Carlos Lúcio Gontijo
Sou apenas um cidadão
provinciano que, levado pelo exercício da literatura, terminou por editar
livros, atendendo ao clamor das palavras, que somente ganham alma através da
poesia. Muitas vezes imagino que, sem o toque poético, a palavra é simples
instrumento de permuta, compra e venda nos balcões do materialismo que se
estendem mundo afora.
Tempo de viver em cidade
grande venceu e eu retornei à minha Santo Antônio do Monte, leito dos meus
passos, mirante do qual vejo preocupado crianças e jovens entregues ao âmbito
da construção virtual, enormemente potencializado pelo avanço da internet,
sinalizando-nos que, em breve, não haverá troca de olhares. Ou seja, as pessoas
se encontrarão sem se incomodar nem com nomes nem com qualquer sentimento de
afeição, para uma relação sexual casual, na mera condição de corpos.
Assisto, com amargura no
peito, ao ser humano exposto, como simples ameba, diante da imensidão de
informações que as novas tecnologias lhe possibilitam, sem nenhum esforço na
análise de conteúdo ou interesse em se aprofundar naquilo em que apenas correu
os olhos. É como se a superficialidade fosse a inconfessável meta a ser
alcançada, dentro de uma cultura que toma a reflexão como indesejável fonte de
sofrimento.
Num quadro social do futuro,
deparar-nos-emos com uma sociedade geradora de cidadãos desprovidos de memória
e sem a experiência de saudades no coração, quando então aflorará a
incapacidade de extrair e dar sonoridade ou mesmo novas vestes à palavra, que
se verá prisioneira dos dicionários amarelecidos e completamente empoeirados
pelo contínuo abandono em meio ao deserto de inventiva e criatividade em seu
uso como expressão de sentimento esvoaçante, alado e tão-somente tangível pelas
mãos da poesia.
Estou para lançar meu 14º
livro (o romance “Quando a vez é do mar”) e o faço sem vislumbrar patamar de
estrondoso sucesso, aos moldes de festejada celebridade, basta-me a sensação de
autor bem-sucedido e disposto a fazer da minha literatura um veículo de
comunicação com outras mentes. Tanto é verdadeira esta proposição que a maior
parte da edição será destinada a bibliotecas comunitárias e escolas rurais.
Planejo uma sessão aberta de autógrafos e distribuição gratuita de livros na
biblioteca comunitária que leva o meu nome, no Bairro Flávio de Oliveira, em
Santo Antônio do Monte, como forma de inserir um pouco de literatura e poesia
em um contexto adverso, aonde a arte da palavra escrita raramente chega.
Perdoem-me os que tecem
glamour em torno da atividade literária, alçando o autor a uma espécie de
“deusinho”, a quilômetros de distância do leitor, o que em muitos casos
dificulta a criação de hábito, ou melhor, de gosto pela leitura, uma vez que os
estudantes jamais ou quase nunca têm a oportunidade de contato pessoal com os
autores.
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Imagem retirada daqui |
Foram muitas as vezes em que
preguei a necessidade de indicação regionalizada de livros de literatura para
as instituições de ensino, com o objetivo tanto de facilitar a aproximação
entre escritores, poetas e leitores, quanto para favorecer o aumento da edição
de livros país afora. Isso sem falar que a maneira regional de se expressar
contida em cada obra funcionaria como mecanismo de estímulo aos leitores, que
se perceberiam mais próximos e representados na narrativa.
Claro que todo esse enunciado
acima descrito é o meu destilar de autor movido, única e exclusivamente, pelo
combustível do mais puro idealismo, que usa o seu trabalho literário como
ferramenta de conscientização e de luta em prol do soerguimento de um mundo melhor,
como declaro no verso de um poema há muito trazido à luz (O ser poetizado), no
qual procuro passar a ideia de que história verdadeira cheira a berço e que
homem realista tem apreço por estrela, numa tentativa de alertar que a raça
humana corre grande risco por estar sob o comando dos não poetas (os maus
poetas no meio), dos que menosprezam os milagres divinos que se multiplicam
todos os dias, explicitamente, ao nosso redor, tornando cada vez mais
verdadeira a assertiva que publiquei no romance “Jardim de Corpos”: Quem não
acredita em milagre, vive sob o milagre de em nada acreditar.
Título e Texto: Carlos Lúcio
Gontijo, Poeta, escritor e jornalista
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