Cesar Maia
1. A principal característica das gigantescas mobilizações nas
ruas, em 2013, foi a proibição da presença de símbolos partidários, bandeiras,
carros de som e políticos. Alguns políticos que se aventuraram a aparecer
discretamente, mesmo que por um tempo mínimo, para tirar fotografia para as
suas redes, receberam uma enorme vaia. Era proibido políticos subirem no carro
de som e fazerem discurso. Quem tentou, desceu rapidinho debaixo de vaias.
2. Em seguida, seminários, palestras e opiniões de analistas, intelectuais
e políticos procuraram caracterizar aquelas massas mobilizadas como fascistas
de classe média. Naquele momento, sem se darem conta, estavam dividindo as
ruas, ou melhor, estavam construindo duas ruas: a rua dos sindicatos e partidos
políticos ditos de esquerda e a rua da antipolítica e das redes sociais.
3. Dias atrás, após a divulgação e a enorme repercussão das
delações dos donos e executivos da JBS, veio como desdobramento a convocação
pelos partidos ditos de esquerda e centrais sindicais para um protesto nas
principais cidades do país, com as palavras de ordem ‘Diretas Já’ e ‘Fora Temer’. As mobilizações foram pífias e as duas
maiores mal atraíram de cinco a dez mil pessoas.
4. Em seguida, foi convocada - outra vez pelos partidos ditos de
esquerda e centrais sindicais, CUT na frente - uma manifestação em Brasília
para atrair pessoas de todo o Brasil, diretamente ou com aluguel de centenas de
ônibus. As palavras de ordem eram as mesmas: ‘Diretas Já’ e ‘Fora Temer’.
5. Deputados e Senadores, ditos de esquerda, tentaram obstruir e
fechar as sessões na Câmara de Deputados e no Senado. Não conseguiram.
Avaliações sérias e impessoais mostraram que, nas ruas, conseguiram mobilizar trinta
e cinco mil pessoas, se tanto.
6. E, para piorar, grupos radicais assaltaram ministérios num
quebra-quebra que não foi impedido pelos líderes da manifestação e até
produziram exaltação e apoio. Naquele momento, o presidente Temer, em edição
extra do Diário Oficial, convocou o Exército para impedir a violência e as
depredações.
7. Com a presença do Exército, o quebra-quebra foi interrompido num
passe de mágica. Voltou tudo à normalidade. No outro dia, a mídia abriu seus
espaços para análises dos fatos, por juristas, intelectuais e políticos.
Formou-se - na mídia - um consenso que a convocação do exército era uma medida
de exceção, fazendo coro com os manifestantes e parlamentares exaltados da
véspera.
8. Os institutos de pesquisa que fizeram aferições, sem fechar
pesquisa completa, se surpreenderam ao ver que uma enorme maioria das pessoas
aprovou a convocação do Exército. Um dos analistas desses institutos disse que
não havia por que se surpreender, pois todas as pesquisas de avaliação das
instituições davam sempre o Exército e a Igreja em primeiro lugar. E completou
lembrando que as pesquisas sobre o próximo presidente mostram isso claramente.
9. Da mesma forma, levantamentos feitos nas redes sociais, nos dias
seguintes, apontaram na mesma direção. Ou seja, um enorme apoio à presença do
Exército inibindo a violência na manifestação de Brasília. Os polos que têm
estimulado manifestações nas ruas através das redes sociais mantiveram-se
calados. A razão de fundo era e é não engrossar o caldo de partidos ditos de
esquerda e centrais sindicais.
10. E parafrasearam nas redes: "Essa não é a nossa rua".
E se gabaram: “Eles (partidos ditos de esquerda e centrais sindicais) não têm
mais força de mobilização, não colocam nas ruas nem 5% do que colocamos”.
11. E, nessa lógica, mantiveram a mobilização nas ruas virtuais,
nas redes, esperando o melhor momento para convocar para as ruas reais e
mostrar que a voz do Povo já é outra.
12. Agora é aguardar e acompanhar.
Título e Texto: Cesar Maia, 30-5-2017
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