sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

[Para que servem as borboletas?] E Marisa morreu...

Valdemar Habitzreuter

Sentimos quando algum ente querido morre. Assim, Lula e familiares choraram a morte de dona Marisa ocorrida nesta semana. E houve uma enxurrada de manifestações nas redes sociais. A morte alheia sempre dá o que falar, principalmente quando se trata de uma figura pública. Variados eram os sentimentos, de pesar ou impassibilidade, pelo que ela representou e vivenciou ao lado do Lula – coisas boas e coisas ruins que repercutiram na sociedade brasileira. Até adversários políticos de Lula foram ao seu encontro para transmitir-lhe condolências. É, a morte pode congregar os vivos, talvez, num claro sinal de reflexão sobre a vida.

Filosofando um pouco, sabemos o que é a morte? Sabemos que ela acontece porque vemos pessoas morrerem e que ninguém escapa dela. Temos a experiência da morte do outro, mas não temos experiência da nossa própria, enquanto vivermos. De todas as experiências que tivermos em vida, a experiência da morte será a nossa derradeira sem, no entanto, podermos transmitir a alguém essa experiência; quando a tivermos experimentado já não estaremos mais vivos para comunicar como foi o morrer.

Refletir sobre a morte pode ser de grande importância. Esse refletir acaba sendo uma reflexão sobre a vida. Embora sejamos perseguidos pela angústia da morte – pois, comumente, ninguém quer morrer -, não pensar nela não faz com que vivamos bem. O avestruz, que enterra sua cabeça na areia achando que o caçador não o pega, se dá mal. O ser humano, querendo fugir da morte, não pensando nela, não significa que realiza seu ser a contento nesta existência.

Saber-se ser um ser para a morte pode levar-nos a fixar projetos de vida que dão valor à nossa existência, isto é, encaramos a vida, que se encurta cada vez mais, ocupando-nos em decifrar o que é ser de verdade estando neste mundo, sem nos deixar levar pela vida impessoal da superficialidade, de achar que a gente vive e pronto. Somos racionais e somos capazes de nos colocar a questão do ser e traçar projetos que dão sentido a nossas existências.

Temos que ter em mente que somos um ponto surgido no tempo onde se caminha realizando projetos pessoais que nos definem como ser e que estamos a caminho do projeto final que a vida nos impõe: a morte, o ápice da realização de nosso ser – não mais existindo, mas dissolvidos no absoluto do Ser.

Aqueles que souberam administrar suas existências, agarrando-se em suas possibilidades de ser, para estes a vida não fracassou: abstiveram-se dos excessos de bens materiais e da vida sem responsabilidade onde o ser é esquecido.  Como diz Sponville: “ninguém jamais fracassou em morrer, mas em viver”. Podemos fracassar na vida se a angustia da morte não nos despertar para uma vida que valha a pena viver...

E Marisa morreu... Como viveu?
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 3-2-2017

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