Luis Dufaur
Ingrid Riocreux, professora na
Universidade da Sorbonne, Paris
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A professora da Sorbonne
Ingrid Riocreux lançou o livro La langue des médias, destruction du
langage et fabrication du consentement (A língua da mídia. A
destruição da linguagem e a fabricação do consenso, Editions du Toucan, 336
páginas).
Ela foi entrevistada pela BSC News e descreveu seu itinerário intelectual. Quando
ditava cursos de retórica para futuros jornalistas na Sorbonne, optou por
haurir exemplos da mídia mais acatada.
Ela foi a primeira a ficar
surpresa, porque se deparou com um modo de falar típico dos jornalistas. Esse é
construído com fórmulas feitas, com uma sintaxe e slogans que embutem um
“pré-pensamento” que condiciona a intelecção dos leitores.
A professora Ingrid se
considera membro da “geração 21 de abril” de 2002, data em que o candidato da
direita Jean Marie Le Pen tirou do segundo turno o candidato socialista Lionel
Jospin.
Naquela época, ela não se
interessava pela política e não sabia o que tinha acontecido. Mas subitamente
deparou-se com seus colegas de estudo em crise, chorando e deblaterando contra
os “cúmplices do fascismo”. “Le Pen – esbravejavam eles – é como Hitler!”
E Ingrid achou que esse modo
de reagir era abusivo e bestificante. Ela percebeu algo profundamente errado na
linguagem da mídia, que determinava reações mal encaixadas. A singularidade do
fato lhe entrou pelos olhos e ela começou a refletir.
Agora que é professora na
famosa Sorbonne, conclui que a mídia está continuamente querendo impor às
pessoas o que estas têm que pensar sobre este ou aquele assunto.
A grande mídia quer definir qual
é o pensamento autorizado e qual não, no fundo e na forma.
A professora então quis abrir
os olhos dos alunos, mas estes lhe respondiam: “Na televisão, eles falam desse
jeito”.
Ingrid percebeu que falava
para jovens criados sem pensamento crítico. Eles reagiam como que hipnotizados
pelos slogans da grande mídia. E sobre assuntos tão diversos como imigração,
mudanças climáticas, condições das mulheres, pedagogia, costumes, direitos
humanos, etc.
Essa ideologia não se reduz à
doutrina deste ou daquele partido, mas funciona como um dogma. Todo o mundo tem
que acertar o passo com ele, ainda que só na aparência, de medo a ser excluído
do convívio.
Em poucas palavras, uma
Inquisição que reprime o pensamento individual e pune quem viola o dogma por
ela concebido.
Inquisição que reprime quem
pensa diferente e, por esse crime, põe em perigo a submissão universal ao dogma
oficial midiaticamente definido.
‘A língua da mídia, a destruição
da linguagem
e a fabricação do consenso’, o livro de Ingrid Riocreux.
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É uma polícia do pensamento
que não condena à morte quem julga por si próprio, mas exige que cada indivíduo
se humilhe, recite seu ato de contrição para poder fazer uma vida normal.
Se o dissidente continuar com
ideias próprias, ele passará a ser desacreditado e tudo o que diga será
recebido com derrisão por princípio.
Essa Inquisição midiática
emite condenações morais. Quem não pensar como ela será acusado de racista, de
“extremista de direita” – no Brasil, de “tefepista” – e condenado a um exílio
intelectual.
Essa Inquisição – o IV Poder
referido por Carlos de Laet – passa por cima das fronteiras políticas. Ele funciona
como o regente da consciência dos indivíduos e das coletividades, da moral, do
senso do bem e do mal – aliás, ateu – da nossa época.
Para a professora da Sorbonne,
há uma conduta totalitária dos jornalistas vão atrás dos “desvios” daqueles que
não afinam com a onipresente Inquisição.
Isso já é ensinado nas escolas
de jornalismo, com senhas identificadoras e sistemas de pressão enormes.
Mas hoje atingimos o fundo do
poço. Então, falar que a opinião pública se desinteressa do que diz a mídia é
pouco.
Hoje há uma desconfiança em
relação à mídia, observa a professora da Sorbonne. De onde ser até negócio para
um político fazer-se detestar por grandes grupos informativos e aparecer como
alvo da imprensa.
Trump se fez eleger em grande
parte com esta estratégia. Hoje a mídia adotou o método do tiro pela culatra:
quando mais elogia alguém, mais o afunda, e quanto mais o critica, mais o faz
subir, ainda que não o queira.
Chega-se assim ao fenômeno das
chamadas “mídias alternativas” ou “não conformistas” que, falando através de
blogs, sites caseiros ou redes sociais gratuitas, tiram um enorme benefício.
O público que não confia na
grande mídia vai procurar a informação nessas “mídias alternativas”, as quais
até geram outros problemas ao inspirarem excessiva confiança. Mas,
independentemente das críticas que lhe possam ser feitas, o Davi “alternativo”
está jogando por terra o “Golias” macromidiático.
Ingrid recomenda uma sã
desconfiança em relação a qualquer fonte de informação e um estímulo ao
espírito crítico.
A professora da Sorbonne
conclui que há “um verdadeiro menosprezo da grande mídia por todos nós. Ela [a
mídia] aborrece essa gentalha [nós], que considera retrógrada e temerosa,
reacionária face ao progresso e minada pelas más inclinações (conservadorismo,
etc.)”.
“A mídia considera um dever
corrigir nossa natureza vilã, e quer nos reeducar”.
A tirania da imprensa
segundo Carlos de Laet. Um texto histórico
O grande pensador católico
Carlos de Laet, Presidente da Academia Brasileira de Letras, em conferência
feita no dia 8 de maio de 1902, no Círculo Católico da Mocidade do Rio de
Janeiro:
“Tirania da imprensa! Sim,
tirania da imprensa… Agora está lançada a palavra, le mot est lancé…
Nescit vox missa reverti, não volta atrás o que já se disse, e remédio não
tenho senão justificar a minha tese.
Senhores, uma das grandes
singularidades dos tempos atuais, é que os povos vivem a combater fantasmas de
tiranias, e indiferentes às tiranias verdadeiras.
As evoluções derribam
monarcas, que às vezes são magnânimos pastores de povos.
Antigamente cortavam-lhes
as cabeças, mas hoje nem sequer essa honra lhes fazem: contentam-se com
despedi-los, fazem-nos embarcar a desoras, porque sabem que já poucos são os
reis cônscios da sua missão providencial e do seu dever de resistência…
Por outro lado, apregoa-se
a tirania do capital; e, adversa a todo capitalista e a cada empresário, está
uma turba fremente preste a tumultuar, quando julga menoscabados os seus
direitos…
E, todavia, senhores, o
povo ainda não compreendeu que uma das maiores tiranias que o conculcam é a da
imprensa; e, longe de compreendê-lo, antes a reputa uma salvaguarda dos seus
interesses e a vindicatriz de seus direitos. É contra este sofisma que ora me
insurjo.
Que é tirania, senhores?
Omnis definitio periculosa, diziam
os escolásticos; mas creio não errar definindo tirania o indébito e
opressivo poder exercido por um, ou por poucos, contra a grande maioria dos seus
conterrâneos.
Ora, esta definição maravilhosamente quadra ao chamado poder da imprensa.
Ora, esta definição maravilhosamente quadra ao chamado poder da imprensa.
Sim, ela é o poder
de poucos sobre a massa popular.
Contai o número imenso de
homens que não figuram, que não podem figurar na imprensa, uns porque lhes
faltam aptidões, outros por negação a esse gênero de atividade, outros porque
não têm dinheiro ou relações que lhes abram as portas dos jornais.
Contai, por outra parte, o
minguado número de jornalistas, – e dizei-me se não se
trata de uma verdadeira oligarquia, do temeroso predomínio de um pugilo, de um
grupinho de homens sobre a quase totalidade dos seus concidadãos.
E que poder exerce esse grupo minúsculo? Enorme.
E que poder exerce esse grupo minúsculo? Enorme.
A imprensa pode,
efetivamente, influir no governo de um país, constituindo aquilo que já se
chamou o quarto poder do Estado”.
(O frade estrangeiro e
outros escritos, Edição da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 1953,
pp. 80-81).
Título, Imagens e Texto: Luis Dufaur, Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, 19-5-2017
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