segunda-feira, 21 de julho de 2014

Considerações sobre a verdade absoluta e a dialética do relativismo cultural (1ª Parte)

Francisco Vianna
A verdade é qualquer enunciado ou descrição de fato ou fenômeno que pode ser demonstrado matematicamente ou repetido e explicado experimentalmente pela ciência. Tudo o que não puder ser tratado dessa maneira pode ser considerado como crença ou convicção de fé.

Para mim, e acredito para a maioria das pessoas que se dão ao hábito de pensar e lucubrar sobre a origem de tudo o que existe, ou de pelo menos daquilo que conseguimos perceber da existência, é extremamente difícil, senão impossível, que consideremos a eternidade da existência, ou seja, que tudo o que existe tenha sempre existido e existirá para sempre.

Nascemos, vivemos e morremos e, pois, estamos condicionados a aceitar que tudo tem um início, uma duração e um fim. É extremamente irracional, para o homem aceitar a pré-existência e a pós-existência eterna.

Destarte, intuitivamente, o homem sempre foi levado a admitir ou crer sempre que não pode provar matematicamente ou laboratorialmente a existência ou o funcionamento de algo ou de que tudo que existe teve em dado momento temporal um criador e que, por criatura que é, teve um início, uma existência finita e terá um fim, mesmo que aí entre em cena a matemática dos números que transformam a dimensão tempo em espaço e vice-versa, ou a lógica dos quanta. 

O Criador de tudo, pois, seria o que chamamos de Deus – que acredito não teria, certamente, a figura antropológica do ser humano, como afirma a maioria das religiões – mas talvez, quem sabe, uma forma primeva de energia geradora de todas as demais, das quais conhecemos ainda apenas umas poucas. Portanto, daí em diante, tudo permanece como sendo “noções próprias da crença ou de fé”, uma vez que não podemos provar matematicamente, ainda, ou sintetizá-la em laboratório tampouco.

O homem educado e mentalmente desenvolvido tem, perante o desconhecido, duas atitudes básicas: ou crê ou sabe. Para saber, ele precisa de uma série de condições adquiridas a priori para que chegue à condição mental de saber, de conhecer. Para crer, por sua vez, não, bastando que os dogmas lhe apaziguem a alma. A primeira atitude, a científica, a que diz: “ainda não posso explicar isso, mas deixarei as perguntas em suspenso para talvez adquirir conhecimento para respondê-las mais adiante”. O problema é que, para cada pergunta respondida cientificamente ou matematicamente, surge uma enxurrada de novas questões, dúvidas e incertezas. E isso é extremamente angustiante para o espírito humano. O seu apaziguamento, o fim de suas angústias, vem com a crença, o dogma que ele aceita e vai dormir tranquilo.

Não conheço um exemplo de pessoa que tenha conseguido viver completamente sem crença ou fé, assim como não conheço ou tive notícia de qualquer ser humano que tenha nascido, vivido e morrido em plena satisfação apenas com suas crenças sem que tenha, de alguma forma, perdido o juízo.

Por outro lado, a relatividade se manifesta em vasta gama dos assuntos humanos e isso decorre do fato de que, por mais que saibamos e ampliemos nossa esfera de conhecimentos, mais aumentará o diâmetro de nossa esfera de dúvidas, multiplicando as nossas inseguranças e angústias existenciais.

Se as nossas verdades costumam ser corroídas pelo relativismo cultural, a única força capaz de manter a integridade delas é a da convicção. Considero todas as religiões úteis, pelo simples fato de disciplinar e dar sentido construtivo à vida das pessoas, principalmente aquelas que, por serem mais rudes e de menor educação e escolaridade, têm dificuldades compreensíveis de firmar convicções.

Essas convicções são, de fato, a matéria-prima com a qual lidam os religiosos e os líderes messiânicos, ideólogos, que tentam incutir nas pessoas as suas próprias ideias, raramente por verdadeiramente acreditarem nelas, mas por acreditarem que criarão situações sociais vantajosas para ela caso suas ideologias ganhem aceitação.

Todavia, hoje em dia, graças à expansão acentuada dos meios de informação, está aumentando consideravelmente o número de pessoas que adquirem conhecimento suficiente para prescindirem da maioria, senão da totalidade, dos ritos religiosos.

Interessante é constatar que a maior parte dessas pessoas, digamos mais informadas, mesmo prescindindo da religiosidade, não se deixam levar pelo materialismo e por um consequente ateísmo, exibindo, pelo contrário, um grau maior ou menor de espiritualidade.

O verdadeiro ateu não é aquele que diz não acreditar em Deus, mas aquele que demonstra não acreditar na espiritualidade humana. Acredito que tal fenômeno se prende mais à “crença básica” da existência de um Deus Criador como única opção racional frente ao dilema conflitante com a lógica humana quando se depara com a hipótese da eternidade pré e pós-existencial, do que a qualquer forma de educação ou doutrinação religiosa ou filosófica.

 A convicção, pois, é uma atitude mental que cria valores a serem conservados e confere ares de verdades absolutas não apenas à crença básica de um Deus Criador, mas também a todas as leis naturais e as derivadas da necessidade de codificar da melhor maneira possível como a vida em sociedade deve ser processada e entendida.

Acontece que, dada a própria evolução humana, foi se desenvolvendo uma de suas capacidades, a que se costuma dar o nome de “dialética”. Nos seus questionamentos, as correntes de opinião ou de convicção passaram a ser hábeis em levantar questões quando à validade de valores culturais e civilizacionais como preparação para a sua subversão e consequente revolução para implantação de novos meios de funcionamento gregário da humanidade.

Em oposição à “dialética espiritualista”, surgiu e se desenvolveu a chamada “dialética materialista” e a humanidade hoje vive à sombra dos perigos que representam as várias formas de fundamentalismos de uma e de outra corrente de pensamento.

O ideal seria que houvesse um equilíbrio entre ambas e mais ainda que o comportamento das pessoas fosse orientado pelos princípios morais da cultura judaico-cristã que prioriza o respeito pela opinião, a convivência com o contrário, e o exercício do amor ao próximo, sem que isso seja necessariamente bitolado por uma atividade religiosa, mas acima de tudo por convicções a serem conservadas.

Voltarei ao assunto, mais tarde.
Título e Texto: Francisco Vianna, 21-07-2014

Relacionado:
"Existe algo como a verdade absoluta/verdade universal?"

Um comentário:

  1. Jonathas Filho
    Caro Francisco Vianna, o seu arrazoado de idéias confere com o que é justo e equilibrado. Só considero que, apesar de eu não ser religioso, o ideal comportamental do ser dito humano não deve ser só estabelecido por princípios morais judaico-cristãos. A Filosofia prima pelo comportamento do homem como figura central do cenário da vida e indica o sentido, a direção e a intensidade que se deve utilizar. Confucio não era judeu nem cristão. Heráclito tampouco. O que falar da obra filosófica do Sidharta Gautama? Eu creio em Deus e tenho certeza que estamos em constante aperfeiçoamento e isso, aqui nesse planetinha azul, demanda em TEMPO. Excelente o seu texto, espero ansioso a 2ª parte.
    Jonathas Filho

    ResponderExcluir

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-