João Pereira Coutinho
Quando Passos afirma que o governo atual
copia o modelo do anterior, ele não se engana nem engana ninguém. Mas quem o
ouve? Não o partido. Não os jornalistas. Muito menos as multidões enlouquecidas
que se reúnem no Marquês ou no aeroporto de Lisboa.
TENHO ANDADO a pensar em Pedro Passos Coelho. Inevitável. A visita
do Papa foi um sucesso? Passos Coelho. O Benfica ganhou o tetra? Passos Coelho.
Uma canção portuguesa venceu a Eurovisão? Passos Coelho. E quando eu julgava
que a tareia tinha terminado, eis a economia a crescer com vigor no primeiro
trimestre. A sério: se o homem não é um mártir, quem é?
Sou insuspeito: critiquei o
seu governo na altura própria. Mas, na altura própria, saudei o seu principal
feito: ter arrancado o País da bancarrota socialista. O País, reconhecido,
deu-lhe uma vitória nas legislativas. Mas sem maioria no parlamento, que fazer?
Paulo Portas, que não nasceu
ontem, percebeu o que aí vinha e saltou do barco. Passos Coelho esperou: que a
estratégia de Costa e Centeno levasse o barco para o iceberg. Houve sinais.
Mas, aos primeiros sinais, Costa e Centeno abandonaram a velha rota e optaram
por outra mais velha ainda: uma economia assente nas exportações e no
investimento, não no consumo interno, que, aliás, desacelerou.
Quando Passos afirma que o
Governo atual copia o modelo do anterior, ele não se engana nem engana ninguém.
Mas quem o ouve? Não o partido. Não os jornalistas. Muito menos as multidões
enlouquecidas que se reúnem no Marquês ou no aeroporto de Lisboa para
bebedeiras coletivas com os feitos alheios.
Eu, se fosse o dr. Passos,
esquecia a política por uns tempos. E aproveitava a onda patrioteira para
regressar às origens. Com uma voz de barítono que não envergonha ninguém,
tentava o festival do próximo ano. Para regressar em grande, já não basta
falar. É preciso cantar.
Título e Texto: João Pereira Coutinho, SÁBADO, nº 681, de 18 a 24 de maio de 2017
Digitação: JP
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