Holanda diz adeus ao Estado
social e entra no século XXI
Governo de centro-esquerda
abraça austeridade para 2014 e prepara os holandeses para o fim da sociedade do
bem-estar
A boa ou má nova foi dada esta
semana aos holandeses pelo novo rei Guilherme no parlamento. O Estado social
acabou. A sociedade do bem-estar da segunda metade do século XX vai ser
substituída pela "sociedade participativa", como frisou o monarca no
discurso de abertura do ano político. Guilherme, como é tradição das
monarquias, estava a apresentar o programa do governo de centro-esquerda,
formado por liberais e sociais-democratas, para 2014. Esta nova sociedade
participativa do século XXI vai, obviamente, ter reflexos importantes na
segurança social e nos apoios aos que mais necessitam de ajuda. O sistema
actual, o Estado social nascido no pós-guerra, criou mecanismos que são
insustentáveis para a economia actual. E a Holanda, um dos países mais ricos da
Europa, quer resolver a crise quanto antes e preparar o Estado para os novos
desafios.
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Foto: Reuters |
A nova política aparece pela
mão de um governo de centro-esquerda e tem números para 2014. A despesa do
Estado leva um corte de seis mil milhões de euros, medida indispensável para o
défice das contas públicas baixar para os 3,3% do PIB, três décimas acima do
limite imposto aos países da moeda única. Os cortes vão ter efeitos no
desemprego, que subirá para os 7,5%, e no poder de compra dos holandeses, que
cairá 0,5% no próximo ano.
Mas na Holanda, como em
Portugal, na Grécia, em Espanha e no conjunto da zona euro, as más notícias
surgem sempre associadas a tímidos sinais positivos da economia, e as palavras
de esperança, que os políticos adoram usar para convencer as populações das
suas políticas, também surgiram nas bocas do primeiro-ministro liberal, Mark
Rutte, e do seu aliado social-democrata Diederik Samsom. A economia holandesa
pode crescer 0,5% em 2014, um sinal para os dois políticos falarem já no fim da
crise económica. Nada de novo. Os discursos repetem-se em várias capitais
europeias, mas foi em Haia que a realidade se impôs, talvez pela primeira vez,
à ficção de um modelo de sociedade que se tornou insustentável.
80% CONTRA OS POLÍTICOS
Acontece que os liberais e os
sociais-democratas – no fundo, o centro-esquerda – sempre atiraram pedras à
austeridade e repetiram juras de amor eterno pelo Estado social. Agora,
sentados no poder e com um país para gerir, abraçam a austeridade e renegam o
Estado social. Em troca oferecem uma sociedade participativa que, na prática,
reduz os benefícios e o bem-estar do tão afamado Estado social. O resultado
junto dos holandeses não se fez esperar. Uma sondagem divulgada pela televisão
pública revelou que 80% dos holandeses estão contra os planos governamentais e,
mais do que isso, não acreditam que os políticos sejam capazes de resolver a
crise. Com os políticos descartados, os holandeses voltam-se para o mundo
empresarial e acreditam que a economia mundial, a globalização, será a chave
para a resolução dos problemas do seu país. Crise económica, crise social e,
claro, crise do sistema político. As velhas democracias europeias estão debaixo
de fogo.
Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”,
20-9-2013
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