Moiani Matondo
Os mais recentes acontecimentos são desanimadores quanto à possibilidade de as próximas eleições gerais em Angola serem livres e justas. Parece, que mais uma vez, haverá um mero ato simbólico em que o vencedor é conhecido desde o início e os partidos da oposição fazem de “imbecis úteis”, para usar as palavras aparentemente usadas noutro contexto por Lenine.
Com a União Europeia, o
governo angolano recusou-se a assinar um Memorando de Entendimento para
proceder à observação das eleições, alegando as velhas justificações
soberanistas e neocolonialistas. O ministro das Relações Exteriores, Georges
Chikoti, disse: “É assim que o continente funciona em matéria de eleições. E
não esperamos que alguém nos vá impor à sua maneira de olhar para as eleições e
nos dar alguma lição, como também não pretendemos dar lições em termos de
eleições.” É este argumento de que em África a cultura é diferente que
justifica a corrupção, o tratamento desigualitário das mulheres e tantos outros
atropelos aos direitos humanos. Mas, pergunta-se, porque hão de ser diferentes
as eleições em África? Por que razão são os próprios dirigentes africanos que
passam a si mesmo atestados de menoridade?
Afastado o perigo de ter uma
Ana Gomes, deputada do Parlamento Europeu, a vigiar e denunciar as fraudes
eleitorais, o regime conta também com as empresas que prestam serviços técnicos
para controlar as votações. Houve muito barulho na CNE devido a essas
contratações, mas tudo foi silenciado. A Indra e a Sinfic continuam como
responsáveis técnicas das eleições.
Outro problema que já se nota
é a discrepância dos tempos de antena concedidos às diferentes forças
políticas. Segundo a associação Handeka, cerca de 88% do tempo de emissão
analisado pelos seus voluntários é dedicado a promover o MPLA, e só o restante
se divide entre os outros partidos políticos.
A isso acresce todo um
trabalho encapotado do Estado para promover o MPLA. Por exemplo, foram
publicadas notícias segundo as quais a “União das Associações Locais de Angola
(Amangola), uma ONG que recebe fundos do Estado, assumiu publicamente trabalhar
arduamente para sensibilizar a população angolana, no sentido de nas eleições
de 23 de agosto votarem no MPLA e no seu candidato a presidente da República,
João Lourenço”.
Em resumo, há uma estrutura
montada que vai desde o controlo dos meios informáticos e tecnológicos ao
serviço do processo eleitoral, ao espaço da comunicação social, aos meios de
apoio social e ao afastamento de observadores incómodos – tudo isto permite
afirmar sem dúvidas que não existem condições para eleições livres e justas no
país.
Portanto, face a este cenário,
alguns apelam ao boicote eleitoral por parte dos partidos da oposição.
Contudo, este apelo faz sempre
lembrar o que aconteceu na Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, que
permitiu que Lenine tomasse o poder e instalasse a ditadura do terror
comunista. Esta revolução foi “legalizada” pelo Segundo Congresso dos Sovietes,
composto por 670 delegados eleitos; apenas 300 eram comunistas. Quando a queda
do Palácio de Inverno (isto é, o derrube do governo “burguês” saído da
deposição do czar em fevereiro de 1917) foi anunciada, o Congresso aprovou um
decreto de transferência de poder para os sovietes dos Deputados dos
Trabalhadores, Soldados e Camponeses, ratificando assim a Revolução.
As alas centrais e de direita
dos revolucionários socialistas e dos mencheviques acreditavam que Lenine e os
comunistas tinham tomado ilegalmente o poder, e saíram antes da aprovação da
resolução. À medida que eles saíram, Leon Trotsky disse-lhes: “Vocês são
pessoas lamentáveis e isoladas, vocês estão falidos. O vosso lugar é no caixote
de lixo da história.” Teve razão durante algumas décadas.
No dia seguinte, 26 de outubro,
o Congresso elegeu um conselho de comissários do povo (Sovnarkom), tendo Lenine
como líder.
A revolução comunista tinha
triunfado, em parte, graças ao boicote das oposições que se ausentaram da
votação, remetendo-se elas próprias para o caixote do lixo da história.
Este é o problema com que se
defronta Angola. As eleições não são livres e justas, mas, caso a oposição se
retire, entrega a totalidade do poder ao MPLA e à sua ditadura.
Retomando Lenine, pergunta-se:
O que fazer?
Pois então: pode-se denunciar
as eleições como fraudulentas e anunciar que um mero voto a mais do que em 2012
é uma vitória, e preparar, com a mobilização da sociedade civil, um movimento
que exija no terreno uma verdadeira transição para a democracia.
A luta pela democracia
trava-se em várias frentes, e as eleições viciadas são apenas uma delas.
É junto do povo, nas redes
sociais, nas ruas e por toda a parte que a população tem de ser mobilizada para
a verdadeira mudança que vai ocorrer a seguir às eleições, e apesar destas.
A exigência de uma transição efetiva
de poder, uma nova Constituição, um novo regime económico e uma nova justiça
são a grande mudança em que tem de haver empenho. As falsas eleições não
impedirão este poderoso movimento em curso.
Título, Imagem e Texto: Moiani Matondo, Maka Angola, 30-7-2017
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VOU DEIXAR AQUI A MINHA HUMILDE OPINIÃO, COM RELAÇÃO ÀS ELEIÇÕES E, DE CERTA FORMA, AO TEXTO ACIMA. CONVERSAS PRA BOIS E VACAS DORMIREM E SONHAREM.
ResponderExcluirA CADA 15 MINUTOS, nós que ouvimos as rádios FMs, somos obrigados a engolir aquelas propagandas feitas pela galera do TRE (Tribunal dos Ratos Espertalhões), onde duas palhaças dialogam: A primeira faz uma indagação idiota e a outra responde: “NÃO CAIA EM MITOS ELEITORAIS”. Não ficaria mais elegante, MAIS DECENTE, “CABRITOS ELEITORAIS?!”.
A cada vez que escuto essas merdas, esses entulhos inúteis, na verdade, o novo ópio, a nova maconha, para deixar os Zés e os Manés, as Candinhas e as Cidinhas em pontos de bala (portanto aptos e aptas para se deixarem colocar as cangalhas, em seus focinhos), me questiono, me belisco, corpo inteiro, intencionando saber se ainda tem por ai, algum ser humano decente, honrado, honesto e de visão, que acredite piamente que as eleições, neste país de vagabundos e manipuladores sejam transparentes.
AMADOS, PELO AMOR DE DEUS, NÃO ME FAÇAM DE PALHAÇO. NÃO VOU VOTAR, NÃO VOU ME CADASTRAR. “AH, ENTÃO O SENHOR TERÁ SEU TÍTULO CANCELADO”. POR FAVOR, NÃO CANCELEM MEU QUERIDO TÍTULO. AO INVÉS DISSO, SUGIRO LEVAREM O DITO DOCUMENTO PARA SUAS CASAS E O USAREM NA PRIVADA.
ASSIM COMO NA PROPAGANDA NOJENTA E ASQUEROSA, EU AINDA ACREDITO IGUALMENTE, COM TODAS AS MINHAS FORÇAS, EM PAPAI NOEL. DE IGUAL FORMA, EM BRANCA DE NEVE, E OS 40 LADRÕES, NA ALICE NO PAÍS “DAS BRASILIA”, ETC... e ETC...
(Aparecido Raimundo de Souza, 64 anos, jornalista).