Qualquer pensamento ou proposta que ouse
sair do círculo definido pela elite é imediatamente rotulado.
André Ventura
O politicamente correto
enraizou-se de tal forma nas elites portuguesas que deixámos de admitir outros
cenários, mesmo que se aproximem muito mais daquilo a que vulgarmente
designamos como a realidade das coisas. Qualquer pensamento, palavra ou
proposta que ousem sair desse círculo definido pela elite bem pensante dos
políticos de carreira ou dos comentadores do sistema são imediatamente atacados
e rotulados. Extremista. Racista. Populista. Tudo serve para descredibilizar,
para denegrir e para humilhar quem pense diferente, quem queira chamar as
coisas pelos nomes, quem queira assumidamente fazer diferente daquilo que foi
executado nos últimos 40 anos.
Nas últimas semanas, um
conjunto de políticos e comentadores profissionais, bem instalados nos tachos
que o sistema oferece e autoconvencidos da sua inquestionável supremacia
intelectual, coordenaram-se entre si num ataque sem precedentes à minha
dignidade e à minha imagem pública. Animal, porco, racista ou populista sem
coluna vertebral foram alguns exemplos de expressões utilizadas sem qualquer
filtro ou cautela – muitas vezes em horário nobre ou nas páginas de jornais
diários - de forma intencional e maldosa.
Não responderei neste registo,
embora não deixe de notar que os zelosos polícias das palavras e do pensamento
sejam precisamente aqueles que habitualmente gritam aos quatro ventos pela
liberdade de expressão e de opinião. Claro que, sendo muitos deles os mesmos
que defendem as virtudes da democracia venezuelana ou o caráter impoluto de
José Sócrates na gestão dos dinheiros públicos, me afetam muito pouco. Mas isso
sou eu!
Se estão à espera que me cale,
que me acanhe ou que venha pedir desculpa pelo que disse, podem continuar
sentados nas vossas confortáveis e aburguesadas poltronas. Se pretendem que
ignore as verdadeiras preocupações e anseios das pessoas em nome de um qualquer
código de conduta do politicamente correto, é porque não me conhecem
minimamente, nem aos valores que transporto comigo.
Disse-o e repito: o Estado
está a falhar. Tem medo de intervir e complexos que há muito deviam estar
ultrapassados. Finge tratar todos por igual, quando na verdade é o primeiro a
permitir diferenciações e estados de exceção que estão à vista de todos.
Bairros em que a polícia
dificilmente consegue entrar, mas aos quais preferimos fazer vista grossa.
Subsídios sociais pagos com os nossos impostos e que são levantados com o
Mercedes ou o Audi à porta da Segurança Social, mas que preferimos ignorar
deliberadamente. Distúrbios frequentes e uma cultura de medo e violência a que
o Estado responde assobiando para o lado. Como se o problema deixasse de
existir por magia ou por força da cartilha do politicamente correto. Não deixa.
Não desaparece. E agrava-se ainda mais.
O problema é que estes
senhores sabem perfeitamente aquilo de que estou a falar. E preferem varrer
tudo para debaixo do tapete em nome de uma qualquer bíblia ideológica que já
nada diz aos portugueses. Pior: refugiam-se nos seus espaços de opinião e fogem
ao debate democrático quando chamados ao confronto de ideias.
São verdadeiros cobardes do regime.
Francisco Louçã é apenas mais um exemplo. Foi fácil apelidar-me de racista ou
de simples comentador desportivo. Difícil, muito mais difícil, é aceitar o meu
repto para o debate.
Acho que os portugueses já
perceberam tudo.
Título e Texto: André Ventura, Correio da Manhã, 10-8-2017
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