Bruno Vieira Amaral, Reverso Editora/Medialivre, Lisboa, abril 2025, 144 páginas.
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| 5 de maio de 1974: António de Spínola, presidente da JUnta de Salvação Nacional, nomeado na sequência da revolução do 25 de Abril |
"Para aumentar a inquietação
contribuíram os rumores de um lado e do outro do espetro político. Se a
esquerda falava de um possível golpe da extrema-direita, a extrema-direita,
nomeadamente o ELP, através de elementos que se tinham exilado em Espanha, garantia
que o MFA, com o apoio da LUAR (Liga de Unidade e Ação Revolucionária),
planeava uma operação, com a designação de “Matança da Páscoa”, para eliminar
cerca de 500 oficiais e mil civis ligados à direita. Havia quem duvidasse da
veracidade do plano e que atribuísse a origem do rumor ao Partido Comunista
para fazer avançar os spinolistas. Seria, na prática, uma armadilha.
Se era uma armadilha, Spínola caiu nela com estrondo. Com a informação de que a “Matança da Páscoa” estava programada para a noite de 12 para 13 de março, o general partiu para Tancos no dia 10 para liderar um golpe que vinha sendo preparado. A prova de que, do seu lado, nem todos eram partidários de uma ação semelhante é que alguns dos seus homens mais próximos, como Manuel Monge e Almeida Bruno, foram excluídos do plano. Na noite de 10 de março, disfarçado com uma barba postiça, Spínola entrou na Base de Tancos.
Horas depois, deveriam partir para
Lisboa o Regimento de Comandos e a Escola Prática de Cavalaria, mas ao início
da madrugada já todos estavam cientes de que não havia plano nenhum e que o
improviso reinava. Mesmo após o ataque da aviação e perante a iminência do
desastre, às 11h45 daquela terça-feira, os paraquedistas desembarcaram para
tomar o Regimento de Artilharia Ligeira 1, queque deveria ser o centro do
ataque, pois julgava-se que partiria daí a “Matança da Páscoa”, mas foram
rapidamente derrotados pelas forças que protegiam o local. Como as restantes
unidades, como a EPC, não saíram, por volta das 14h30 os paraquedistas já
tinham deposto as armas. O golpe do 11 de março fracassara.
Por volta das cinco da tarde, em Tancos, Spínola é aconselhado a ir de helicóptero para Espanha. É isso que faz. Poucas horas depois, quatro helicópteros da Força Aérea Portuguesa aterraram na Base de Talavera la Real, nos arredores de Badajoz. António de Spínola, acompanhado pela mulher, abandonava, sem honra nem glória, o país pelo qual se tinha sacrificado, pelo qual tinha combatido nas matas de Angola e da Guiné, pelo qual lutara como nunca naqueles meses após a revolução. Fora empurrado, não se sabe por que forças, para um golpe ridículo, planeado de forma amadora, sem a mínima hipótese de sucesso.
De certo modo, a vida política de
António de Spínola, iniciada no dia 20 de maio de 1968, quando tomou posse como
governador da Guiné e comandante-geral das Forças Armadas naquele território,
terminou no dia 11 de março de 1975. Naqueles quase sete anos a História
acelerou e, de militar respeitado pelas suas façanhas, de político admirado
pelas nações pelas suas propostas, Spínola tornou-se num pária.
No dia 14 de março, seguiu num voo
comercial da Iberia para o Brasil, mas não teve luz verde das autoridades
brasileiras para desembarcar. O avião partiu para Buenos Aires e na capital
argentina ocorreram negociações com o embaixador do Brasil na Argentina.
Spínola e a sua comitiva só teriam
asilo no Brasil se se comprometessem a não prosseguir quaisquer atividades
políticas. O acordo foi fechado e a 15 de março Spínola desembarcou em São
Paulo. Dias depois, instalou-se no Rio de Janeiro, como era a sua intenção
inicial."
Bruno Vieira Amaral
***
Apesar de pequena, esta biografia
relembra o porquê e para quê do 25 de Abril em Portugal. Não foi à toa que a
Esquerda mundial gemeu e cantou de prazer.
Depois, foi o descrito no livro. Até
25 de novembro de 1975…
👍👍👍
Mesmo aqui ao lado
Madame Bovary
Angola, a guerra dos traídos
Le racisme antiblanc – L’enquête interdite
La pensée unique
O Arquipélago Gulag


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