sábado, 15 de março de 2025

Frei Gilson destruiu a cultura do cancelamento com uma lição de humildade

Paulo Polzonoff Jr.

Por essas e outras sou contra a reação imediata tão típica da nossa época. Sei que é difícil resistir a certo “espírito justiceiro”, mas pense comigo. Ao optarmos por reagir instintivamente a certas notícias, como a campanha de cancelamento contra o Frei Gilson, e no afã de apontarmos o dedo para idiotas óbvios e perversos, com suas idiotices mais óbvias e perversas ainda, acabamos por ignorar as boas lições que se pode tirar desses conflitos aos quais estamos todos sujeitos.

Frei Gilson, você sabe, é aquele sacerdote que reúne incríveis 1 milhão de pessoas para rezar o terço nas madrugadas. Se não me falha a matemática, isso representa quase 0,5% da população. É muita gente. Muita. Não se trata, porém, de um sucesso pessoal. É o que diferencia o Frei Gilson de fenômenos como o padre Fábio de Melo e o padre Marcelo Rossi. Mas é claro que tamanha capacidade de mobilização espiritual uma hora incomodaria as hordas das trevas. Tava demorando, até.

Ladainha da Humildade

Pois bem. No fim de semana passada o Frei Gilson foi alvo de uma campanha de cancelamento que começou tímida, mas depois foi crescendo, crescendo – e acabou. Acabou porque Frei Gilson, usando alguns preceitos contidos na sempre citada (aqui) Ladainha da Humildade, e convicto de não ter feito nada de errado, simplesmente seguiu com suas pregações. Não pediu desculpas, não se emendou, não implorou para ter sua imagem “limpa” para os que o veem como sujo.

Ao ateu que esteja me lendo, isso pode soar como arrogância. Não é. É humildade – e eu posso provar! É apego e submissão a uma Verdade – esta que se escreve com “vê” maiúsculo e que liberta, liberta verdadeiramente, como diz aquele versículo que Bolsonaro cita (a meu ver) errado. Repare: ao continuar com suas pregações que têm por base sempre as palavras de Jesus, isto é, a Verdade, Frei Gilson jamais se deixou aprisionar pela sensação de ter sido mal interpretado ou vítima de uma injustiça. Até porque a malícia e a injustiça são problemas para quem as perpetra, e não para os supostos alvos delas.

Do receio de ser humilhado...

A atitude (ou seria não-atitude?) de Frei Gilson também revela um admirável desprezo pela imagem, autoimagem, que projetamos neste mundo corrompido. Aqui vale mencionar um dos trechos mais difíceis da difícil (ninguém disse que era fácil) Ladainha da Humildade, composta pelo cardeal Merry del Val, secretário do Estado do Vaticano durante o pontificado de São Pio X, e à qual fui apresentado por recomendação do meu amigo Marcio Campos, a quem serei eternamente grato.

Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de sofrer repulsas, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser caluniado, livrai-me, ó Jesus.

Para encerrar

Serve para o Frei Gilson, serve para mim, serve para você, serve para os presos do 8 de Janeiro e, quer saber?, serve até para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está próximo de ser condenado e injustamente preso – todo mundo sabe disso.

Para encerrar, e antes que esta carta vire um tratado, digo que a postura do Frei Gilson e seu apego não-explícito à Ladainha da Humildade ensinam mais uma coisa. Ensinam que, se esse receio todo de ser humilhado, desprezado, sofrer repulsas e ser caluniado nos aflige tanto na Era do Cancelamento, talvez seja porque estamos dando valor demais à nossa imagem e/ou porque não estamos assim tão convictos das verdades que andamos professando por aí. Se é que são mesmo verdades. Pense nisso.

Enquanto você pensa daí, me despeço daqui com um abraço apertado do

Paulo

Título e Texto: Paulo Polzonoff Jr., Gazeta do Povo, 14-3-2025, 10h21

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