Aparecido Raimundo de Souza
Em tudo o que fazemos nessa vida sempre
haverá de começar pela primeira vez
Em Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo, existe um jornal de grande
circulação, chamado “O Diário”, que abrange várias cidades, como Suzano,
Estudantes e Ferraz de Vasconcelos, entre outras. Numa de suas edições
recentes, na coluna “Caderno A”, assinada pelo nosso amigo e companheiro Chico
Ornellas, grande jornalista e também membro do Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo, publicou a preciosidade que abaixo transcreveremos, na íntegra.
Tivemos o cuidado de mandar para o Ornellas um e-mail
indagando se o texto era de sua lavra, ou não, e, se a resposta fosse negativa,
se o prezado saberia declinar o nome do verdadeiro autor. Mas o meu amigo
Chico, ocupado, como sempre, não me respondeu. Uma pena! Dessa forma, como
achamos o conteúdo do trabalho muito interessante e, mais do que tudo, de profundo
cunho psicológico, resolvemos publicá-lo. Até porque, no nosso entendimento,
senhoras e senhores, além da simplicidade contida em cada palavra, se torna ao
mesmo tempo mavioso e meditativo.
Nos leva a parar e a refletir um pouco mais sobre a nossa
primeira vez. Em tudo o que fazemos, nessa vida, haverá sempre, aconteça o que
acontecer, a primeira vez.
Por favor, nos perdoe velho Chico, se não esperamos por sua
autorização. Mil desculpas por não termos insistido com você, num outro e-mail,
ou telefonado para a redação. Queremos que entenda, todavia, que esse artigo
nos tocou tão dentro da alma, que resolvemos correr, pela primeira vez, o risco
do colega brigar com a gente e, pela primeira vez, se zangar conosco, pela
primeira vez, ou nos processar pela primeira vez.
Enfim, pela primeira vez, achamos que o nosso público, como
igualmente o seu, tem o direito de compartilhar de momentos bons, de palavras
lindas e alentadoras, como as contidas nesse trabalho. Mande notícias, velho
companheiro.
Aqui vai, portanto, amigo Chico, em sua homenagem, e em nome
da nossa amizade, o magnânimo e literalmente perfeito “QUAL A ÚLTIMA VEZ QUE
VOCÊ FEZ ALGO PELA PRIMEIRA VEZ?”. Dedicamos a todos os nossos leitores da
Revista “O CÃO QUE FUMA” e, em especial, ao nosso editor, Jim
Pereira.
EU
NASCI PELA PRIMEIRA VEZ...
Eu falei pela primeira vez; eu andei
pela primeira vez; eu corri pela primeira vez; eu caí pela primeira vez; eu
namorei pela primeira vez; eu casei pela primeira vez; eu briguei pela primeira
vez; eu beijei pela primeira vez; eu assinei um cheque pela primeira vez; eu
tive um cheque recusado pela primeira vez; eu tive um título protestado pela
primeira vez; eu tive um amigo importante pela primeira vez; eu fui importante
por um minuto pela primeira vez; eu comprei a credito nas Casas Bahia pela
primeira vez; eu viajei de avião pela primeira vez; eu senti medo das alturas
pela primeira vez; eu fui de subúrbio para São Paulo pela primeira vez.
Eu subi ao topo do Empire State
Building pela primeira vez; eu vi as luzes de Paris pela primeira vez; eu
assisti a um show da Broadway pela primeira vez; eu fui ao Museu do Ipiranga
pela primeira vez; eu cumprimentei Pietro Maria Bardi pela primeira vez; eu
votei em Junji Abe pela primeira vez; eu fumei um cigarro pela primeira vez; eu
me apaixonei pela primeira vez; eu recebi um salário pela primeira vez; eu fui
demitido pela primeira vez; eu fui promovido pela primeira vez; eu andei de
bicicleta pela primeira vez; eu atravessei o Atlântico pela primeira vez; eu
paguei um sepultamento pela primeira vez; eu assinei um jornal pela primeira
vez; eu tive uma relação sexual pela primeira vez; eu atravessei o Canal da
Mancha de trem pela primeira vez.
Eu andei nas balsas do Guarujá pela
primeira vez; eu fui a Niterói de balsa pela primeira vez; eu xinguei o
programa do Faustão pela primeira vez; eu assisti “E o Vento Levou” pela
primeira vez; eu dirigi um carro pela primeira vez; eu levei uma multa pela
primeira vez; eu desobedeci a meu pai pela primeira vez; eu fui ao cinema pela
primeira vez; eu fui ao teatro pela primeira vez; eu fui a zona pela primeira
vez; eu comi uma puta pela primeira vez; eu peguei gonorreia pela primeira vez;
eu assisti a um strip tease pela primeira vez; eu comi um bife esquisito pela
primeira vez; eu tomei um porre pela primeira vez; eu fui à praia pela primeira
vez; eu vi o mar pela primeira vez; eu quase me afoguei pela primeira vez; eu
namorei em Paquetá pela primeira vez; eu visitei a Cruz do Século pela primeira
vez; eu fui a Sabaúna pela primeira vez.
Eu dancei ao som de Conniff pela
primeira vez; eu cantei uma música de Chico Buarque pela primeira vez; eu
assobiei o tema de “A Ponte do Rio Kwai” pela primeira vez; eu desfilei em uma
escola de samba pela primeira vez; eu subi no Pão de Açúcar pela primeira vez;
eu tomei uma caipirinha pela primeira vez; eu torci pelo Corinthians pela
primeira vez; eu decidir torcer pelo Corinthians pela primeira vez; eu iniciei
um regime pela primeira vez; eu parei de fumar pela primeira vez; eu briguei
com um filho pela primeira vez; eu tive uma diarreia no aniversário do sogro
pela primeira vez; eu passei de ano pela primeira vez; eu fui reprovado pela
primeira vez; eu entrei na faculdade pela primeira vez; eu tive meu emprego
pela primeira vez; eu perdi uma namorada pela primeira vez.
Eu discuti no trânsito pela primeira
vez; eu comemorei a vitória do Brasil na Copa do Mundo pela primeira vez; eu
chorei a derrota do Brasil na Copa do Mundo pela primeira vez; eu dormi em Roma
pela primeira vez; eu acordei em Veneza pela primeira vez; eu tomei cerveja em
frente à Catedral de Colônia pela primeira vez; eu comunguei pela primeira vez;
eu rezei por São Longuinho pela primeira vez; eu fiz xixi no Hyde Park, em
Londres, pela primeira vez; eu acertei meu relógio pelo Big Bem pela primeira
vez; eu torci numa Braz-Col pela primeira vez; eu sai na fanfarra do Liceu Braz
Cubas pela primeira vez; eu arranquei um dente pela primeira vez; eu colei na
prova de matemática pela primeira vez, eu comi um cuzinho pela primeira vez.
Eu tomei um uísque sem gelo no La
Licorne pela primeira vez; eu reclamei da cerveja quente na Sula pela primeira
vez; eu saí na coluna do Mutso Yozhizawa pela primeira vez; eu paguei entrada
inteira no cinema pela primeira vez; eu paguei meia entrada de idoso no teatro
pela primeira vez; eu marquei encontro na porta do Mappin pela primeira vez; eu
fiquei sabendo que papai Noel não existe pela primeira vez; eu acordei domingo
pensando que era segunda feira pela primeira vez; eu sonhei que era neozelandês
pela primeira vez; eu tomei vacina no consultório do doutor Zenon pela primeira
vez; eu peguei uma gripe pela primeira vez; eu tive dor de cabeça pela primeira
vez; eu fiquei devendo na padaria pela primeira vez.
Eu engasguei com espinha de peixe pela
primeira vez; eu dei topada na calçada pela primeira vez; eu martelei o dedo
pela primeira vez; eu comi caviar pela primeira vez; eu comunguei em Aparecida
do Norte pela primeira vez; eu bati com a cabeça no poste pela primeira vez; eu
comprei um carro pela primeira vez; eu paguei a conta do restaurante pela
primeira vez; eu fui hospede do Copacabana Palace pela primeira vez; eu pesquei
no Rio Paraguai pela primeira vez; eu pulei no rancho do Náutico pela primeira
vez; eu chamei o Carlito de “ceguinho” pela primeira vez; eu confessei com o
padre Roque pela primeira vez; eu troquei o pneu de meu carro pela primeira
vez; eu vendi um carro pela primeira vez.
Eu sujei na cueca pela primeira vez; eu
passei pelo Cemitério de Paraibuna pela primeira vez; eu dormi no Hotel Binder
pela primeira vez; eu fui de trem para Aquidauana pela primeira vez; eu subi na
cabeça da Estátua da Liberdade pela primeira vez; eu arrematei um boné em um
leilão de Wichita pela primeira vez; eu namorei no trem de Madri à Paris pela
primeira vez; eu fui pai pela primeira vez; eu fui avô pela primeira vez; eu fui velho pela primeira vez; eu senti medo da velhice pela primeira vez; eu fiquei doente pela primeira vez;
eu perdi minha mãe pela primeira vez; eu enterrei meu pai pela primeira vez; eu
perdi minha mulher pela primeira vez; eu fui abandonado pelos meus filhos pela
primeira vez; eu fui posto na rua pela primeira vez.
EU MORRI PELA PRIMEIRA VEZ
AVISO AOS
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MEUS TEXTOS, POR QUALQUER MOTIVO QUE SEJA VIEREM A SER RETIRADOS DO AR, OU OS MEUS
ESCRITOS APAGADOS E CENSURADOS PELAS REDES SOCIAIS, O PRESENTE ARTIGO SERÁ
PANFLETADO E DISTRIBUÍDO NAS SINALEIRAS, ALÉM DE INCLUÍ-LO EM MEU PRÓXIMO LIVRO
“LINHAS MALDITAS” VOLUME 3.
Título e Texto: Chico Ornellas e Aparecido Raimundo de Souza, jornalista, do aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, nas Minas Gerais. 7-2-2017
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