareceu durante 3 dias em tudo o
que é TV, jornais, rádios, e ganhou ainda mais estatuto num meio onde a imagem
é quase tudo.
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Foto: Reuters |
Numa indústria onde se vive da
devoção do público, da bajulação da imprensa, e há que evitar reparos por se
ter um estilo de vida ultra-luxuoso e ganhar muito dinheiro sem grande esforço,
este tipo de abnegadas exposições é sempre um bom investimento. Basta ver,
desde Hollywood até ao nosso provinciano meio dos “famosos”, o afã com que uma
grande parte de preocupados humanitaristas apadrinha causas, afã só superado
pelo cuidado em que isso se veja.
Como se pode avaliar pelo
sucesso de um Sean Penn, Oliver Stone, ou Susan Sarandon (promover ditadores
marxistas), Leonardo di Caprio, Schwarzenegger, ou Al Gore – sim é um
verdadeiro artista – (eco-catastrofismo e fim do modo-de-vida-como-eles-vivem),
Michael Moore ou o muito nosso Abrunhosa (dizer mal dos sistemas políticos em
que não prescindem de viver), passando por causas mais sensatas como o Tibete
(Richard Gere) ou refugiados (Angelina Jolie), este tipo de inquietações,
sobretudo se alinhadas pelo politicamente correcto – que já foi à direita,
agora é à esquerda, e no futuro deverá ser uma “verdura” qualquer – são para
estas pessoas, até quando são sinceras, um excepcional veiculo promocional e
escudo de defesa do seu incomensurável bem-estar e privilégios.
Voltando a Clooney, acredito,
até, que convictamente queria apenas chamar a atenção para um problema que, tal
como eu, achará dramático. Só que o que objectivamente se passou é uma cabal
demonstração da moral vigente. Senão vejamos:
Em todas as notícias, faladas,
escritas ou televisionadas, o assunto central foi Clooney ser preso, e foi só
por isso que houve notícias. O Sudão, o seu repulsivo sistema político e os
milhares de vítimas, apenas aparecem colateralmente como uma exótica
justificação para o grande problema: um artista com causas ser preso num regime
capitalista.
Na sequência do que se passou,
ainda não vi, nem isso será provável, uma reportagem de denúncia do que se
passa no Sudão, embora mesmo agora esteja a passar na TV, pela 5ª ou 6ª vez
hoje, uma indignada e patriótica crónica sobre a desrespeitosa atitude de
Drogba quando soube que ia defrontar o Benfica. É evidente que as coisas não se
comparam em gravidade, mas, que diabo, morrerem uns pretinhos no Sudão também
impressiona.
Quem se der ao trabalho de ler
os posts nos jornais on-line e blogs sobre este episódio, vê que o enlevo e a
raiva da maioria das pessoas se centram no sexy Clooney (o enlevo) e em dizer
mal dos americanos, dos regimes pró-ocidentais, ou do Papa (é verdade, eu li…)
e marimbar-se no Sudão (em certos regimes, para mais africanos, não se toca).
Apesar de tudo, no que ao
Sudão se refere, os média preocupados e militantes de causas, irão ao menos
passar a ter uma reacção sempre que no futuro se falar das suas misérias: “Ah!
Aquela ditadura por causa de quem o Clooney foi preso pelos americanos? Abaixo
o capitalismo!”
Título e Texto: Fernando Gomes
da Costa, no blogue “O Insurgente”
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