Vitor Cunha
Uma das ocupações em alta, das
que tem vindo a ter mais saídas profissionais, é a de comentador de terrorismo
islâmico (uma redundância). Trata-se de uma ocupação que consiste em explicar
as motivações dos terroristas, coisa que se obtém através de anos de estudo em
ciências sociais e teorias de género pós-feministas e humanitárias,
competências adquiríveis, por exemplo, através do programa de doutoramento em
estudos feministas no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Outro meio para a aquisição de competências na área da compreensão das
motivações dos terroristas é ser um idiota chapado, coincidentemente, um dos
requisitos não mencionados para a admissão ao programa de doutoramento
mencionado.
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Manchester Arena, photo: Jon Super/Reuters |
Nas televisões e nos jornais,
como cogumelos, brotam do húmus inúmeros especialistas em especialidades que
juram a pés juntos — evitando assim expor o heteropatriarcal sexo biológico,
uma aberração da natureza — que o mundo ocidental é culpado, por infortúnio de
inúmeros pecados, de fomentar a carnificina de multidões indiscriminadas, gente
que o terrorista não conhece, logo, pessoas dotadas apenas de uma espécie de
Pecado Original que os torna indiscutíveis culpados e candidatos admissíveis
para uma gloriosa matança.
Outros, mais sofisticados que
os anteriores, tal como o caracol é uma evolução da lesma desprovida de
carapaça, salientam, inclusivamente, dois factos que deixariam as mães hippies
orgulhosas com tamanho brilhantismo:
1) havia mais terrorismo na
Europa nos anos 70, mérito dos revolucionários marxistas, gente simpática que,
talvez por fraqueza, evitava a carnificina de crianças;
2) os terroristas islâmicos
são habitualmente nativos do país onde a matança ocorre, daí que nada disto
tenha a ver com fronteiras e políticas de emigração, como que sendo o problema
mais difícil de combater do que através de simples fecho de fronteiras seja
motivo para regozijo. Que alegria: o terrorista tem passaporte inglês, é meu
vizinho, não é um estrangeiro desconhecido!
Em qualquer dos casos, é
sempre necessário salientar que o Islão não tem nada a ver com terrorismo, tal
como uma prostituta não tem nada a ver com gonorreia: são coisas distintas e é
possível ser um devoto muçulmano sem ser terrorista, tal como, como já
verificamos, também é possível ser um idiota chapado e doutorado ao mesmo
tempo. Importante é referir que todas as religiões são uma porcaria, umas mais
que as outras, por motivos culturais. Cristãos e judeus são reles, muçulmanos
são apenas pessoas num processo de evolução igualitário, vítimas de opressão
heteropatriarcal e, como tal, passíveis de compreensão quando se rebentam
matando crianças e adultos de castas reles. Importante é combater as fobias, as
xeno-, as homo-, as multi-, nem que para isso seja necessário fechar os olhos
ao próprio atentado (não é xenofobia?), às execuções de homossexuais (não é
homofobia?) e ao triste destino dos depósitos de esperma a que chamam mulheres
por estes libertadores da opressão mundial a que erradamente chamamos
terroristas (não é misoginia?).
Como diz o nosso Querido
Líder, “por cada atentado realizado, dez são evitados”. Isto é verdade, tal como é
verdade que por cada palerma que “compreende os terroristas” há dez pessoas
dispostas a pagar-lhe o bilhete de ida para Mosul.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias,
24-5-2017
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