Nova lei antitabaco altera hábitos dos espanhóis

Catarina Reis da Fonseca

Entrou ontem em vigor uma nova lei que vai transformar Espanha num país livre de fumo em praticamente todos os espaços públicos fechados.

Se para a grande maioria da população esta medida significa evitar problemas de saúde e chegar a casa sem o cheiro a tabaco na roupa, para os dez milhões de fumadores do país, o decreto-lei aprovado a 21 de Dezembro no Parlamento vai obrigar a uma profunda mudança de hábitos.

A lista de locais onde se pode fumar é reduzida: domicílios particulares, ruas onde não existam zonas infantis por perto, acessos às universidades, centros psiquiátricos, terraços, zonas abertas de estádios e praças de touros e prisões. Em estações e aeroportos, por exemplo, as zonas para fumadores vão ser eliminadas e só poderá acender-se um cigarro em zonas ao ar livre.

Fumar num local proibido será considerada uma transgressão leve, sendo que a multa poderá atingir os 30 euros. Mas o valor aplica-se apenas em casos isolados. Se a má conduta se repetir por três vezes, a transgressão será considerada leve e a pessoa será obrigada a pagar entre 600 e cem mil euros. No que diz respeito aos donos de estabelecimentos que não cumpram a lei, a multa pode chegar aos 600 mil euros, já que devem ser estes os primeiros a zelar cumprimento da lei.

Ontem, inúmeros bares e restaurantes começaram a afixar as placas indicativas da proibição.

"Esta medida é estúpida, deviam instalar zonas de fumadores", queixava-se ontem Carlos Montesinos, um cliente do café San Milan, no coração do bairro madrileno La Latina.

O sentimento era partilhado por um outro fumador, Rosa Atienzo, de 50 anos, que disse à AFP que considera a nova lei "demasiado dura."

Mas as manifestações de contentamento foram muitas. Foi o caso do dono do café del Almirante, em Madrid, Teodoro Escribano, que expressava a sua felicidade à agência francesa: "Aplicámos a lei à meia-noite, mas eu nunca fumei na vida. Estou encantado. Já deviam ter introduzido esta lei há 50 anos", afirmou o proprietário de 61 anos, que até ontem tinha de trabalhar de manhã à noite num espaço coberto por uma espessa nuvem de fumo.

Num país onde morrem cerca de 160 fumadores por dia, os médicos vêem esta medida como uma oportunidade para fazer baixar o número de pessoas que consomem tabaco. Esta dependência faz com que os fumadores homens percam, em média, 14,5 anos de vida, enquanto as mulheres perdem 13,2 anos.

A nova medida é uma das mais restritas da Europa e entrou em vigor sete anos após a Irlanda se ter tornado no primeiro país a banir o tabaco em locais públicos. A batalha pela proibição em Espanha arrastava-se há já 15 anos.

Catarina Reis da Fonseca, Diário de Notícias, 03-01-2011

Penso que vá ser dramático, haja vista que o povo espanhol fuma muito!...