Manuel Villaverde Cabral
Uma coisa é certa: a demagogia, seja
populista ou elitista, não vai resolver problema algum da atual desordem
internacional. Entretanto, a guerra civil entre o bem e o mal está ao rubro.
Há pouco mais de um ano,
chamei a atenção para aquilo que já era óbvio: a desordem internacional reinante. E nessa altura Donald Trump ainda não tinha chegado
à presidência dos Estados Unidos nem Erdogan proclamara uma ditadura islâmica
na Turquia, isto é, às portas da Europa, para não falar de aparentes
trivialidades como a guerra civil latente na Venezuela e a derrocada final do
regime oligárquico em que o Brasil degenerou sob a populismo despesista do PT,
para mencionar apenas países de algum peso à escala mundial…
Guerras já havia, declaradas
ou não, e neste clima só podem continuar, como a guerra que o terrorismo
islâmico move diariamente contra a Europa que o deixou medrar dentro de si. Não
é, pois, de admirar que a desordem internacional se tenha multiplicado e esteja
hoje ao rubro. Exemplo flagrante disso foi a reunião no fim de semana passado
do chamado G7, com os murros na mesa que o Sr. Trump não é capaz de deixar de
dar!
Isto, infelizmente, é o que
caracteriza o novo presidente norte-americano, cujo impeachment ainda
está para tardar, apesar do que anda a dizer a mesma «media» nacional e
internacional, erradamente ou não, como já errou de mira nas eleições
presidenciais norte-americanas de 2016. A grande comunicação social
internacional, de que o Financial Times é porventura o melhor exemplo, ainda
não percebeu que, quanto pior diz de Trump, mais os seus eleitores e apoiantes
pelo mundo fora acenam com a cabeça mas arriscam-se a pensar o contrário sem o
confessar!
À força de repetir os mesmos
lugares-comuns, a «media» acaba por acreditar neles, mas nada tem a dizer
quando Trump repete na Europa o que dissera alto e bom som, dúzias de vezes,
acerca do facto de quase nenhum dos países da NATO pagar a quotização de 2% do
PIB a que está obrigado. Na véspera da cimeira do G7, um dos editorialistas do
Público escrevia cheio de boa-consciência que «a aliança política, militar e
económica do mundo livre pode bem vir a fazer falta aos Estados Unidos», mas
pelos vistos não se lembrou do que nós lhes devemos desde a 2ª Guerra Mundial
sem pagar as quotas à NATO!
Provavelmente, Trump não
estava a pensar no minúsculo Portugal quando se queixou de que os USA pagavam
para a NATO muito mais do que todos os outros países juntos, mas a verdade é
que nós somos «caloteiros» contumazes como a esmagadora maioria dos outros membros da aliança. Se
Portugal pagasse o que deve, o nosso défice do ano passado ficava acima dos 3%.
Isto é o que o presidente da República e o governo não dizem nem a «media» está
interessada em divulgar.
Assim, não admira que não haja
ordem entre os parceiros quanto mais entre os adversários de morte da Europa,
como se tornou a Turquia, pela qual passa agora o corredor que vem dos países
do Médio Oriente em guerra religiosa fratricida e sanguinolenta que não atende
a fronteiras em grande parte artificiais. E a Europa que receba os refugiados.
É certo que os imigrantes vindos da América do Sul que Trump pretende impedir
de entrar nos USA são diferentes dos do Médio Oriente e da África do Norte.
A verdade, porém, é que os
países europeus não têm muito mais argumentos do que Trump para lhes abrir ou
fechar as portas além do que sentem as opiniões pública. E estas adivinham-se
bem mais complexas do que apregoa quem não tem a responsabilidade de gerir os
custos que a imigração também representa. Fala quem tem experiência de lhes
cobrarem. Aliás, Portugal nunca foi, historicamente, país de grande acolhimento
e muito mais um país de expatriação, pelo que seria prudente evitar discursos
fáceis.
Finalmente, a questão
ecológica, que faz genuinamente parte da agenda europeia, japonesa e da
Commonwealth como em nenhuma outra zona, o mais provável é que a população dos
USA esteja tão dividida como a dos países sul-americanos para não falar do
resto do mundo. O problema é que, na maioria das vezes, a comunicação social se
faz unicamente eco dos ambientalistas e não tem uma palavra para os
«perdedores» da globalização tão badalados noutros casos. Uma vez mais, Trump
está do ‘lado errado’, mas não é certo que não tenha com ele a maioria das
múltiplas populações do mundo, embora estas não tenham acesso à «mídia».
A mim, também não me agrada a
ideia de ter Almaraz por perto, mas onde é que Portugal irá buscar energia
quando não chover ou não tiver dinheiro para pagar a energia solar ou eólica?
Alguém fez as contas? O
governo parece que sim, pois votou pelo acordo ecológico mas engoliu a
continuação de Almaraz… Só é diferente de Trump na retórica! Uma coisa é certa:
a demagogia, seja populista ou elitista, não vai resolver problema algum da atual
desordem internacional. Quanto às soluções proclamadas pela comunicação social
dita de referência, o certo é que não só não convencem toda a gente como, se
porventura tais soluções dão de comer a alguém, não é a todos. Entretanto, a
guerra civil entre o bem e o mal está ao rubro. Resta saber onde estão um e
outro em cada altura.
Título e Texto: Manuel Villaverde Cabral, Observador,
28-5-2017
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