Pedro Fernandes Antunes
A realidade torna a opinião de Louçã, Soares ou mesmo do Syriza na
Grécia, irrelevante. O mundo simplesmente não funciona como eles gostariam...
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Francisco Louçã, foto: António Pedro Santos |
Louçã, Soares e outros querem
rasgar o acordo com a troika. Justificam isso com a ideia de que austeridade e
crescimento são duas coisas incompatíveis.
Este tipo de conversa faz
lembrar criacionistas versus evolucionistas nos Estado Unidos. Os primeiros
escolhem num conjunto de dados e factoides e reinterpretam de forma a confirmar
a sua visão do mundo. Os segundos investigam e analisam os dados e depois
chegam a uma visão do mundo. Dá para ver bem a diferença!
Na cabeça desta esquerda
anti-capitalista e anti-liberal estão os seguintes pressupostos: i) Os
portugueses querem o fim das políticas da troika – confirmando o seu sentimento
de “wishful-thinking” que os portugueses se estão a rebelar contra a troika e o
governo; ii) O Estado pode substituir-se aos mercados para um resultado mais
eficiente – confirmando a sua visão totalitarista do Estado como o garante de
bem-estar – podendo-se assim substituir a austeridade pelo crescimento
económico.
O primeiro ponto é fácil de
rebater. Manifestações e greves cada vez com menos adesão e as sondagens que
têm sido feitas mostram três tendências claras (veja-se a última da
Eurosondagem):
1) Os partidos “da troika” ganhariam as eleições com mais de 77%
dos votos;
2) Os partidos “anti-troika” teriam menos de 15%;
3) O Governo perde apoio por parte da população, mas a política
geral (troika) ganha.
Estas três tendências, confirmadas sondagem após sondagem, são uma clara indicação que esta esquerda tem pouca
noção do país. Dá a impressão que veem o que querem ver e ignoram todos os
outros dados.
O segundo ponto é mais
complexo. Antes de mais é preciso perceber que a necessidade da substituição do
mercado pelo Estado é uma falsa questão, como também o é o antagonismo
austeridade/crescimento.
É verdade que investimento do
Estado (vamos assumir por instantes que o Estado nunca cria elefantes brancos)
pode reduzir desemprego. Um apoio às indústrias preferidas de um governo
aumenta os níveis de emprego, no curto-prazo. Isto parece confirmar a visão do
mundo de Louçã e Soares. O problema é que se o Estado apoia indústrias que não
se estão a aguentar nesta crise sozinhas está a apostar num cavalo doente. É
insustentável e um desperdício do dinheiro do contribuinte. Pior, normalmente essas
intervenções do Estado criam a possibilidade para corrupção e situações de
crescimento económico e empregabilidade fictícios, escondendo as verdadeiras
falhas estruturais até que uma nova crise obrigue a um esforço ainda maior de
correção.
A austeridade é (ou deve ser)
traduzida numa redução da dimensão do Estado na economia. Isto mitiga questões
de crowding-out, desocupando-se a economia para os privados, e possibilita a
descida futura dos impostos. Este espaço libertado dá latitude aos privados (todos
nós) para se mexerem e inovarem em novas indústrias, as quais permitem o
verdadeiro crescimento económico e redução do desemprego... sustentável. Não é
a austeridade que faz a economia crescer. É a austeridade que viabiliza as
condições de longo-prazo que permitem a iniciativa privada, a criação de
emprego e o crescimento económico sustentável. realidade torna a opinião de
Louçã, Soares ou mesmo do Syriza na Grécia, irrelevante. O mundo simplesmente
não funciona como eles gostariam... e na minha modesta opinião, ainda bem!
Título e Texto: Pedro
Fernandes Antunes, jornal "i", 21-05-2012
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