Querer transformar este inconsequente
encontro de Marcelo no filme Mrs. Padeira de Aljubarrota Goes to Washington
é, pura e simplesmente, patético.
João Miguel Tavares
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Foto: Agência LUSA |
Marcelo efetuou aquilo que
pode desde já ser considerado (aguarda homologação pelo Guinness World Records)
o mais incrível aperto de mão da história dos apertos de mão. Marcelo mostrou a
Trump de que é feito o verdadeiro português. Marcelo esteve espetacular.
Marcelo deu uma lição de
História a Donald Trump, que nem sequer sabia que os founding fathers
tinham brindado à independência com vinho da Madeira, o ignorante.
Marcelo meteu Trump no bolso
quando ele fez aquela piada sobre Cristiano Ronaldo poder um dia vir a ser
Presidente da República Portuguesa: “Há uma coisa que tenho de lhe dizer”,
disse Marcelo, o espetacular, “Portugal não é bem como os Estados Unidos”. Uau,
que espetáculo!
E aquela pose na cadeira?
Marcelo de mãos nas ancas, braços abertos e olhar négligé (Marcelo
fez um olhar em francês só para relembrar Trump que ele não é Macron) – parecia
que estava a dar a volta de honra à arena do Campo Pequeno após ter conquistado
duas orelhas e um rabo. Já disse que Marcelo esteve espetacular?
E foi isto. Às vezes somos um
país tão pequenino e tão ridículo que até dói. Foram ler o que é que a imprensa
americana escreveu sobre esse tão grande e heróico encontro? Isto: as respostas
de Donald Trump sobre quem deverá ser o próximo juiz do Supremo Tribunal de
Justiça após Anthony Kennedy anunciar a sua saída. Nessas notícias made in
USA, Marcelo existe apenas como peça decorativa: “Sitting next to the
president of Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, in the Oval Office, Trump told
reporters that his next nominee will likely come from...” E assim por diante.
Não tem mal nenhum, e é
perfeitamente natural que as coisas sejam descritas desta forma: Portugal é um
país politicamente irrelevante no xadrez mundial, mas com uma comunidade de
certa dimensão nos Estados Unidos (1,5 milhões de luso-descendentes, o único
número que Trump memorizou para o encontro) e uma base militar com alguma
importância nos Açores, o que lhe granjeia um pequenino naco de uma longa tarde
de Donald Trump.
Querer transformar este
inconsequente encontro de Marcelo no filme Mrs. Padeira de
Aljubarrota Goes to Washington é, pura e simplesmente, patético. Sim,
Marcelo tentou aproveitar os quinze minutos de fama na Casa Branca falando
muito e depressa. E Trump, a sonhar com o Supremo, tentou ser bem-educado,
abanou a cabeça em aprovação enquanto Marcelo desfiava a sua trivia
luso-americana, disse várias vezes “that’s right” só para fingir que
estava atento, ensaiou uma piada sobre Cristiano Ronaldo, e quando falou de
assuntos sérios (acordos de comércio) declarou que os Estados Unidos estão a
negociar com os “representantes” de Portugal, ou seja, a União Europeia – que é
aquele sítio onde a padeira 2.0 vai comprar pá, trigo e levedura.
Portugal não tem de se
rebaixar diante dos grandes países do mundo, e muito menos perante o
imprestável Trump. Mas a sobranceria de tantos comentários portugueses a que
assisti nos últimos dias não tem pés nem cabeça. Para aquele ser um grande
embate mediático entre David e Golias era necessário que o Golias tivesse
reparado no David. Deixem-me dar-vos uma má notícia: não reparou.
Título e Texto: João Miguel
Tavares, Público,
30-6-2018
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