Jaime Nogueira Pinto
Não me lembro de ver tão furiosa raiva e
intolerância como as que temos visto nos media e nos "comentadores de
referência" desde a eleição de Donald Trump. Ao ponto de outros
adversários do novo presidente virem agora dizer que, pior do que Trump, só os
inimigos de Trump.
O 45º presidente dos Estados
Unidos não é propriamente um erudito ou um pensador político. Nem sequer era,
até agora, político. Tem uma linguagem direta, às vezes brutal, e parece
disposto a fazer seguir o ato à palavra. A forma dos seus discursos e
declarações aboliu em absoluto as correções ideológicas e diplomáticas e
presta-se à redução ao absurdo.
Mas o que à esquerda e aos
liberais da direita e do centro chiques mais dói não é esta forma tosca, direta
ou brutal de Trump ou mesmo os seus lamentáveis erros, confusões ou medidas
precipitadas e mal articuladas - como proibir por 120 dias a entrada de
cidadãos de sete países de maioria islâmica. É evidente que quem desses países
viaja para os Estados Unidos são mais depressa pessoas com boa ligação aos EUA
- como os intérpretes iraquianos, que trabalham com a Inteligência e os
militares ou os dissidentes políticos dos governos (iranianos ou sírios) que os
Estados Unidos consideram hostis. O que mais os incomoda, confunde e enfurece é
que um programa contrário aos princípios e objetivos políticos do
internacionalismo liberal e da esquerda progressista tenha chegado ao poder na
nação mais poderosa da terra pela mão de um "milionário populista e
troglodita".
Fazem a amálgama dos princípios
e do acidente, da política e do homem. Assim, a campanha anti-Trump incendeia
os pilares da comunidade intelectual e jornalística, as estrelas de Hollywood,
as socialites de Upper Manhattan e os esquerdistas que partem montras na 5.ª
Avenida. E, claro, chega à alegre periferia lusa, dita e repetida por arautos
da moral institucional de todas as origens e até por "gente normal" e
inteligente que não resiste à "vulgaridade" e ao
"simplismo" do homem Trump.
E os mitos urbanos atingem
também a sua administração, que, curiosamente, não é exclusivamente formada por
trumpistas mas também pelos que nas audições do Senado defenderam pontos de
vista diferentes dos do "patrão" sem que ele os tivesse
"despedido". O próprio presidente começa agora a tomar posições mais
equilibradas em relação à Rússia, ao Irão ou mesmo a Israel.
É também curioso que os
intelectuais e jornalistas que passam o tempo a denunciar a mentira e a
incoerência dos políticos que prometem uma coisa e fazem outra se queixem agora
de Donald Trump por estar a cumprir em ritmo acelerado aquilo que prometeu em
campanha.
E perante este "mal
maior", os ídolos dos internacionalistas, da esquerda pós-trotskista ao
centro liberal, passaram agora a ser a senhora Merkel e o presidente Xi Jinping
da China. Contra Trump, o capitalismo explorador da chanceler parece já não
embaraçar os esquerdistas como não importuna já os direitistas o autoritarismo
nacional de Xi Jinping.
Mais interessante do que
amaldiçoar esta vaga nacionalista e identitária, que leva as classes médias,
médias-baixas e trabalhadoras a votar programas alternativos ao discurso (até
agora) triunfante, seria tentar perceber por que é que isto é assim e por que é
que triunfa contra forças sistémicas que pareciam invencíveis.
É que a força de Trump não
está em comunicar por Twitter, nem no modo desabrido de neutralizar os seus
rivais republicanos, nem na sua oratória para "americanos zangados com as
elites liberais". Tudo isso contou e conta, sem dúvida, mas o mais
importante foi e é ter percebido a força de um valor que as elites esclarecidas
das duas margens do Atlântico arrogantemente criminalizaram e deram como morto
- a nação, o Estado Nacional, a identidade nacional.
Richard Lowry, editor da
National Review e conhecido crítico de Trump, escrevia no passado 25 de janeiro:
"O Estado-nação está de
volta, apesar das previsões do seu desaparecimento e de todas as forças que
supostamente o teriam enterrado. Não está mais desaparecido do que a religião,
que também nos disseram que iria extinguir-se, com a humanidade a aderir a um
futuro mais secular e cosmopolita. [...] A lição é que é um erro profetizar o
declínio inevitável de coisas que dão sentido à vida das pessoas e envolvem
laços humanos fundamentais. A nação é uma delas, uma coisa que Trump, mesmo que
não veja mais nada, compreende instintivamente."
Por isso ganhou. Apesar de
tudo.
Título e Texto: Jaime Nogueira Pinto, Diário de Notícias, 9-2-2017
Relacionados:
Sempre associei a palavra Populismo a políticos que através de promessas fáceis, eleitoralistas e inexequíveis, atraíssem as massas para melhor as manipular. Assim sendo estou farta de que "os fazedores de opinião" continuem a bater na tecla e teimem em chamar populista a Donald Trump. Donald Trump, prometeu e está a cumprir uma a uma as promessas que fez nas campanhas eleitorais. Se isto é "populismo" como designar então Costa? Farta de "intelectuais" de pacotilha!
ResponderExcluirRegina Cunha