Quando, em Junho de 2012,
escrevi um artigo em que mudava a minha atitude em relação à Bolsa portuguesa
de pessimista (que durava há quase 5 anos) para optimista, hesitei muito na
hora de carregar na tecla que enviaria o e-mail para a redacção do Jornal de
Negócios. O clima económico era tão negro, o mercado vinha de 5 anos de quedas
que até eu próprio duvidava de mim.

As subidas dos meses seguintes
da Bolsa portuguesa não mudaram o tom da reacção sempre que alguém opina a
favor das subidas no nosso mercado. Os optimistas são quase degolados,
criticados da cabeça aos pés, quase fazendo parecer que são enviados do demónio
para baralharem a cabeça de quem vive a dura realidade da economia portuguesa.
Outro dos momentos em que
senti na pele essa reacção ao optimismo foi quando, no início deste ano, ousei
afirmar que poderia ser possível a economia portuguesa crescer este ano, ao
contrário de todas as previsões. É verdade que isso não vai suceder (apesar da
enorme surpresa que foi o crescimento do PIB no segundo trimestre, o duro
primeiro trimestre comprometeu essa possibilidade), mas a violência das
reacções mostrou bem como é duro ser optimista, actualmente, em Portugal.
O que me assusta é que não é
só nos mercados e na Economia que as opiniões optimistas são alvos de chacota e
críticas ferozes. Quando um empresário está optimista sobre o futuro deste
país, logo é acusado de ser afecto ao governo ou de dizer isso à sombra dos
milhões da sua conta bancária. E, em boa verdade, Portugal está a precisar de
empresários optimistas que acreditem no nosso futuro e invistam na nossa
economia.
Bem sei que o drama social que
tantos vivem, a enorme fatia da população portuguesa que não tem emprego,
contribui para o ódio aos optimistas. Mas não crucifiquem quem não tem culpa da
situação a que o país chegou.
Eu gostava de ser mais
optimista. Gostava que a taxa de juro implícita dos juros da dívida portuguesa
a 10 anos estivesse abaixo da resistência 6,4%. Gostava que o PSI tivesse
quebrado, em alta, a resistência entre os 6300 e os 6350 pontos. Seriam os
sinais que eu preciso para passar do meu optimismo moderado para um optimismo
inequívoco, exuberante. Porque, apesar de entender que o país precisa de mais
optimismo, neste mundo dos mercados financeiros, o pragmatismo é que nos faz
ganhar dinheiro, seja no clã dos ursos ou dos touros.
Se ousar estar optimista em
relação a algo no nosso país, pense duas vezes antes de o dizer em voz alta.
Alguém o acusará de louco, irresponsável ou desconhecedor da realidade e as
suas orelhas ficarão a arder. Mas, se estiver preparado para ouvir isso, não
hesite em declarar o seu optimismo. Portugal agradece.
Título e Texto: Ulisses
Pereira, Jornal de Negócios, 09-9-2013
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