Mário Amorim Lopes
Escreve o Público que Armando
Pereira [foto], «produtor de cabos de fibra óptica», não sossega o
Governo, pois «parece não ter o perfil para dirigir uma empresa como a
Altice». Armando Pereira é de facto insólito. Ao contrário de outras
sumidades, Armando Pereira foi para um qualquer bairro de lata em França aos 14
anos, e aos 11 já era feirante — e não consta que o fosse por carolice.
Não foi para um luxuoso
apartamento em Paris pago por um amigo, frequentar um mestrado na Sorbonne, com
uma dissertação escrita por um obscuro professor da Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa. Não, foi mesmo trabalhar, imagine-se o despautério.
Entretanto percebeu que havia ali uma oportunidade, numa época em que a rede
por cabo estava em expansão.
Sem o élan de um verdadeiro
gestor, daqueles que ganham prémios internacionais e depois levam à falência a
respectiva empresa, pede uns oitenta mil euros a um banco para constituir a sua
empresa. Registe-se a saloiice do mendicante, que ao invés de pedir cem mil euros
à Caixa Geral de Depósitos para comprar um Mercedes Classe S, pede-os para
fazer efetivamente algo. Fá-lo, e, inusitadamente, chega mesmo a pagar o
empréstimo de volta. Constrói um império — sem subsídios, sem o préstimo do
Estado, sem favores de políticos.
Conclui-se, portanto, que
Armando Pereira é um péssimo gestor, pelo menos quando medido pela
bitola dos cânones portugueses que regem a boa gestão e a negociata dos
indígenas. Compreende-se, assim, que o pobretanas feito milionário, que
não janta no Tavares (quando o quiser fazer, Armando Pereira compra o Tavares),
não frequenta a Rua do Grémio Lusitano, não vai caçar ao Alentejo ou recebe
prêmios de gestão, seja alvo da ira dos pelintras depenados que pululam por
Lisboa e brunem os Oxford dos grandes empresários portugueses, dos que sabem
negociar com políticos de igual estirpe.
Estes, cujo maior feito de
gestão terá sido ir à Staples comprar arquivos para o seu gabinete, arrogam-se
do direito de criticar as competências de gestão de terceiros. Os mesmos que
compactuaram com Zeinal Bava, Ricardo Salgado, entre outros portentos da
gestão, glorificados vezes a fio pelo jornalismo indígena, são quem apontam as
alabardas a Armando Pereira. Bem vistas as coisas, Armando Pereira não merece
mesmo este país. Azar o dele que nele nasceu.
Título, Imagem e Texto: Mário Amorim Lopes, O Insurgente, 15-7-2017
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ResponderExcluirSó numa cultura política terceiro-mundista, a venda/aquisição de um canal de televisão é assunto a ser tratado pelo Presidente da República como se de assunto de Estado fosse.
Gabriel Silva, Blasfémias