Carlos Lira
Vamos, prossigamos a vida
vivendo,
Não chores o teu passado
revendo,
não chores...
A infância está perdida nas
brumas da memória,
virou história, lágrima
inglória esta tua de agora,
em boa hora te digo: tua
mocidade perdida está,
mas a vida viva está, rediviva
não se perdeu.
Tudo é passado: o primeiro
amor amado,
o segundo amor sonhado,
o terceiro desejado...
Só não passou o rio da minha
infância,
da minha querência, do meu
porvir...
Ipojuca é seu nome, codinome
pântano,
Quando de tempos em tempos
fica secado,
Esquecido, nem lembrado pela
gente a seu redor...
Ibupiara não perdoa, se
revolta, se contorce,
maldizente abre as comportas e
de muita água o rio banha,
verdadeira façanha de um deus
revoltado...
Iraci resiste toda aquela
trama, em alta proclama,
em voz firme aplaina aquele
ódio de um deus vingativo,
muita água, muito medo,
ribeirinho retirante,
se ficar morre, se correr
tudo perde,
até o Ipê não mais floresce
neste tempo de perdição,
Iúna nem mais resiste, perde a
força e Iriri nem aparece,
Ipojuca, rio da contradição...
Quando Iraci voeja e Irecê
ostenta peixinhos e piabas,
a calma se assenta, o deus
oferece fartura,
frutos, flora, flores,
verdura, o milharal floresce...
Ipojuca, o rio de minha
lembrança,
vida que segue, meu coração
continua,
saudade perpetua o rio do meu
viver...
Em muitas partes da vida
sofremos perdas:
melhor amigo morreu, nenhuma
viagem aconteceu,
nada de casa, terra, dinheiro
e nem companheiro.
Algumas palavras duras
escutaste,
dores que não cicatrizam,
injustiça insolúvel.
A sombra de um mundo cruel,
tentaste um protesto,
e muitos outros virão...
Tudo somado, consumado num
desvario insano,
do Ipojuca a lembrança,
precipitar-se de vez, nas águas revoltas,
nu na areia ou na lama, na
chuva, no vento,
em pensamento, junto ao rio
consigo estar...
Descansa em santa paz meu
Ipojuca amado...
São José teu sono vela...
Carlos Lira,
29-5-2017
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