O coitado já estava velho, e
naquele galinheiro, por força dos regulamentos estabelecidos, ele foi
“convidado” a deixar as suas amadas companheiras e ir “cantar em outro
terreiro”. Acabrunhado, sabendo que corria em suas veias o sangue de um bom
Galo, decidiu, então, “criar caso”. Afinal, ele tinha contribuído muito para
poder “retirar-se” e viver dignamente o resto de seus dias. Poderia comprar a
sua ração, ter seu poleiro limpo, cuidar da sua crista e das penas, tomar
vacinas e ter a proteção de um teto para descansar. Quem sabe, poderia com
calma, lá pelas cinco horas da “matina”, cantar do alto de um telhado
anunciando a alvorada de mais um dia.
Durante muitos anos ele se
dedicou ao aumento da produção de ovos, ele triplicou o número de pintos que
cresceram e viraram frangos profissionais. Ele foi até Instrutor de outros
Galos. Ele, de fato, ficou no “terreiro da amargura” sem o milho da
complementação da aposentadoria que ele faz jus pois, apesar de anos a fio
tomando conta daqueles frangos e frangas, cantando, trabalhando duro,
realizando, estruturando, colaborando... agora ele é apenas... mais um Galo
Velho.
Todo o seu empenho, toda a
quantidade de "milhos" que ele deixou de “colocar no papo” e que
destinou para um fundo, descontando para poder ter uma velhice digna, sumiu, e
ele, pode-se dizer então no “português claro”, foi “depenado”. Nesse tal
“terreiro da amargura”, jogam-se migalhas para ele e para os outros colegas de
infortúnio, muito aquém do que têm direito.

Um deles, revoltado com essa
situação, resolveu fazer uma greve de fome e nem milho picado comeu. Naquela
localidade, perante ele, deambularam e perambularam “avis raras”, aves de
rapina, raposas, águias, lobos, tubarões, arraias-miúdas, cordeirinhos e
vaquinhas de presépio.
Até um garboso cisne negro
empertigado e cheio de empáfia... Fitou-o de soslaio e passando pela diagonal nem
sequer lhe acenou.
Outro grupo dessas aves desceu
dos poleiros duros e lisos em que estavam tentando se equilibrar, viajaram e
apareceram, de repente, numa dependência pública e se instalaram num amplo
espaço chamado Gramão Verde.
Mediante todo esse cocorocó, os
dirigentes resolveram escutar o “galo cantar” e antes do “frigir dos ovos” concluíram
que era melhor acertar tudo e para isso orientaram o Administrador dos Grãos
Usurpados para tratar um entendimento que imediatamente atendesse a essas
pobres aves, dando-lhes o que lhes é de direito e assim, então, finalizar tal
imbróglio.
O Administrador dos Grãos dos Usurpados
resolveu comprar um grande tacho e marcou uma reunião com os Galos. No dia
combinado estavam todos lá e, então, foram “convidados” a entrar naquele recipiente
que já tinha uma água tépida.
Interessados em “quebrar o
gelo das negociações”, os Galos assentaram-se naquele morno e agradável líquido.
Conversa vai, conversa vem, e outra reunião é marcada para se estabelecer
outros assuntos. Na mesma água e, desta vez, mais quente, os Galos começaram a negociar.
Tergiversa daqui, confabula dali e outra reunião é marcada. Nessa, os Galos
notam que a água está mais branda do que a anterior e começam a inquirir se o
assunto principal, que é o motivo da reunião, não vai ser levado a cabo…
O Administrador, então, expert nesses casos, diz que precisa de
mais “temperos” para consubstanciar o preparo desse “caldo” e que isso demanda
tempo.
Apesar de todos estarem na
mesma panela com água quente, um dos Galos – o mais esquentado deles –
cacarejou estridentemente:
PÔ, CARA, TÁ QUERENDO NOS ‘COZINHAR’ EM FOGO BRANDO?
Bonito texto...pena que o galo continua só na esperança de poder um dia voltar a cantar, mas vomo torcer para que este dia chegue e todos nós possamos "cantar" novamente, que nem o galo....rsrsrsrsrs...em alto e bom tom!!!!!!
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