terça-feira, 20 de março de 2012

As causas das Causas - George Clooney e o Sudão

Fernando Gomes da Costa
Por 100 dólares (preço da caução), e sem qualquer risco, George Clooney apareceu durante 3 dias em tudo o que é TV, jornais, rádios, e ganhou ainda mais estatuto num meio onde a imagem é quase tudo.

Foto: Reuters
Numa indústria onde se vive da devoção do público, da bajulação da imprensa, e há que evitar reparos por se ter um estilo de vida ultra-luxuoso e ganhar muito dinheiro sem grande esforço, este tipo de abnegadas exposições é sempre um bom investimento. Basta ver, desde Hollywood até ao nosso provinciano meio dos “famosos”, o afã com que uma grande parte de preocupados humanitaristas apadrinha causas, afã só superado pelo cuidado em que isso se veja.
Como se pode avaliar pelo sucesso de um Sean Penn, Oliver Stone, ou Susan Sarandon (promover ditadores marxistas), Leonardo di Caprio, Schwarzenegger, ou Al Gore – sim é um verdadeiro artista – (eco-catastrofismo e fim do modo-de-vida-como-eles-vivem), Michael Moore ou o muito nosso Abrunhosa (dizer mal dos sistemas políticos em que não prescindem de viver), passando por causas mais sensatas como o Tibete (Richard Gere) ou refugiados (Angelina Jolie), este tipo de inquietações, sobretudo se alinhadas pelo politicamente correcto – que já foi à direita, agora é à esquerda, e no futuro deverá ser uma “verdura” qualquer – são para estas pessoas, até quando são sinceras, um excepcional veiculo promocional e escudo de defesa do seu incomensurável bem-estar e privilégios.
Voltando a Clooney, acredito, até, que convictamente queria apenas chamar a atenção para um problema que, tal como eu, achará dramático. Só que o que objectivamente se passou é uma cabal demonstração da moral vigente. Senão vejamos:
Em todas as notícias, faladas, escritas ou televisionadas, o assunto central foi Clooney ser preso, e foi só por isso que houve notícias. O Sudão, o seu repulsivo sistema político e os milhares de vítimas, apenas aparecem colateralmente como uma exótica justificação para o grande problema: um artista com causas ser preso num regime capitalista.
Na sequência do que se passou, ainda não vi, nem isso será provável, uma reportagem de denúncia do que se passa no Sudão, embora mesmo agora esteja a passar na TV, pela 5ª ou 6ª vez hoje, uma indignada e patriótica crónica sobre a desrespeitosa atitude de Drogba quando soube que ia defrontar o Benfica. É evidente que as coisas não se comparam em gravidade, mas, que diabo, morrerem uns pretinhos no Sudão também impressiona.
Quem se der ao trabalho de ler os posts nos jornais on-line e blogs sobre este episódio, vê que o enlevo e a raiva da maioria das pessoas se centram no sexy Clooney (o enlevo) e em dizer mal dos americanos, dos regimes pró-ocidentais, ou do Papa (é verdade, eu li…) e marimbar-se no Sudão (em certos regimes, para mais africanos, não se toca).
Apesar de tudo, no que ao Sudão se refere, os média preocupados e militantes de causas, irão ao menos passar a ter uma reacção sempre que no futuro se falar das suas misérias: “Ah! Aquela ditadura por causa de quem o Clooney foi preso pelos americanos? Abaixo o capitalismo!”
Título e Texto: Fernando Gomes da Costa, no blogue “O Insurgente

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