terça-feira, 22 de julho de 2014

A difícil questão de Israel e de Gaza

José Manuel Fernandes
Ninguém quer que o conflito em Gaza se eternize, mas é bom não ter ilusões: nenhum estado tolera que disparem rockets contra as suas cidades. O Hamas, ao fazê-lo, quer impedir qualquer processo de paz
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Os objectivos do exército israelita são, porém, mais amplos: com esta operação pretende-se, também, desarticular a rede de túneis que o Hamas construiu nos últimos anos e que tem utilizado para infiltrar militantes em Israel.

O argumento de Israel é forte. Em 2005, o estado judaico desocupou por completo a Faixa de Gaza, desmantelando todos os colonatos aí existentes e entregando a soberania à Autoridade Palestiniana. Pouco tempo passado, começaram a cair no sul de Israel rockets disparados a partir de Gaza. Em 2007, o Hamas tomou o poder no território, desalojando a Autoridade Palestiniana e a OLP. Entre Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009 e em 2012, Israel desencadeia duas operações militares para tentar acabar com o disparo de mísseis, mas a mudança de poder no Egipto acaba por ajudar o Hamas a rearmar-se. Antes de se iniciar a actual operação estimava-se que já dispusesse de mais de dez mil rockets e mísseis, alguns deles com um alcance de 150 quilómetros (o Hamas chegou a ameaçar abater aviões comerciais que se dirigissem para o aeroporto Ben Gurion).

Face a estas ameaças, com as suas cidades mais importantes à mercê de ataques que podem surgir a qualquer hora, Israel reivindica o direito de se defender. E a verdade é que parece haver muita gente, na região e no mundo, a desejar que o faça com êxito. O Hamas, que passou a ter no Cairo um poderoso inimigo e que deixou de contar com o apoio de Damasco, é um grupo radical muito mais isolado. A própria Autoridade Palestiniana, que devia marcar eleições em breve, deseja vê-lo enfraquecido. Há, por isso, a sensação de que a diplomacia evoluiu suficientemente devagar para não parecer que está parada e, ao mesmo tempo, dar tempo a Israel para concluir a sua operação. É como se todos tivessem a percepção de que, com o Hamas entrincheirado em Gaza, daí lançando ataques constantes contra Israel e mantendo a sua retórica de “vamos matar os judeus todos”, será sempre muito difícil recomeçar qualquer processo de paz.

Israel também sabe que tem muito pouco tempo. Cada dia que passa, e em que aumenta o número de baixas civis em Gaza, é menos um dia de tolerância. Isso mesmo estão, neste momento, a dizer todos os analistas na imprensa judaica. No entanto, a falta de tolerância para com as mortes de civis não deve ser confundida com qualquer equivalência moral entre Israel e o Hamas.

Tomemos, a título de exemplo, uma notícia dos últimos dias que passou muito despercebida: a descoberta, pela agência das Nações Unidas que apoia os refugiados palestinianos, a UNRWA, de um pequeno arsenal de rockets no interior de uma escola gerida pela organização humanitária. Foram os porta-vozes da organização que o reconheceram, informando que depois entregaram as armas às “autoridades locais”ou seja, ao Hamas.

Isto não é propaganda do exército israelita, são fontes oficiais das Nações Unidas, absolutamente insuspeitas pois, por regra, mostram-se alinhadas com os palestinianos. Mas são informações que confirmam o tipo de comportamento seguido pelo Hamas há anos: colocar as suas instalações militares e as suas rampas de lançamento em zonas civis (incluindo escolas, como se vê), para depois atrair o fogo dos aviões israelitas. Quando isso é feito numa zona tão densamente povoada como Gaza tem como consequência a morte de civis. Por muito que estes sejam avisados para saírem das zonas de combate, como têm sido avisados.
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Título e Texto: José Manuel Fernandes, 22-07-2014
Leia o artigo completo aqui no 'Observador'.

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