Historiadores reveem reviravoltas que
rodeiam o 7 de Setembro
Luiz Cláudio Ferreira e
Leyberson Pedrosa
O Brasil no século 19 poderia
ser roteiro de uma série de época com ingredientes típicos de ficção. Cenas de
aventura nos mares e na terra, ameaças de invasão e violência, medo, fuga,
tiros, pedras, disputas pelo poder, relações de família, personagens controversos,
cenas à beira do rio, homens em cavalaria, enlaces entre povos, novos ajustes e
um grito de vida ou morte para chamar outras temporadas.



![]() |
O quadro de Pedro Américo
(em destaque) é uma metáfora sobre o dia do Grito do Ipiranga. A pintura,
feita em 1888, chama-se Independência ou Morte e está exposta no
Museu do Ipiranga (SP).
|
Antes e
Depois do 7 de setembro
|
||
O enredo só parece de ficção.
Pesquisadores da história do Brasil e de Portugal constroem diferentes olhares ao contexto da Independência do Brasil, que instiga o público há praticamente dois séculos.
Desde o ensino fundamental,
aprende-se que essa "série" não está relacionada unicamente à
celebração do 7 de Setembro, motivo de feriado nacional. Para entender esse
marco histórico, garantem os especialistas, é preciso rever causas, eventos antecedentes
e efeitos. Enfim, “maratonar” os eventos que precedem e sucedem a alegoria do
grito do Ipiranga, registrada pelo pintor Pedro Américo décadas depois de 1820.
São tantas reviravoltas que
renderiam episódios agitadíssimos e à moda antiga: sem telefonemas ou mensagens
instantâneas para organizar os atos entre pessoas que estão distantes. As
ordens e os documentos do Brasil Colônia atravessam os caminhos entre metrópole
e colônia por cartas depois de meses de navio pelo Oceano Atlântico e ao sabor
do vento já que o barco vapor ainda era um experimento incapaz de enfrentar os
mares.
O tempo é um tempero a mais
nesta história: a distância entre os países criava ruídos e diminuía o peso de
decisões, decretos feitos entre as cortes no Brasil e Portugal. Todos falavam
português, mas a demora com que as informações atravessavam os mares, em geral,
de dois a três meses, retirava as informações de contexto. No vídeo a seguir,
historiadores comentam as peculiaridades nas comunicações da época:
O pertencimento à Independência
Para os especialistas
entrevistados, os episódios desta série da vida real estão todos associados uns
aos outros, enlaçados em seus significados. Inclusive, aos sentimentos de
brasilidade do público. “Quando pensamos ter a necessidade de tratar do que
aconteceu com o Brasil há 200 anos, é porque encontramos algum laço entre o
presente e o passado. Esse vínculo se estabelece como forma de comemorar e de
lembrar. A razão para contar essa história é para criar vínculos de
pertencimento”, afirma o historiador Deusdedith Rocha Junior.
Os referenciais desse
“pertencimento”, conforme explica Deusdedith, devem levar em conta que o que
vai ser lembrado nesse roteiro é fruto de uma “disputa”. O conflito permanente
está na raiz de todo o processo. A disputa entre os poderosos da época tem diferentes
marcos, como a fuga da família real portuguesa nos dias finais de novembro de
1807 para a colônia Brasil, aonde chegaria somente em 22 de janeiro de 1808.
Dom João VI, o príncipe regente português, não viu outra saída, depois que o
país foi ameaçado de invasão pelas tropas do imperador francês Napoleão
Bonaparte, já que Portugal não havia aderido ao bloqueio continental contra a
Inglaterra.
Dom João resolveu apostar em
uma aventura e embarcou a família inteira, incluindo a mãe, Maria, a esposa, Carlota
Joaquina, os filhos, Pedro e Miguel, e outros integrantes da corte em navios e
rumaram para o país desconhecido. Ao saber que os poderosos fugiam, a população
teria atacado os navios reais inclusive com pedras. Para os pesquisadores, os
caminhos da independência brasileira começam a tomar forma nesse episódio
inusitado.
Leia
as outras matérias desta série:
Título e Texto: Luiz
Cláudio Ferreira e Leyberson Pedrosa; Edição: Beatriz Arcoverde
– Agência Brasil, 7-9-2020, 7h09
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-