Ninguém quer que o conflito em
Gaza se eternize, mas é bom não ter ilusões: nenhum estado tolera que disparem
rockets contra as suas cidades. O Hamas, ao fazê-lo, quer impedir qualquer
processo de paz
(…)
Os objectivos do exército
israelita são, porém, mais amplos: com esta operação pretende-se, também,
desarticular a rede de túneis que o Hamas construiu nos últimos anos e que tem
utilizado para infiltrar militantes em Israel.
O argumento de Israel é forte.
Em 2005, o estado judaico desocupou por completo a Faixa de Gaza, desmantelando
todos os colonatos aí existentes e entregando a soberania à Autoridade
Palestiniana. Pouco tempo passado, começaram a cair no sul de Israel rockets
disparados a partir de Gaza. Em 2007, o Hamas tomou o poder no território,
desalojando a Autoridade Palestiniana e a OLP. Entre Dezembro de 2008 e Janeiro
de 2009 e em 2012, Israel desencadeia duas operações militares para tentar
acabar com o disparo de mísseis, mas a mudança de poder no Egipto acaba por
ajudar o Hamas a rearmar-se. Antes de se iniciar a actual operação estimava-se
que já dispusesse de mais de dez mil rockets e mísseis, alguns deles com um
alcance de 150 quilómetros (o Hamas chegou a ameaçar abater aviões comerciais
que se dirigissem para o aeroporto Ben Gurion).
Face a estas ameaças, com as
suas cidades mais importantes à mercê de ataques que podem surgir a qualquer
hora, Israel reivindica o direito de se defender. E a verdade é que parece
haver muita gente, na região e no mundo, a desejar que o faça com êxito. O
Hamas, que passou a ter no Cairo um poderoso inimigo e que deixou de contar com
o apoio de Damasco, é um grupo radical muito mais isolado. A própria Autoridade
Palestiniana, que devia marcar eleições em breve, deseja vê-lo enfraquecido.
Há, por isso, a sensação de que a diplomacia evoluiu suficientemente devagar
para não parecer que está parada e, ao mesmo tempo, dar tempo a Israel para
concluir a sua operação. É como se todos tivessem a percepção de que, com o
Hamas entrincheirado em Gaza, daí lançando ataques constantes contra Israel e
mantendo a sua retórica de “vamos matar os judeus todos”, será sempre muito
difícil recomeçar qualquer processo de paz.
Israel também sabe que tem
muito pouco tempo. Cada dia que passa, e em que aumenta o número de baixas
civis em Gaza, é menos um dia de tolerância. Isso mesmo estão, neste momento, a
dizer todos os analistas na imprensa judaica. No entanto, a falta de tolerância
para com as mortes de civis não deve ser confundida com qualquer equivalência
moral entre Israel e o Hamas.
Tomemos, a título de exemplo,
uma notícia dos últimos dias que passou muito despercebida: a descoberta, pela
agência das Nações Unidas que apoia os refugiados palestinianos, a UNRWA, de um
pequeno arsenal de rockets no interior de uma escola gerida pela organização
humanitária. Foram os porta-vozes da organização que o reconheceram, informando
que depois entregaram as armas às “autoridades locais” – ou seja, ao Hamas.
Isto não é propaganda do exército
israelita, são fontes oficiais das Nações Unidas, absolutamente insuspeitas
pois, por regra, mostram-se alinhadas com os palestinianos. Mas são informações
que confirmam o tipo de comportamento seguido pelo Hamas há anos: colocar as
suas instalações militares e as suas rampas de lançamento em zonas civis
(incluindo escolas, como se vê), para depois atrair o fogo dos aviões
israelitas. Quando isso é feito numa zona tão densamente povoada como Gaza tem
como consequência a morte de civis. Por muito que estes sejam avisados para
saírem das zonas de combate, como têm sido avisados.
(…)
Título e Texto: José Manuel Fernandes, 22-07-2014
Leia o artigo completo aqui no 'Observador'.
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