A verdade é qualquer enunciado
ou descrição de fato ou fenômeno que pode ser demonstrado matematicamente ou
repetido e explicado experimentalmente pela ciência. Tudo o que não puder ser
tratado dessa maneira pode ser considerado como crença ou convicção de fé.
Para mim, e acredito para a
maioria das pessoas que se dão ao hábito de pensar e lucubrar sobre a origem de
tudo o que existe, ou de pelo menos daquilo que conseguimos perceber da
existência, é extremamente difícil, senão impossível, que consideremos a eternidade
da existência, ou seja, que tudo o que existe tenha sempre existido e existirá
para sempre.
Nascemos, vivemos e morremos
e, pois, estamos condicionados a aceitar que tudo tem um início, uma duração e
um fim. É extremamente irracional, para o homem aceitar a pré-existência e a
pós-existência eterna.
Destarte, intuitivamente, o
homem sempre foi levado a admitir ou crer sempre que não pode provar
matematicamente ou laboratorialmente a existência ou o funcionamento de algo ou
de que tudo que existe teve em dado momento temporal um criador e que, por
criatura que é, teve um início, uma existência finita e terá um fim, mesmo que
aí entre em cena a matemática dos números que transformam a dimensão tempo em
espaço e vice-versa, ou a lógica dos quanta.
O Criador de tudo, pois, seria
o que chamamos de Deus – que acredito não teria, certamente, a figura
antropológica do ser humano, como afirma a maioria das religiões – mas talvez,
quem sabe, uma forma primeva de energia geradora de todas as demais, das quais
conhecemos ainda apenas umas poucas. Portanto, daí em diante, tudo permanece
como sendo “noções próprias da crença ou de fé”, uma vez que não podemos provar
matematicamente, ainda, ou sintetizá-la em laboratório tampouco.
O homem educado e mentalmente desenvolvido
tem, perante o desconhecido, duas atitudes básicas: ou crê ou sabe. Para saber,
ele precisa de uma série de condições adquiridas a priori para que chegue à
condição mental de saber, de conhecer. Para crer, por sua vez, não, bastando
que os dogmas lhe apaziguem a alma. A primeira atitude, a científica, a que
diz: “ainda não posso explicar isso, mas deixarei as perguntas em suspenso para
talvez adquirir conhecimento para respondê-las mais adiante”. O problema é que,
para cada pergunta respondida cientificamente ou matematicamente, surge uma
enxurrada de novas questões, dúvidas e incertezas. E isso é extremamente
angustiante para o espírito humano. O seu apaziguamento, o fim de suas
angústias, vem com a crença, o dogma que ele aceita e vai dormir tranquilo.
Não conheço um exemplo de
pessoa que tenha conseguido viver completamente sem crença ou fé, assim como
não conheço ou tive notícia de qualquer ser humano que tenha nascido, vivido e
morrido em plena satisfação apenas com suas crenças sem que tenha, de alguma
forma, perdido o juízo.
Por outro lado, a relatividade
se manifesta em vasta gama dos assuntos humanos e isso decorre do fato de que,
por mais que saibamos e ampliemos nossa esfera de conhecimentos, mais aumentará
o diâmetro de nossa esfera de dúvidas, multiplicando as nossas inseguranças e
angústias existenciais.
Se as nossas verdades costumam
ser corroídas pelo relativismo cultural, a única força capaz de manter a
integridade delas é a da convicção. Considero todas as religiões úteis, pelo
simples fato de disciplinar e dar sentido construtivo à vida das pessoas,
principalmente aquelas que, por serem mais rudes e de menor educação e
escolaridade, têm dificuldades compreensíveis de firmar convicções.
Essas convicções são, de fato,
a matéria-prima com a qual lidam os religiosos e os líderes messiânicos,
ideólogos, que tentam incutir nas pessoas as suas próprias ideias, raramente
por verdadeiramente acreditarem nelas, mas por acreditarem que criarão
situações sociais vantajosas para ela caso suas ideologias ganhem aceitação.
Todavia, hoje em dia, graças à
expansão acentuada dos meios de informação, está aumentando consideravelmente o
número de pessoas que adquirem conhecimento suficiente para prescindirem da
maioria, senão da totalidade, dos ritos religiosos.
Interessante é constatar que a
maior parte dessas pessoas, digamos mais informadas, mesmo prescindindo da
religiosidade, não se deixam levar pelo materialismo e por um consequente
ateísmo, exibindo, pelo contrário, um grau maior ou menor de espiritualidade.
O verdadeiro ateu não é aquele
que diz não acreditar em Deus, mas aquele que demonstra não acreditar na
espiritualidade humana. Acredito que tal fenômeno se prende mais à “crença
básica” da existência de um Deus Criador como única opção racional frente ao
dilema conflitante com a lógica humana quando se depara com a hipótese da
eternidade pré e pós-existencial, do que a qualquer forma de educação ou
doutrinação religiosa ou filosófica.
A convicção, pois, é uma atitude mental que
cria valores a serem conservados e confere ares de verdades absolutas não
apenas à crença básica de um Deus Criador, mas também a todas as leis naturais
e as derivadas da necessidade de codificar da melhor maneira possível como a
vida em sociedade deve ser processada e entendida.
Acontece que, dada a própria
evolução humana, foi se desenvolvendo uma de suas capacidades, a que se costuma
dar o nome de “dialética”. Nos seus questionamentos, as correntes de opinião ou
de convicção passaram a ser hábeis em levantar questões quando à validade de
valores culturais e civilizacionais como preparação para a sua subversão e
consequente revolução para implantação de novos meios de funcionamento gregário
da humanidade.
Em oposição à “dialética
espiritualista”, surgiu e se desenvolveu a chamada “dialética materialista” e a
humanidade hoje vive à sombra dos perigos que representam as várias formas de
fundamentalismos de uma e de outra corrente de pensamento.
O ideal seria que houvesse um
equilíbrio entre ambas e mais ainda que o comportamento das pessoas fosse
orientado pelos princípios morais da cultura judaico-cristã que prioriza o
respeito pela opinião, a convivência com o contrário, e o exercício do amor ao
próximo, sem que isso seja necessariamente bitolado por uma atividade
religiosa, mas acima de tudo por convicções a serem conservadas.
Voltarei ao assunto, mais
tarde.
Título e Texto: Francisco Vianna, 21-07-2014
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"Existe algo como a verdade absoluta/verdade universal?"
Jonathas Filho
ResponderExcluirCaro Francisco Vianna, o seu arrazoado de idéias confere com o que é justo e equilibrado. Só considero que, apesar de eu não ser religioso, o ideal comportamental do ser dito humano não deve ser só estabelecido por princípios morais judaico-cristãos. A Filosofia prima pelo comportamento do homem como figura central do cenário da vida e indica o sentido, a direção e a intensidade que se deve utilizar. Confucio não era judeu nem cristão. Heráclito tampouco. O que falar da obra filosófica do Sidharta Gautama? Eu creio em Deus e tenho certeza que estamos em constante aperfeiçoamento e isso, aqui nesse planetinha azul, demanda em TEMPO. Excelente o seu texto, espero ansioso a 2ª parte.
Jonathas Filho