Cristina Miranda
Compreendo que seja difícil
reconhecer mérito em alguém que se odeia e em que se apostava que iria
arruinar o Mundo com sua loucura, narcisismo e prepotência (sim, ele tem isso tudo).
Mas uma coisa é não gostar da pessoa Trump outra coisa é não admitir a eficácia
dos seus métodos para conquistar a paz mundial. Dizer-se que foi mérito da
China, que foi desespero de Trump (esta foi hilariante!), que foi a Coreia que
vergou os EUA (com esta ainda não parei de rir!), que Kim chega numa posição de
força melhor que a do Trump como afirmou Miguel Sousa Tavares (valha-me
Deus!), que a ideia de paz nem sequer foi dele, é de uma desonestidade
intelectual sem limites. Os factos não mentem e é só preciso lê-los com
seriedade.
O episódio que culminou neste
momento histórico do aperto de mãos entre EUA e Coreia do Norte, foi a posição
severa e intransigente de Trump em relação Kim Jong-un quando num
ultimato que todos se apressaram a classificar de louco e irresponsável, e que
provocaria a III Guerra Mundial, Trump avisava que se o “rocket man” não
parasse de fazer experiências com mísseis nucleares, faria desaparecer a Coreia
do Norte do mapa! Foi esta posição impopular, politicamente incorreta que foi
decisiva na mudança de planos de Kim. Nunca ninguém tinha tido a coragem de se
dirigir a esse pequeno ditador coreano desta forma. De “diálogos em diálogos” o
menino mimado que se achava acima de qualquer acordo, brincava aos poderosos
provocando o Ocidente.
O ódio aos EUA ensinado nas
escolas era o combustível que alimentava a loucura de Kim. Até ao dia em que
outro louco como ele o enfrentou, sem medo. Kim Jong-un ainda testou Trump
com mais uns lançamentos para fingir que era um “poderoso destemido” e estava
preparado para “destruir os EUA”. Mas quando Trump imediatamente endureceu as
ameaças e fez avanços de tropas para posições estratégicas. Kim recuou e cedeu.
Todos assistimos a isto. Por que negar?
Não foi a China nem a Coreia
do Sul que pararam a loucura de Kim. Foi o blefe de Trump que resultou na
perfeição. Porque o poder começa no indivíduo e só depois acaba no
governo. Se Trump não tivesse sido credível na sua determinação, jamais teríamos
assistido a esta viragem clara na união das Coreias e desarmamento
nuclear. A própria Coreia do Sul o reconheceu.
Tal como Trump, Reagan no
passado, igualmente com um blefe bem montado de que iria dar início a um projeto
de Iniciativa de Defesa Estratégica – um sistema defensivo com mísseis
colocado no espaço que asseguraria que nenhum míssil disparado pela URSS
atingisse os EUA – numa altura em que o império socialista se estava a
desmoronar por falência económica, conseguiu pôr fim à Guerra Fria que ameaçava
o mundo. Mikhail Gorbachev, tal como Kim, consciente da sua incapacidade para
fazer frente aos EUA, cedia. Curiosamente, porque a nossa História tem
destas coisas, foi Gorbachev (o líder comunista que cedeu à pressão) e não
Reagan, que recebeu o prémio Nobel da Paz por “ter posto fim” à Guerra Fria.
Ironias.
Não tenho qualquer dúvida que
se mudássemos de protagonistas nesta história e tivesse sido o Obama a
conseguir igual feito, o Mundo inteiro iria render-se aos seus pés. As
televisões iriam fazer diretos, ao minuto, a acompanhar cada movimento do
Presidente, cada palavra, cada expressão. Qualquer coisa por muito
insignificante iria ser enaltecida e o momento comentado em mais de uma hora de
telejornal, durante vários dias, várias semanas até, com todos os comentadores
televisivos histéricos a bater palmas dizendo que nunca se vira nada igual: EUA
a apertar as mãos à Coreia do Norte e esta em simultâneo à Coreia do
Sul até agora desunida! Mas não. Tinha de ser o Trump, o homem mais odiado do planeta a
conseguir o que não foi conseguido em 70 anos. Logo é preciso desvalorizar.
Parafraseando Salvador Sobral, a verdade é que Obama era aquele que até “podia
dar um peido que tudo aplaudia”. Tinha o dom da palavra e o carisma que falta
ao bronco do Trump.
Curiosamente também, Obama não
precisou senão de belos discursos visionários por um mundo livre de armas
nucleares para ganhar um Nobel da Paz, em 2009, com menos de 9 meses de
presidência e sua candidatura entregue à tangente a menos de um mês depois de
assumir o cargo. Ou seja, foi premiado pelas belas intenções que ainda não
tivera tempo de concretizar antes do prémio (não me lembro de alguém que tenha
contestado isto). Mas já não se aceita que quem efetivamente concretize essa
paz sequer sonhe com isso.
Goste-se ou não é um marco histórico que terá ainda grandes desenvolvimentos e cujo mérito é tão somente dos dois homens que o protagonizaram: Trump e KimJong-un. Habituem-se à ideia.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
17-6-2018
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