domingo, 28 de maio de 2017

A desordem internacional ao rubro

Manuel Villaverde Cabral

Uma coisa é certa: a demagogia, seja populista ou elitista, não vai resolver problema algum da atual desordem internacional. Entretanto, a guerra civil entre o bem e o mal está ao rubro.

Há pouco mais de um ano, chamei a atenção para aquilo que já era óbvio: a desordem internacional reinante. E nessa altura Donald Trump ainda não tinha chegado à presidência dos Estados Unidos nem Erdogan proclamara uma ditadura islâmica na Turquia, isto é, às portas da Europa, para não falar de aparentes trivialidades como a guerra civil latente na Venezuela e a derrocada final do regime oligárquico em que o Brasil degenerou sob a populismo despesista do PT, para mencionar apenas países de algum peso à escala mundial…

Guerras já havia, declaradas ou não, e neste clima só podem continuar, como a guerra que o terrorismo islâmico move diariamente contra a Europa que o deixou medrar dentro de si. Não é, pois, de admirar que a desordem internacional se tenha multiplicado e esteja hoje ao rubro. Exemplo flagrante disso foi a reunião no fim de semana passado do chamado G7, com os murros na mesa que o Sr. Trump não é capaz de deixar de dar!

Isto, infelizmente, é o que caracteriza o novo presidente norte-americano, cujo impeachment ainda está para tardar, apesar do que anda a dizer a mesma «media» nacional e internacional, erradamente ou não, como já errou de mira nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016. A grande comunicação social internacional, de que o Financial Times é porventura o melhor exemplo, ainda não percebeu que, quanto pior diz de Trump, mais os seus eleitores e apoiantes pelo mundo fora acenam com a cabeça mas arriscam-se a pensar o contrário sem o confessar!

À força de repetir os mesmos lugares-comuns, a «media» acaba por acreditar neles, mas nada tem a dizer quando Trump repete na Europa o que dissera alto e bom som, dúzias de vezes, acerca do facto de quase nenhum dos países da NATO pagar a quotização de 2% do PIB a que está obrigado. Na véspera da cimeira do G7, um dos editorialistas do Público escrevia cheio de boa-consciência que «a aliança política, militar e económica do mundo livre pode bem vir a fazer falta aos Estados Unidos», mas pelos vistos não se lembrou do que nós lhes devemos desde a 2ª Guerra Mundial sem pagar as quotas à NATO!

Provavelmente, Trump não estava a pensar no minúsculo Portugal quando se queixou de que os USA pagavam para a NATO muito mais do que todos os outros países juntos, mas a verdade é que nós somos «caloteiros» contumazes como a esmagadora maioria dos outros membros da aliança. Se Portugal pagasse o que deve, o nosso défice do ano passado ficava acima dos 3%. Isto é o que o presidente da República e o governo não dizem nem a «media» está interessada em divulgar.

Assim, não admira que não haja ordem entre os parceiros quanto mais entre os adversários de morte da Europa, como se tornou a Turquia, pela qual passa agora o corredor que vem dos países do Médio Oriente em guerra religiosa fratricida e sanguinolenta que não atende a fronteiras em grande parte artificiais. E a Europa que receba os refugiados. É certo que os imigrantes vindos da América do Sul que Trump pretende impedir de entrar nos USA são diferentes dos do Médio Oriente e da África do Norte.

A verdade, porém, é que os países europeus não têm muito mais argumentos do que Trump para lhes abrir ou fechar as portas além do que sentem as opiniões pública. E estas adivinham-se bem mais complexas do que apregoa quem não tem a responsabilidade de gerir os custos que a imigração também representa. Fala quem tem experiência de lhes cobrarem. Aliás, Portugal nunca foi, historicamente, país de grande acolhimento e muito mais um país de expatriação, pelo que seria prudente evitar discursos fáceis.

Finalmente, a questão ecológica, que faz genuinamente parte da agenda europeia, japonesa e da Commonwealth como em nenhuma outra zona, o mais provável é que a população dos USA esteja tão dividida como a dos países sul-americanos para não falar do resto do mundo. O problema é que, na maioria das vezes, a comunicação social se faz unicamente eco dos ambientalistas e não tem uma palavra para os «perdedores» da globalização tão badalados noutros casos. Uma vez mais, Trump está do ‘lado errado’, mas não é certo que não tenha com ele a maioria das múltiplas populações do mundo, embora estas não tenham acesso à «mídia».

A mim, também não me agrada a ideia de ter Almaraz por perto, mas onde é que Portugal irá buscar energia quando não chover ou não tiver dinheiro para pagar a energia solar ou eólica?

Alguém fez as contas? O governo parece que sim, pois votou pelo acordo ecológico mas engoliu a continuação de Almaraz… Só é diferente de Trump na retórica! Uma coisa é certa: a demagogia, seja populista ou elitista, não vai resolver problema algum da atual desordem internacional. Quanto às soluções proclamadas pela comunicação social dita de referência, o certo é que não só não convencem toda a gente como, se porventura tais soluções dão de comer a alguém, não é a todos. Entretanto, a guerra civil entre o bem e o mal está ao rubro. Resta saber onde estão um e outro em cada altura.
Título e Texto: Manuel Villaverde Cabral, Observador, 28-5-2017

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