Angel Nunes
Era uma vez uma árvore
belíssima. Sua copa criava um grande círculo sombreando os donos e colonos de
uma pequena fazenda. Seus frutos eram deliciosos e dulcíssimos, quem os provava
queria sempre mais. Ninguém atinava a razão de um fruto comum se tornar tão
especial. Qual seria o segredo? A fama de seu sabor começou a se espalhar pela
vizinhança.
Nessa região, havia
fazendeiros abastados e entre eles um que era o mais próspero de todos, dono de
vários alqueires de terra e chamado pelos outros de Senhor Coronel.
Os anos foram passando e os
donos e colonos da fazendola, começaram a enriquecer com a venda dos frutos da
árvore. O sucesso foi tanto que plantaram várias árvores da mesma espécie.
Seus frutos agora eram agora
disputadíssimos. O dono achou por bem criar uma fundação. Um colégio
deliberante decidiria por voto os rumos a serem tomados.
Construíram uma nova casa
sede. Lindas vilas para os colonos, agora em número cada vez maior.
Equiparam-se com os melhores tratores e as ferramentas mais modernas e
importadas. Investiram nos trabalhadores especializando-os. Foram ganhando o mercado internacional,
exportando seus frutos, se firmando como um produto sem similar. Passaram a
abrir escritórios nas cidades onde negociavam para escoar a produção de forma
segura, inclusive fora do Brasil.
Construíram um patrimônio
sólido. Compraram salas, prédios, uma rede de hotéis, locadoras, obras de arte,
enfim, tudo para ampliar seu patrimônio e estabilidade no mercado
financeiro.
A essa altura os patrões
vizinhos articulavam uma forma de se apossar daquele filão. Já haviam descoberto
o fornecedor das sementes, analisado a composição da terra, contratado os
melhores engenheiros agrônomos tentando reproduzir os frutos com a mesma
qualidade, inutilmente. Aquilo os incomodava sobremaneira. Contorciam-se de
inveja e inconformação.
Em dado momento se dirigiram
ao Coronel e expuseram suas queixas. O Coronel que de há muito sentia o mesmo
descontentamento, formou uma aliança para combater a seu ver, uma inadmissível
hegemonia. Nada podia ser mais injusto! O bolo tinha que ser fatiado por todos.
Bem, quer dizer, desde que o Coronel ficasse com a maior parte, afinal ele era
o mais rico, o mais poderoso, com conhecimento em vários setores e ainda com
grande condição de barganhar por troca de favores a ele devidos. Assim
ardilosamente se mancomunaram. A providência imediata, foi a diminuição do
fluxo d'água que tinha sua nascente nas terras do Coronel. Agora era só
aguardar, assistindo de camarote, regozijando-se do triunfo próximo e certo.
Ao perceberem a escassez da
água, os prejudicados foram direto ao Coronel. Este redarguiu que nada podia
ser feito no sentido de reverter a situação. A culpa de toda essa alteração era
da natureza, era um fenômeno natural e de momento sem solução, possivelmente se
resolveria por si só.
Os até ali os afortunados,
donos das árvores de frutos de mel, começaram a pensar em economizar a água
obtendo novas técnicas de irrigação. Confeccionaram novas planilhas de custo,
ajustes, adequações e etc... Os boatos dentro da empresa fervilhavam. A
insegurança se instalava. A administração vigente desmentia a princípio,
procurando transmitir otimismo. Novas aquisições estavam sendo providenciadas.
Uma modernização em grande escala. Equipamentos antigos seriam substituídos por
novos, muito mais produtivos, tudo financiado. Os funcionários receberiam
treinamento específico e as oficinas seriam abastecidas com novas peças de
reposição. Sobrepondo-se as reações internas contrárias, de fato consumaram a
mudança.
A ala conservadora estrilou.
Substituiu a administração que mais à frente foi substituída por uma sucessão
de outras. Os frutos começaram a perder o viço e a prodigalidade, as dívidas
dos financiamentos se acumulavam, a credibilidade se esfacelava. O colegiado
perdera o rumo e oscilava de um lado para outro. Os oportunistas tiravam
proveito pessoal do caos.
Voltaram ao Coronel, este a
custo ocultando sua satisfação, ofereceu uma saída. Queria 95% da empresa. Ou
era assim ou nada feito. Claro que a fundação não aceitou.
O Coronel e seus aliados
babavam de prazer, assistindo a tudo enquanto responsabilizavam a má gestão da
empresa pelo seu desmoronamento.
Como fora meticulosamente
planejado, o fim concretizou-se, a empresa foi esquartejada. As aves de rapina
que a espreitavam se refestelaram, com tudo sendo vendido a preço baixíssimo,
compravam e repassavam com preço superior. Muitos vivem dessa prática até hoje.
Os colonos antigos ficaram
desamparados, sem idade para recolocação no mercado de trabalho, ficaram sem
alternativa, muitos morreram de tristeza. Quanto aos funcionários mais novos,
alguns conseguiram continuar exercendo suas funções, pelo excelente nível de
treinamento que possuíam, dentro e fora do país. Mas a maioria teve que se
virar sabe-se lá como. O coronel arrematou a fazendola loteou e a vendeu.
Ninguém hoje está interessado em saber qual era o mistério dos doces frutos da
árvore, que suscitou tanto desejo e inveja.
Esse segredo está guardado em
partes, nos corações de seus funcionários.
Como num mapa de pirata
rasgado em vários pedaços, não se revela, a não ser que todos os seus corações
fossem postos lado a lado. Como muitos já se foram, nunca mais alguém na face
da terra conhecerá ou provará seu inefável sabor.
Os imbecis se vangloriam, se
tomando por muito espertos. Extremadamente obtusos não percebem que ficaram com
os ovos e mataram a galinha.
Ostento como um tesouro irresgatável, um pedacinho desse segredo no meu coração, toda vez que me encontro com alguém igual a mim, nada precisa ser dito, nossos olhos sorriem e nossos corações se saúdam.
Ostento como um tesouro irresgatável, um pedacinho desse segredo no meu coração, toda vez que me encontro com alguém igual a mim, nada precisa ser dito, nossos olhos sorriem e nossos corações se saúdam.
Título e Texto: Angel Nunes, 22-9-2013
Tomara que esta "árvore" nao morra antes da gente...rsrsrsrsrsrsrsrsrsr
ResponderExcluirHoje é o primeiro dia de Outono aqui nos USA e as árvores começam a ficar coloridas... lindas!!!!!
Minha avó dizia que: "quando se quer muito uma coisa, a gente abraça uma árvore e faz o pedido, que ele se realiza"!!!....então vou encontrar por aqui uma "árvore dos desejos" e abraçá-la MUITO e pedir por todos nós!!!!!! rsrsrsrsrsrs
Ilca Eras
OI ILCA, CONHEÇO A LENDA DE OUTRA FORMA.
ResponderExcluirOS ÍNDIOS QUANDO FICAVAM MUITO CANSADOS DAS CAMINHADAS PELAS FLORESTAS, SE ABRAÇAVAM NAS ÁRVORES PARA RECEBEREM, MAIS ENERGIA, FORÇA E SAUDE.
DE QUALQUER FORMA, ABRAÇAR AS ÁRVORES DEVE SER MUITO BOM.
BEIJOS PARA TODOS
JANDA.
Jonathas Filho
ResponderExcluirKirida Angel Nunes, quase coloquei meu uniforme para que minhas palmas e gritos de "Bravo" ficassem revestidos de azul e dourado. Parabéns pelo texto !!!
O Brasil e o mundo voava nas asas da VARIG . Infelizmente, perdemos a VARIG, perdemos as asas, perdemos o chão, perdemos o ar, perdemos o céu. Ficamos menores, ficamos piores.
Da VARIG o que nos sobrou foram lembranças que diuturnamente acessamos na nossa memória.
Tiraram do ar a maior e melhor empresa aérea da América Latina e “lotearam” o céu que era Variguiano e deixaram o ar do nosso céu com o cheiro de podre da corrupção.
Jonathas Filho.
É, esta versao (sobre a Árvore dos Desejos) dos índios faz muito sentido!!!!!
ResponderExcluirA natureza tinha muito poder na versao indígena!!! E acho que eles estavam certos, embora minha vozinha tinha uma outra interpretaçao, mas também era bonito de ouvir ela falar nas árvores e dizer, inclusive, que quanto mais antiga a árvore, mas poder ela tinha de realizer os desejos....rsrsrsrsrsrs
Um grande beijo!
Ilca.