Cesar Maia
1. Análises realizadas anos atrás por pesquisadores da Universidade
da Califórnia mostraram, através de estudos econométricos e de correlação, que
a curva de ascensão do PT e sua representação parlamentar tinha basicamente
Lula como fator explicativo.
2. Após o afastamento de Dilma por erros graves de direito, restava
ao PT a explicação para o impeachment ter sido um golpe branco e passaram a
bradar em concentrações e em plenários dos legislativos – federal, estaduais e
municipais - a palavra de ordem: “golpistas”.
3. E o objetivo dos “golpistas” era atingir Lula. Suas palavras de
ordem terminaram por produzir algum descolamento entre Lula e Dilma. As
pesquisas registraram este descolamento, com Lula mantendo um patamar entre 25%
e 30% de intenções futuras de voto.
4. A rejeição a Lula (não votaria de jeito nenhum) ficava situada
no patamar dos 50%, basicamente o mesmo do presidente da República e do
presidente do PSDB. A base de apoio ao governo foi atraída pela antipolítica,
buscando um nome fora da política, ou um “político novo”. Ilusão treda.
5. Aquela dinâmica caminhava para uma enorme probabilidade de Lula
no segundo turno. A base do governo reagia, dizendo: quem for com ele para o
segundo turno vence a eleição.
6. A construção de uma rede internacional de palestras de forma a
que Dilma se apresentasse tentando caracterizar o “golpe branco” foi sendo
ampliada. E, com isso, o batido discurso de vitimização de Lula ganhou alguma
expressão.
7. Dessa forma, a batalha parlamentar de obstrução, por oposição
significativamente minoritária, ganhou algum respaldo nos antes debilitados
movimentos sociais, especialmente nas corporações. Um artigo da chamada reforma
trabalhista -o término da contribuição sindical compulsória, que ainda depende
do Senado- caminha para abalar a base financeira do corporativismo.
8. A obstrução parlamentar, com algum movimento nas ruas, foi sendo
adensada politicamente. Até o cara a cara entre Lula e Moro, com Lula fazendo
de sua defesa jurídica seu discurso para Moro. Apesar do cinismo de algumas
respostas, Lula saiu vivo, mesmo que cambaleante, do depoimento prestado.
9. Mas, em seguida, a delação premiada dos marqueteiros de Lula e
Dilma foi mortal. Os marqueteiros vivem, nas campanhas, a intimidade dos
candidatos. O Documentário “Entre Atos” mostra isso claramente. E no caso de
Lula/PT/Dilma foi um ciclo de 20 anos, acentuando a intimidade.
10. Dilma perdeu o argumento que usava sempre, que o impeachment
por mais razões tecno-jurídicas que o justificassem não atingia a aura de
honestidade que era repetida à exaustão. As delações de João Santana e,
especialmente, de Monica Moura desintegraram esse argumento. Com isso, o
impeachment, além das razões jurídicas, passou a ter uma amplíssima base de
legitimação.
11. E Lula, que se colocava à margem dos problemas, como líder
popular, e sua equipe que criticava duramente o PowerPoint dos procuradores da
Lava-Jato, mergulhou diretamente na circunferência que o mostrava como
consciente e operador de tudo. Assim desintegrou-se inteiramente a última boia
de sustentação política de Lula e do PT.
12. Se a tática usada desde o impeachment era a obstrução mais
palavras de ordem, agora a única tática passa a ser a Obstrução Desesperada. E
essa Obstrução Desesperada, com os últimos fatos, e a correspondente
deslegitimação dos argumentos de Lula e Dilma, inevitavelmente diluirá a base
sobrevivente de apoio político e parlamentar. O Desespero retórico e obstrutivo
de uma minoria é que se fará presente - daqui para frente.
Título e Texto: Cesar Maia, 16-5-2017
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