Sentimos quando algum ente
querido morre. Assim, Lula e familiares choraram a morte de dona Marisa
ocorrida nesta semana. E houve uma enxurrada de manifestações nas redes
sociais. A morte alheia sempre dá o que falar, principalmente quando se trata
de uma figura pública. Variados eram os sentimentos, de pesar ou impassibilidade,
pelo que ela representou e vivenciou ao lado do Lula – coisas boas e coisas
ruins que repercutiram na sociedade brasileira. Até adversários políticos de
Lula foram ao seu encontro para transmitir-lhe condolências. É, a morte pode
congregar os vivos, talvez, num claro sinal de reflexão sobre a vida.
Filosofando um pouco, sabemos
o que é a morte? Sabemos que ela acontece porque vemos pessoas morrerem e que
ninguém escapa dela. Temos a experiência da morte do outro, mas não temos
experiência da nossa própria, enquanto vivermos. De todas as experiências que
tivermos em vida, a experiência da morte será a nossa derradeira sem, no
entanto, podermos transmitir a alguém essa experiência; quando a tivermos
experimentado já não estaremos mais vivos para comunicar como foi o morrer.
Refletir sobre a morte pode
ser de grande importância. Esse refletir acaba sendo uma reflexão sobre a vida.
Embora sejamos perseguidos pela angústia da morte – pois, comumente, ninguém
quer morrer -, não pensar nela não faz com que vivamos bem. O avestruz, que
enterra sua cabeça na areia achando que o caçador não o pega, se dá mal. O ser
humano, querendo fugir da morte, não pensando nela, não significa que realiza
seu ser a contento nesta existência.
Saber-se ser um ser para a
morte pode levar-nos a fixar projetos de vida que dão valor à nossa existência,
isto é, encaramos a vida, que se encurta cada vez mais, ocupando-nos em
decifrar o que é ser de verdade estando neste mundo, sem nos deixar levar pela
vida impessoal da superficialidade, de achar que a gente vive e pronto. Somos
racionais e somos capazes de nos colocar a questão do ser e traçar projetos que
dão sentido a nossas existências.
Temos que ter em mente que
somos um ponto surgido no tempo onde se caminha realizando projetos pessoais
que nos definem como ser e que estamos a caminho do projeto final que a vida
nos impõe: a morte, o ápice da realização de nosso ser – não mais existindo,
mas dissolvidos no absoluto do Ser.
Aqueles que souberam
administrar suas existências, agarrando-se em suas possibilidades de ser, para
estes a vida não fracassou: abstiveram-se dos excessos de bens materiais e da
vida sem responsabilidade onde o ser é esquecido. Como diz Sponville: “ninguém jamais fracassou
em morrer, mas em viver”. Podemos fracassar na vida se a angustia da morte não
nos despertar para uma vida que valha a pena viver...
E Marisa morreu... Como viveu?
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 3-2-2017
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