A nossa perceção sobre as
coisas é importante. Mas é muitas vezes enganadora. Não fosse assim e
dispensaríamos a matemática. E a matemática é uma ciência exata, não deixando
margem a interpretação.
Ainda assim, no caso da
manifestação de sábado, a perceção de quem visita um estádio de futebol ou um
concerto rock, onde sabemos com precisão quantas pessoas lá estão, deveria
dar-nos um indicador forte da quantidade de pessoas que ontem se possa ter manifestado,
realmente, em Lisboa e no Porto. Mas à falta desse senso comum, vamos à
matemática.
Todos sabemos o que é um metro
quadrado. É um quadrado com mais ou menos um passo de adulto de lado.
Imaginemos, pois, um quadrado com um passo de lado. Façamos agora o exercício
sobre quantas pessoas, de pé, caberão nesse espaço. Facilmente concluiremos que
não poderão lá estar mais do que três, muito apertadas, encostadas umas às
outras. É esse o valor médio que normalmente é atribuído a uma multidão junto de
um palco num espetáculo nas primeiras filas e assim se calcula a capacidade de
um pavilhão, por exemplo.
Mais longe do palco, contudo, o valor médio diminui para duas pessoas por metro quadrado (mesmo assim a tocarem-se), sendo normalmente de uma pessoa por metro quadrado nas zonas mais afastadas do palco, mesmo num pavilhão completamente cheio. Assim, os organizadores de eventos consideram normalmente uma média de duas pessoas por metro quadrado.
Mais longe do palco, contudo, o valor médio diminui para duas pessoas por metro quadrado (mesmo assim a tocarem-se), sendo normalmente de uma pessoa por metro quadrado nas zonas mais afastadas do palco, mesmo num pavilhão completamente cheio. Assim, os organizadores de eventos consideram normalmente uma média de duas pessoas por metro quadrado.
É um facto matemático que o
Terreiro do Paço tem no limite 36.100 metros quadrados, decorrentes dos 190
metros de ponta a ponta. Ou seja, o Terreiro do Paço terá uma capacidade máxima
(completamente cheio) de cerca de 72 mil pessoas. Para que isso acontecesse,
teria que não se ver o solo numa imagem aérea e haveria, certamente, pessoas
penduradas em estátuas e outro mobiliário urbano. As entradas e saídas seriam
muito complicadas e demorariam horas.
O Rossio tem cerca de seis mil
metros quadrados. Ou seja, Terreiro do Paço e Rossio complemente cheios dariam
um valor limite de cerca de 84 mil pessoas, sendo que se a multidão estiver em
movimento, uma pessoa por metro quadrado quase torna impossível a marcha, pelo
que estamos claramente a exagerar nos números.
Empolar estes resultados (se
essa situação de lotação tivesse ocorrido e não ocorreu) em mais 20% e chegar
aos 100 mil seria portanto um grande exagero que nenhum matemático poderia
aceitar, mas compreender-se-ia face ao argumento de que uns chegavam enquanto
outros partiam.
Agora imaginemos do que
estamos a falar se um milhão de pessoas se manifestasse em Lisboa!!!
É bom lembrar que Lisboa tem
menos do que 600 mil habitantes.
A avenida dos Aliados, no
Porto, tem cerca de 23 mil metros quadrados. O que, no limite, com pessoas
penduradas nas estátuas e em cima dos canteiros, admite 46 mil pessoas. Agora
imaginemos que lá queremos meter dez vezes mais, sem que ninguém tivesse pisado
uma flor, como hoje se pode verificar no local.
É bom lembrar que o Porto tem
menos de 250 mil habitantes.
Esta é, portanto, a resposta
matemática às dúvidas que foram lançadas durante um fim-de-semana em que o
Terreiro do Paço ficou muito longe de estar cheio e sequer de se comparar ao
que aconteceu, por exemplo, em Setembro último, quando a CGTP lançou uma greve
geral.
O Terreiro do Paço já encheu
por muitas vezes. Missa papal, manifestações de diversa índole, comemorações,
espetáculos. Assim como a Avenida dos Aliados enche frequentemente. Não foi o
caso desta última manifestação. Nem em Lisboa nem no Porto que ficaram a uma
enorme distância das maiores manifestações, em concreto, das últimas.
Não tendo sido a maior, nem
sendo matematicamente admissível que se possam contabilizar mais do que 150 mil
pessoas em todo o país (e não 1,5 milhões como foi anunciado pela organização),
as manifestações realizadas este fim-de-semana tiveram o seu significado. Não é
por terem sido apenas 150 mil pessoas (quase três estádios da Luz cheios) que
deixaram de exprimir o sentimento de muita gente, a sua indignação e deixam de
ser um sinal para os governantes.
Mas há algo que, em nome da
honestidade intelectual de um povo, não podemos ignorar. Esta gente que a
organizou, tirando partido da austeridade a que o País se obrigou após o
anterior Governo nos ter deixado à beira da bancarrota, esta mesma gente que se
diz apolítica e que tanto insulta os políticos e os partidos, nos seus 15
minutos de fama, não resistiu a ser pior do que os que critica.
Multiplicar por dez a presença
do povo numa manifestação pública apenas acontece atualmente na Coreia do
Norte. Mas já tinha acontecido no Kremlin, antes da queda do regime ditatorial
de esquerda. Ah! Também acontecia na Roménia de Ceausescu com os números da
produção agrícola do país onde, como se sabe, se morria à fome e o líder acabou
sumariamente julgado e fuzilado.
Lá, no passado, como cá, no
presente, podemos por isso falar em mentira colossal, não apenas dos ingénuos
organizadores desta manifestação, mas também da imberbe imprensa que comprou o
disparate e, assim, quis fazer do povo português, aquilo que ele não é: uma
carneirada que se deixa usar por ditaduras de esquerda que, em nome da
igualdade, da fraternidade e contra o capitalismo, espezinham os inocentes.
Título, Imagens e Texto: Nuno Nogueira Santos,
04-03-2013
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