sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O Contra no 'Isto é o Povo a Falar': sobre a queda das democracias ocidentais e outros apocalipses

Paulo Hasse Paixão

O ContraCultura foi convidado para uma conversa com João Nuno Pinto no programa ‘Isto é o Povo a Falar’ do canal Kuriakos TV. A hora de duração do talkshow passou num instante e foi animada e grata a troca de ideias e impressões com o amável anfitrião. O Contra deixa o registro vídeo desse episódio, bem como a sinopse que tinha preparado anteriormente sobre o tema. (Vídeo no final deste artigo)

 

O Decaimento das democracias ocidentais:

Tendência para regimes totalitários/unipartidários

Áustria: Herbert Kikl, populista, ganhou as eleições de setembro, mas foi afastado das negociações para a constituição de um governo.

Alemanha: O AfD, o segundo partido mais votado nas europeias e nas estaduais pode ser ilegalizado. Mesmo que seja o segundo partido mais votado nas legislativas de janeiro, vai ser excluído do poder pelo SPD e pela CDU

França: Partido mais votado nas europeias e nas legislativas, o Rassemblement National de Le Pen não faz parte do governo recém-formado. Coligação entre extrema esquerda, socialistas e liberais. Nas legislativas deste verão, os burocratas da administração pública prometeram bloquear um governo de Le Pen. (O programa foi gravado antes de sabermos que o governo globalista caiu).

Holanda: Geert Wilders, o líder do partido populista que ganhou as eleições do ano passado, teve que abdicar de ser primeiro-ministro para poder formar governo. Nomearam para o cargo um burocrata independente, eleito por ninguém.

Espanha: O partido mais votado das últimas eleições foi o PP. O PSOE manteve-se no poder graças a uma aliança de extrema esquerda que inclui um grupo independentista catalão considerado terrorista pelo Estado espanhol e cujos líderes estavam no exílio.

Itália: Graças a um mandato eleitoral claramente populista, Giorgia Meloni, em coligação com outros partidos nacionalistas, conseguiu uma maioria confortável. O que fez? Traiu o mandato eleitoral para colaborar ativamente com Bruxelas, a imigração atingiu recordes durante o seu mandato; incondicional de Zelensky e de Nethanyau.

Portugal: Desde que António Costa inventou o modelo da geringonça para governar depois de ter perdido as eleições, instalou-se um déficit democrático e todos sabemos que o Chega só chegará ao poder com maioria absoluta, o que é impensável, considerando o contexto histórico e ideológico nacional.

Parlamento Europeu: Populistas/nacionalistas têm 228 deputados em 720 – Mais 40 deputados que o PPE de von der Leyen. Não foram ouvidos para a formação da Comissão Europeia. Von der Leyen, que exerce o cargo executivo mais poderoso na Europa, não foi eleita por ninguém e mantém o seu programa globalista como se nada fosse. Castiga com chantagem financeira países como a Hungria e a Eslováquia que fogem à narrativa regimental e aos modelos de governação globalista.

Reino Unido: Reina o unipartido. Conservadores, liberais e trabalhistas estão de acordo sobre os grandes temas: apocalipse climático, ideologia de gênero, guerra na Ucrânia, carga fiscal, imigração. Starmer é eleito apenas com 21% dos votos de todo o eleitorado para conseguir uma maioria histórica. Tem implementado um regime tirânico.

Estados Unidos: Há fortes indícios de que Joe Biden chegou à presidência em 2020 de forma fraudulenta, e o melhor argumento nesse sentido é que Kamala Harris somou menos 20 milhões de votos em relação ao seu predecessor. Como é que desapareceram estes eleitores todos? Grande parte deles nunca existiu.
Unipartido de Washington: as cúpulas do poder no partido republicano recusam o mandato eleitoral. Os senadores republicanos estão a dificultar as nomeações de Trump, o caso mais paradigmático será Matt Gaetz, mas haverá outros.
As próprias nomeações de Trump são suspeitas: Marco Rubio e Mike Waltz, Sebastian Gorka e Scott Bessent não cumprem o espírito populista do mandato eleitoral.

Canadá: O principal serviço de inteligência do governo federal canadiano confirmou que a China interferiu nas eleições do país, entre 2019 e 2021, para impedir que os opositores de Justin Trudeau tomassem o poder. Trudeau governa graças a uma coligação frágil, mas com punho de ferro. 

Liberdade de expressão

A liberdade de expressão e de informação está neste momento a sofrer o maior ataque desde que Gutenberg inventou a imprensa, em nome do combate ao ‘discurso de ódio e à ’desinformação’, termos que são definidos em função das conveniências políticas.

No Reino Unido os cidadãos são condenados a penas de prisão por participarem em protestos, por ‘retórica antissistema’, por gritarem com cães polícia, por rezarem em silêncio nas imediações de clínicas de aborto ou por criticarem as políticas de imigração.
Jornalistas são visitados pela polícia por tweets que publicaram há mais de um ano. Cidadãos recebem a visita das autoridades que pretendem “verificar o seu pensamento”.
O problema da liberdade de expressão no Reino Unido não é de agora, em 2017 já eram presos 9 cidadãos por dia por delito de opinião. Agravou-se com Boris Johnson e a pandemia e depois com Sunak, altura em que a polícia se orgulhou de prender menores por crimes de discurso.

Na Irlanda, que tem uma das leis mais draconianas de supressão do discurso, um cidadão pode ser preso por ter “material odioso” nos seus dispositivos electrónicos. Governo pressionou as tecnológicas: censurem as redes sociais ou enfrentarão “consequências”. Vereador de Dublin apelou a que os manifestantes anti-imigração fossem “baleados na cabeça” ou espancados até à morte.

Na Escócia, as leis do discurso de ódio incluem uma disposição em que os cidadãos podem ser penalizados por declarações que façam em suas próprias casas. Os crimes relacionados com o discurso estão prestes a superar todos os outros crimes combinados. A polícia escocesa foi instruída para perseguir comediantes.

Na Alemanha, o governo manda encerrar meios de comunicação social dissidentes sem mandado judicial. Reformado detido numa rusga depois de ter partilhado um meme que chamava “idiota” ao ministro da economia. Mulher que ‘ofendeu’ imigrantes condenados por violação de uma menor recebe pena de prisão mais longa que a dos violadores. Cidadão que criticou um juiz por se limitar a multar um violador de menores, condenado ao dobro dessa multa. Partidos de esquerda querem facilitar as rusgas e as ações penais contra cidadãos que “insultam” políticos e juízes. Ministro dos Transportes ameaça proibir a circulação automóvel aos fins de semana para ‘salvar o planeta’. Conselho de Ética recomenda “Restrição das liberdades” para combater as alterações climáticas.

Em França, as autoridades detiveram Pavel Durov por este se recusar a partilhar dados e conversas privadas dos utilizadores da sua rede social Telegram.

Em Espanha, pessoas que rezavam o terço em silêncio numa manifestação de rua, foram detidas pela polícia de choque, aquando dos protestos pela permanência no poder de Pedro Sánchez, depois de ter perdido as eleições.

Na Finlândia, Päivi Räsänen foi processada por citar a bíblia no contexto de uma opinião sobre a adoção pela igreja de celebrações do orgulho gay.

Na Holanda, uma advogada conservadora está a ser processada sob a acusação de “racismo” e “incitação ao ódio” por ter criticado a imigração em massa.

Na Polónia, o governo globalista fez aprovar uma lei sobre discurso de ódio que prevê penas de prisão para o delito de opinião. Logo que tomou o poder encerrou a rádio e a televisão públicas e despediu executivos por serem conservadores.

Nos Estados Unidos, o complexo industrial de censura instalado em Silicon Valley é bem conhecido, e foi documentado pelos trabalhos de investigação desenvolvidos para o dossier Twitter Files. Corporações nos EUA e no Reino Unido criaram um programa de censura global em 2018. Mark Zuckerberg admitiu recentemente interferência das suas plataformas nas eleições de 2020, a mando do FBI, e supressão da dissidência durante a pandemia.
A Câmara dos Representantes ilegalizou este ano, com votos da bancada republicana, os versículos 19:10-11 do Evangelho de João, ao aprovar uma lei de discurso de ódio que interdita alegações de que os judeus foram responsáveis pela crucificação de Jesus Cristo.
Há milhares de presos políticos, condenados por terem estado presentes nos motins de 6 de Janeiro. O Departamento de Segurança Interna dos EUA está a financiar um programa que identifica como terroristas os cidadãos que publicam “discursos extremistas”.
Em maio de 2023, em plena campanha das primárias, Ron DeSantis foi a Israel assinar uma lei que criminaliza a liberdade de expressão na Florida.
O antigo Secretário do Trabalho de Bill Clinton, Robert Reich, declarou que os “reguladores globais” deveriam prender Elon Musk por espalhar “desinformação” e “ódio”.
O FBI procedeu a uma rusga à casa de Scott Ritter, com a óbvia intenção de intimidar e silenciar uma das vozes mais proeminentes na desconstrução da narrativa do regime Biden sobre as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente. A mesma agência classificou os católicos que frequentam missas em latim como perigosos extremistas.

No Canadá, a supressão do movimento de protesto dos camionistas contra as restrições Covid, com congelamento de contas bancárias, encarceramento dos manifestantes e violência policial constituiu um dos mais flagrantes exemplos da inspiração totalitária do regime Trudeau. O Tribunal Federal canadiano declarou inconstitucional o uso que o primeiro-ministro fez da Lei de Emergências para esmagar o ‘Comboio da Liberdade’. Este acordão não teve quaisquer consequências práticas.
O governo canadiano chegou a propor um projeto-lei que previa prisão perpétua para certos casos de “discurso de ódio”. Serviços secretos espiam os cidadãos que se opõem a mudanças de sexo em crianças.
Por ter publicado opiniões críticas sobre o governo de Trudeau, o professor Jordan B. Peterson foi processado pela ordem de psicólogos canadiana e foi condenado a um programa de reeducação sobre como comunicar em plataformas online.

União Europeia aprovou a propósito da desinformação e do discurso de ódio legislação draconiana e está a pressionar as plataformas tecnológicas, especialmente o X, para cumprirem com o seu programa repressivo. Von der Leyen propõs “vacinas” para curar as mentes e um “escudo” contra a desinformação.

Papa Francisco defendeu abertamente a censura, apelando às tecnológicas de Silicon Valley para intensificarem a supressão do discurso de ódio.

Organizações internacionais como a ONU, o WEF, o G7 e o G20 e grande parte das ONG’s que influenciam decisivamente os corredores do poder no Ocidente defendem abertamente a censura e a criminalização do discurso. 

Instrumentalização dos tribunais e da imprensa

A separação de poderes e o livre funcionamento da imprensa independente garantiram durante século e meio que o poder político e económico era passível de escrutínio. Mas a instrumentalização dos sistemas judiciais e a transformação do jornalismo numa ferramenta de propaganda corporativa libertou os poderes instituídos e as elites que os interpretam de necessários mecanismos de controlo da sua atividade.

Título e Texto: Paulo Hasse Paixão, ContraCultura, 6-12-2024 

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