Sérgio Barreto Costa
No debate parlamentar da
semana passada António Costa acusou Assunção Cristas de ter provocado uma
calamidade no país com a lei do arrendamento de 2012. É uma afirmação bastante
dura que me deixa ligeiramente confuso. Por um lado, como sabemos, a primeira
coisa que António Costa faz quando uma calamidade se abate sobre o país é ir de
férias para Espanha – e eu não me lembro que tenha feito alguma viagem quando a
legislação de Assunção Cristas foi aprovada; por outro lado, como também
sabemos, a estratégia seguida por António Costa diante de uma calamidade é não
fazer nada até que ocorra uma segunda – e esse princípio parece estar a ser
cumprido neste caso, uma vez que este Governo está em funções desde 2015 e
ainda não tocou nos aspectos essenciais dos diplomas em causa. Os sinais são,
por isso, contraditórios: a ausência de repouso no estrangeiro afasta a
hipótese de ter ocorrido uma catástrofe, mas a presença de repouso nos
gabinetes ministeriais sustenta o cenário mais sombrio.
Se o nosso primeiro-ministro
fosse praticante da arte do descaramento, atrevia-me a dizer que estamos na
presença de jogo duplo: enquanto se aproveita dos múltiplos benefícios da lei
(fim da expropriação encapotada dos proprietários, reabilitação das cidades,
promoção do investimento, renascimento da construção civil, fomento do turismo,
crescimento económico, redução do desemprego, etc.), trata de empurrar para
terceiros as responsabilidade pelas suas consequências negativas. É sempre uma
boa estratégia. Ainda ontem, quando descobri que o miúdo tinha conseguido,
depois do cocó vespertino, arrancar a própria fralda, me virei para a minha
mulher, com cara de enjoo, e atirei: “já viste o que o TEU filho fez?”
Infelizmente, o sentido ético de António Costa não lhe permite estas jogadas
rasteiras, o que complica em muito o desempenho do cargo. Esperemos, para seu
bem, que nunca lhe faltem os toalhetes.
Título, Imagem e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias,
25-6-2018
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