Alberto José
Em julho de 1994, decidi
comemorar a aposentadoria com um passeio pela Europa, sem preocupação com
escala, horários de trabalho e coisas desse tipo. Pedi as passagens na Varig
para mulher e filhos, que foram emitidas sem problema. Peguei uma economia
reservada para a ocasião e fomos para Milão, início do passeio programado.
Passamos pela Baviera, Áustria
e chegamos, finalmente, a Zurique. Ficamos no hotel Sheraton, que nos concedia
desconto devido aos tripulantes da Varig que ali ficavam hospedados.
No dia marcado para o nosso
retorno, começou um drama que durou uma semana. Um "Diretor" da
Varig, sem sensibilidade e sem qualquer respeito pelos (colegas? rs, rs, rs, rs...)
funcionários, vendo que havia muitos passageiros pagos embarcando em Zurique
decidiu que os GC's não poderiam embarcar, ou seja, mesmo depois que os
passageiros pagos fossem atendidos, ou seja, após o voo fechado se um
passageiro de última hora surgisse na porta do aeroporto, o GC da vez era preterido
e ficava no chão. Isso ocorreu várias vezes ao longo de uma semana e nem a
Gerência da Varig conseguiu ajudar pois "era ordem expressa do tal
Diretor"!
As pessoas estavam chorando no
aeroporto ao verem o dinheiro acabar em um país estrangeiro! Alguns comandantes,
tidos como "bonzinhos", tiraram o corpo fora quando eram solicitados
a embarcar um ou dois GC's naquela modalidade tão conhecida: nos assentos dos
tripulantes!
Os GC's já estavam
desesperados! Todos alegavam que não eram "clandestinos" pois
viajaram com autorização da empresa e agora estavam sendo preteridos por
passageiros pagos, sem reserva, que "saltavam do táxi" e embarcavam.
O Gerente do Sheraton,
penalizado, chegou a liberar apartamentos sem pagamento da diária. Eu estava
planejando arrebentar as vidraças do aeroporto para ser preso e causar um
escândalo que chegasse até à Diretoria.
Para a minha sorte, no último
dia, chegou em um voo o colega Vieira Dutra que tinha direito a dois
apartamentos e nos cedeu um. Então, uma luz apareceu no fim do túnel, chegou um
B-747 que trouxe esperanças aos GC's - tinha até esposa de Comandante que não
conseguia embarcar.
Quando soube do problema, o
Comandante do B-747, tido como "bonzinho, gente fina, etc" avisou a
todos: "Não levo ninguém, acho irregular colocar passageiro em assento de
tripulante" (Esse cara pode não ser lembrado, mas jamais será esquecido!)
Por fim, no dia seguinte - todos
já estavam sem dinheiro - apareceu a nossa salvação, comandando um MD-11! O
bravo, decidido e solidário COMANDANTE LUÍS MARTINS! Quando soube do drama dos
GC's avisou: "Não vai ficar ninguém no chão, levo nem que seja no toalete!"
E graças a esse nobre colega o
drama de Zurique terminou!
Título e Texto: Alberto José, 24-7-2016
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Caro ALBERTO, convivi, vivenciei e participei de momentos semelhantes! Por incrível que pareça tínhamos alguns Cmtes. Que não tinham a menor noção do que é solidariedade, só tinham a Arrogância, como seu maior valor, creio que era uma defesa por suas fraquezas, creio isto ser inerente aos fracos, poderiam ser grandes Pilotos, mas pequenos seres humanos!
ResponderExcluirCmte. Luiz Martins, lembro muito bem dele! E como outros tinham a sensibilidade e o coleguismo para tomar uma atitude!
Éramos um grupo muito heterogêneo!!!!
Abs,
Heitor Volkart