João Marques de Almeida
Costa comportou-se como o húngaro Orban. O
PM não encontrou tempo para ir a Bruxelas a uma reunião sobre um tema crucial
para o futuro da Europa, mas vai hoje à Rússia assistir a um jogo do mundial.
A imigração é hoje o maior
problema da União Europeia. Por isso, a Comissão Europeias convidou todos os
líderes nacionais para se deslocarem a Bruxelas para discutir soluções
europeias para a imigração ilegal. Como disse o porta voz de Juncker, “foram
todos convidados, ninguém foi excluído.” Ora, o nosso PM resolveu não ir. Com
esta decisão, abandonou um princípio central da diplomacia portuguesa: nunca
faltar a uma iniciativa europeia quando a Espanha está presente. O novo PM
espanhol, Pedro Sanchez, não só esteve em Bruxelas como desempenhou um papel de
relevo, apresentando uma proposta com o Presidente francês, Macron. Sanchez
representou a Península Ibérica em Bruxelas. Os nossos diplomatas devem estar
com um ataque de nervos.
Um dos temas principais da
reunião foi a segurança e a proteção das fronteiras externas da União Europeia.
Portugal constitui uma das fronteiras externas, mas António Costa achou que não
era necessário ir a Bruxelas. Além disso, Costa resolveu imitar os líderes que
recusam políticas europeias e adoptam soluções nacionais, como o PM húngaro e o
Presidente polaco. Em relação à reunião de Bruxelas, Costa comportou-se como
Orban. O PM não encontrou tempo para ir a Bruxelas a uma reunião sobre um tema crucial
para o futuro da Europa, mas vai hoje à Rússia assistir a um jogo do Mundial.
Entre o futebol e a política europeia, Costa escolhe o que lhe dá mais
popularidade. Espero que os socialistas pensem duas vezes antes de atacarem o
populismo.
A ligeireza com que o PM trata
estas questões também mostra a falta de escrutínio da oposição, nomeadamente
por parte da nova liderança do PSD. Se Passos Coelho fosse ainda o líder da
oposição, Costa teria muito provavelmente ido a Bruxelas, e não trocava a
Europa pelo futebol. Esperemos que Rui Rio diga alguma coisa de relevo. Aliás,
o PSD e o CDS deveriam chamar o PM ao Parlamento para explicar a sua ausência
da reunião de Bruxelas.
Em relação às conclusões da
reunião de Bruxelas, há três pontos a assinalar. Em primeiro lugar, a urgência
do desafio das migrações para a Europa vai levar a acordos bilaterais e
trilaterais antes de se encontrar uma política europeia comum. Depois, a
Alemanha e a França começaram a levar as queixas italianas a sério. A verdade é
que a União Europeia abandonou a Itália durante os últimos anos. Foi necessário
chegar uma coligação populista ao governo para os europeus ouvirem a Itália.
Por fim, é óbvio que se está a começar a construir a Europa-fortaleza. Da
esquerda, Sanchez, do centro, Macron, e da direita, Merkel, aos populistas
italianos, Conte, todos concordaram que a Europa tem que reduzir o número de
imigrantes ilegais na Europa. As propostas dos populistas vão transformar-se em
políticas europeias. Merkel e Macron escolheram Pedro Sanchez para ser o
porta-voz do novo rumo europeu. Chamam-lhe, agora, “solidariedade europeia”.
Título e Texto: João Marques Almeida, Observador,
25-6-2018
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