Sérgio Barreto Costa
A justiça portuguesa está nas
mãos de adolescentes. É um retrato preocupante, mas não vejo outra forma de
interpretar aquilo que os nossos dois semanários de referência – o Sol e o
Expresso –, noticiaram nas suas últimas edições.
O primeiro relatava o entendimento existente entre a procuradora-geral da República, Joana
Marques Vidal, e a sua grande amiga Francisca Van Dunem, ministra da
Justiça.
O segundo narrava o confronto
aberto entre as duas magistradas, descrevendo-as como grandes
rivais.
Acreditando eu nas competências de
investigação dos hebdomadários em causa, só posso concluir que Marques Vidal e
Van Dunem eram as melhores amigas na altura em que os jornalistas do Sol
pegaram no tema e, um ou dois dias depois, quando o Expresso se debruçou sobre
o assunto, se tinham já transformado em inimigas figadais. E, como todos
sabemos, só as adolescentes são capazes de uma variação dessa magnitude em tão
curto espaço de tempo. Agora é só uma questão de confirmar se foram vistas com
sapatos novos iguais durante a última semana e tudo passa a fazer sentido. É
esta a grande vantagem de termos uma comunicação social à moda antiga:
informação útil e esclarecedora, sem ficarmos na mão das redes sociais e dos
seus constantes boatos e futilidades.
Diga-se de passagem que não é
a primeira vez que sou visitado por esta suspeita relativa à idade mental dos
nossos altos dignitários. Quando o ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça
e o ex-procurador-geral da República decidiram destruir as escutas que
envolviam o camarada José Sócrates, recordei, com saudade, os meus anos de
liceu, em que usava todo o tipo de artimanhas, tretas e estrangeirinhas para
safar os amigos dos castigos dos progenitores ou da ira das namoradas
ciumentas.
E aquelas que me despertam as
mais gratas lembranças são as totalmente estapafúrdias, como quando afirmei à
professora de História ter assistido com os meus próprios olhos ao momento em
que o pastor-alemão Alarico devorou o trabalho que o meu colega João tinha
feito sobre a brutalidade das invasões bárbaras. “Levou a peito”, disse-lhe,
enquanto tentava puxar uma lágrima. Há poucas coisas mais bonitas do que a
solidariedade entre portadores de acne e de hormonas instáveis.
Título, Imagem e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias,
16-1-2018
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